Bolsa de Lisboa sobe 8% no trimestre, mas não apaga efeito do vírus. Europa ganha 13%
Bolsa de Lisboa fechou o segundo trimestre do ano em terreno positivo e com o maior ganho desde o início de 2019. A valorização foi, no entanto, inferior .face às restantes praças europeias.
A bolsa de Lisboa viveu, entre março e junho, o melhor trimestre desde o arranque de 2019. O PSI-20 valorizou 7,9% com a ajuda dos estímulos monetários e orçamentais e das primeiras medidas de desconfinamento, mas — tal como as restantes praças europeias — ainda não conseguiu limpar os efeitos do vírus. Para conseguir fazê-lo, será necessário evitar uma segunda vaga de coronavírus.
“A subida das bolsas está ligada à liquidez excedentária nos mercados monetários, mas também à inexistência de verdadeiras alternativas de investimento nesta fase. São esses dois fatores que parecem explicar o comportamento relativamente positivo das bolsas num contexto global tão negativo”, explica Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros ao ECO.
Com bancos centrais e governos a atirarem dinheiro às economias para tentar travar o impacto do vírus, o trimestre foi amplamente positivo. O PSI-20 ganhou 7,9% no total do segundo trimestre e fechou nos 4.390,25 pontos, após um deslize de 0,06% na última sessão do mês. Desde o primeiro trimestre de 2019 que o PSI-20 não subia tanto só num trimestre.
"A nível mundial, as bolsas parecem viver um pouco num mundo à parte. Ainda hoje [terça-feira], o BIS alertou para uma eventual complacência exagerada dos mercados face às circunstâncias que se vivem em termos económicos.”
No entanto, só o espanhol IBEX 35 ganhou menos: 6,5%. O pan-europeu Stoxx 600 ganhou 12,7% entre março e junho, naquele que foi o melhor trimestre em cinco anos. Já o alemão DAX avançou 24%, o holandês AEX somou 16%, o italiano FTSE MIB subiu 14% e o britânico FTSE 100 valorizou 9%.
E o impacto do vírus ainda está muito presente: o PSI-20 desvaloriza 15,8% no total do ano e o Stoxx 600 cai 13,3%. “As bolsas estão quase todas em terreno negativo em 2020, excetuando os índices tecnológicos”, aponta Garcia, acrescentando que “a nível mundial, as bolsas parecem viver um pouco num mundo à parte“. Várias instituições internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o Bank for International Settlements (BIS), têm alertado para um desfasamento entre as valorizações das bolsas e a recessão global esperada.
Recuperação europeia mais robusta que a portuguesa
Fonte: Reuters
Jerónimo Martins, grupo EDP e Novabase acima da linha de água
A generalidade da economia portuguesa está a ser afetada pela esperada recessão gerada pela pandemia de Covid-19 pelo que os analistas contactados pelo ECO não veem vencedores no índice. Mas apontam para os setores menos afetados pelas restrições à circulação. É o caso das telecomunicações — a Nos foi das cotadas que mais subiu no trimestre (25%) –, da energia — a EDP e a EDP Renováveis ganharam quase 21% cada — ou da tecnologia — com a representante Novabase a valorizar 14%.
João Calado, CFA, do BiG – Banco de Investimento Global nota que “os setores de retalho alimentar apresentaram uma maior robustez face por exemplo a empresas mais restringidas pelo distanciamento social ou pela queda da atividade económica internacional, que deprimiu os preços das matérias-primas”.
"A recuperação dependerá do controlo de uma possível segunda vaga e da disponibilização da vacina ou tratamento eficaz que permita uma retoma à normalidade da atividade económica.”
Apesar de a retalhista Jerónimo Martins ser a única cotada do PSI-20 que fechou o trimestre em terreno negativo (-2%), a quebra deve-se a uma correção já que, entre janeiro e março, a cotada também contrariou. No total do ano, a dona do Pingo Doce acumula um ganho de 5%. Juntamente com Novabase, EDP Renováveis, EDP e Pharol, a Jerónimo Martins está entre as poucas empresas do índice acima da linha de água em 2020. A concorrente Sonae ganhou 12% no trimestre, mas perde 29% desde o início do ano.
BCP perde 47% em 2019
Do outro lado, o BCP é a cotada mais penalizada. O único representante da banca no índice — um setor que foi chamado a responder à crise pandémica e cuja rentabilidade foi muito penalizada pelo vírus — já perdeu 46,75% do valor este ano, sendo que recuperou 2,4% no trimestre. Foi nesse período, a 14 de maio, o banco liderado por Miguel Maya chegou mesmo a tocar o mínimo histórico de 0,0846 euros por ação. Esta terça-feira, os títulos fecharam a valer 0,107 euros.
Também as características do negócio levaram as empresas mais exportadoras para terreno negativo, nomeadamente as dos setores do papel, petróleo e construção civil. A Semapa, a Navigator e a Mota-Engil perdem cerca de 40% no ano, apesar do ganho entre 3,5% e 6% no trimestre. A Galp subiu 7% no trimestre, mas recua 30% em 2019.
E agora? É grande a incerteza
Quanto ao futuro, é preciso primeiro que haja maior clareza quanto ao vírus e, consequentemente, ao impacto na economia. “Nos próximos trimestres será importante aferir, nas apresentações de resultados, qual o impacto da quarentena no segundo trimestre de 2020 e qual a situação financeira das empresas mais afetadas”, aponta o analista do BiG.
“A recuperação dependerá do controlo de uma possível segunda vaga e da disponibilização da vacina ou tratamento eficaz que permita uma retoma à normalidade da atividade económica“. O presidente da IMF concorda que a evolução dos mercados irá depender do rumo da pandemia a nível global, dos estímulos monetários e orçamentais.
Lembra, adicionalmente, a crescente importância do ambiente político global, que poderá impulsionar ou comprometer o sentimento dos investidores. “Temas como a guerra comercial entre EUA e China ou o Brexit estão por resolver, temos vindo a observar bastante agitação social globalmente e em novembro teremos as importantíssimas eleições nos EUA“, sublinha.
(Notícia atualizada às 17h30)
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