À procura de talento? Contrate-o pelo mundo fora. Eles tratam de tudo
Criada em Portugal, a Remote quer facilitar a contratação internacional, mediando os processos burocráticos entre as empresas, os contratados e as leis locais.
Tem uma vaga na sua empresa com escritório e sede em Lisboa. Conhece o candidato perfeito online. Ele vive do outro lado do mundo. Problema? Agora já não. Pelo menos, é isso que garante a Remote, uma startup portuguesa que quer resolver esse dilema. Como?
Comecemos pelo princípio. Marcelo Lebre e Job van der Voort conheceram-se por intermédio das respetivas mulheres, há mais de 10 anos. Na altura, o holandês estava a trabalhar como neurocientista na Fundação Champalimaud, enquanto o português trabalhava numa consultora.
“Demo-nos bem, temos visões e interesses pessoais semelhantes. E partilhámos sempre uma paixão grande pelo que fazíamos, perguntando-nos muitas vezes porque é que as pessoas não faziam mais vezes aquilo que gostam”, conta Marcelo Lebre à Pessoas. Essas semelhanças levaram a que, nessa altura, começassem a pensar num projeto comum, uma espécie de job board que cruzava pessoas à procura de algo que gostavam e de empresas em busca desses perfis. Apesar de o projeto ter terminado, motivou outra mudança: Job começou a dedicar-se à área de produto e a programar, voltou para a Holanda e começou a trabalhar, pouco tempo depois, para a GitLab, empresa que, desde o dia “um” não tem escritório, apesar de contar com uma equipa de mais de 1.000 trabalhadores distribuídos pelo mundo inteiro.
"As condições salariais, garantias e mais-valias locais são sempre garantidas pela Remote. Mesmo se a empresa desaparecer, o contrato garante que é pago tudo o que é devido.”
Apesar da distância geográfica, os dois amigos mantiveram o contacto e a conversa culminava sempre no mesmo ponto: quando voltariam a fazer alguma coisa juntos. Foi dessa vontade que nasceu um podcast sobre trabalho remoto. “No meio das pesquisas para encontrar convidados, começámos a discutir a necessidade no mundo de homogeneizar a forma como as pessoas eram contratadas, de criar uma forma legal e compatível com as normas dos governos locais, de contratar as pessoas que trabalhem remotamente”, recorda o português.
Há algum tempo a trabalhar nas mesmas empresas, sentiram que tinham encontrado algo que dizia muito a ambos. “Sabíamos, com a nossa experiência, que não devemos ir atrás dos pirilampos porque eles rapidamente se apagam e ficas no escuro. Mas tínhamos encontrado uma ideia com um princípio forte”, conta Marcelo. Esse foi o primeiro passo para, em dezembro de 2018, começarem a desenvolver o conceito da Remote. Na altura, ambos saíram das empresas onde estavam — Job na GitHub e Marcelo na Unbabel — para se dedicarem ao projeto, falar com investidores e “reparar que a necessidade e o interesse das empresas numa solução que permita isto é avassaladora”.
“Começámos a partir o problema da sua base: tenho uma empresa nos EUA e quero contratar uma pessoa em Portugal. Como faço? A partir daí, queremos resolver dois grandes problemas. Do lado das empresas, aumenta gigantemente a pool de recursos. Do lado das pessoas, dá condições para que as pessoas se foquem nos seus trabalhos, no que gostam de fazer, e garante um salário no final do mês”, simplifica Marcelo Lebre.
O empreendedor dá como exemplo o talento — e o preço deste — disponível em São Francisco, onde existe uma pool limitada de recursos, muita procura e preços exorbitantes. Deslocalizando essa pool — tornando a oferta mundial — abre-se o mercado a centenas de milhares de candidatos que podem viver onde lhes apetece, ganhar um salário acima da média nesses locais e resolver os problemas das empresas.
É essa ponte – entre a empresa interessada e o trabalhador remoto disponível – que a Remote se compromete. Como? Marcelo explica. “A Remote tem uma designação enquanto empresa mas, por baixo de tudo isto, somos um aglomerado de empresas. Temos uma entidade remote nos vários países onde estamos ativos”, detalha. Isso significa se uma multinacional norte-americana, por exemplo, quiser contratar um engenheiro ou um administrativo que trabalhe a partir de Portugal, a startup transforma-se no “facilitador” dessa relação, fazendo o match, simulando a operação para o futuro empregador saber exatamente as despesas em que incorre para contratar, segundo a lei local, um trabalhador – e possa fazer uma proposta com base nessa simulação – e tratando da papelada.
A base do contrato gerada é “sem termo, tipicamente”, para assegurar o “foco, que é o trabalhador”. “Este contrato é uma espécie de um aperto de mão entre duas partes mas celebra-se entre o trabalhador remoto e a Remote local. Ficamos também com um master service agreement, um contrato entre a Remote e o empregador, que prevê uma contratação de serviços. Por isso, quaisquer problemas por parte da empresa que contrata são resolvidos pelo intermediário. “As condições salariais, garantias e mais-valias locais são sempre garantidas pela Remote. Mesmo se a empresa desaparecer, o contrato garante que é pago tudo o que é devido”, assegura o fundador da startup. Garantida também é a comissão que a empresa recebe – 10% do custo do empregador – mensalmente.
"Este contrato é uma espécie de um aperto de mão entre duas partes mas celebra-se entre o trabalhador remoto e a Remote local. Ficamos também com um master service agreement, um contrato entre a Remote e o empregador, que prevê uma contratação de serviços.”
Com uma equipa internacional em expansão e, já com atividade em sete países – Portugal, Dinamarca, índia, Irlanda, Holanda, EUA (Califórnia) e Reino Unido – e planos de expansão para pelo menos mais 11 localizações ainda este ano, a Remote acaba de fechar uma ronda Série A de mais de 10 milhões de euros para expandir atividade e, como explica Marcelo Lebre, “fazer esta magia, país a país, trabalhando com as leis locais”. “Queremos que todo o processo seja 100% transparente e 100% legal. Queremos resolver estes problemas e permitir que as pessoas trabalhem remotamente sem necessidade de estarem a fugir e a encontrar estratagemas para o poderem fazer”, garante.
Com uma equipa de 20 pessoas espalhadas um pouco por todo o planeta, Marcelo ainda sonha com um mundo em que “estas pessoas, muitas delas desempregadas em resultado dos efeitos do coronavírus, podem ter acesso ao trabalho remoto para qualquer parte”.
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