É uma “medida desastrosa”. Hotéis temem impacto da decisão do Reino Unido
O setor hoteleiro já antecipa a fraca procura de turistas britânicos pelo mercado português, depois da decisão do Governo britânico. Temem-se prejuízos avultados.
Já era esperado, mas até à última hora havia a esperança de que os rumores pudessem não se confirmar. Portugal ficou mesmo de fora dos corredores aéreos britânicos, uma decisão que foi já criticada pelo Governo, bem como pelas várias regiões do país, em especial a do Algarve. Com receio de que o regresso das férias obrigue a uma quarentena, os hotéis temem que muito não venham, agravando ainda mais a já de si difícil situação do setor. O Grupo Pestana teme o impacto, enquanto o Vila Galé fala numa “medida desastrosa”.
Exclusão “vai ter impacto”. País perde competitividade, diz o Grupo Pestana
“Claro que vai ter impacto”, começa por dizer José Theotónio, em declarações ao ECO. O CEO do Grupo Pestana mostra especial preocupação com o Algarve, o destino mais procurado do país para os turistas britânicos passarem férias. “Nesta altura do ano, o que tem mais impacto é o Algarve. Obviamente que esta decisão de deixar em especial o aeroporto de Faro fora dos corredores aéreos vai prejudicar o setor”.
José Theotónio refere que os operadores turísticos e as companhias aéreas britânicas “estavam a apostar muito em Faro” e, com esta decisão do Governo de Boris Johnson, essa tendência poderá reverter-se. “Vamos ver se continuam…”, aponta. Ao ECO, a easyJet já afirmou mesmo que poderá vir a ajustar a oferta de voos.
Apesar de acreditar que “muitos ingleses continuarão a vir” para Portugal, o CEO do Grupo Pestana admite que o país vai perder competitividade face a outros países europeus aos quais o Governo britânico não impôs restrições. E isso vai refletir-se na própria operação do Grupo. “Claro que terá impacto. Ainda por cima quando existem destinos concorrentes dentro dos corredores aéreos”, diz. “Foi uma decisão que não ajudou nada”.
“Medida desastrosa”. Vila Galé alerta para falta de confiança dos turistas
Para o CEO dos hotéis Vila Galé, esta decisão do Governo britânico trata-se de uma “medida desastrosa”, uma vez que vai afastar ainda mais britânicos de Portugal. “Não vai haver muitos portugueses a quererem ir de férias para o Reino Unido“, antecipa Jorge Rebelo de Almeida, em declarações ao ECO.
Contudo, analisando o cenário como um todo, o responsável hoteleiro salienta que, devido à pandemia, este ano há poucas pessoas que vão arriscar viajar. “As pessoas estão com medo e com dificuldades financeiras. E tudo o que atrapalhe mais, só vai complicar”, diz, referindo que “há muito menos gente a viajar” e que isso nota-se na taxa de ocupação dos hotéis Vila Galé, que tem sido “muito baixa”.
Jorge Rebelo de Almeida acredita que é tudo uma questão de confiança. E isso é algo que existe pouco atualmente. “Os ingleses fazem-nos muita falta, são muito importantes para nós. Mas as pessoas já estão com medo”, afirma, acrescentando que, “se houver mais empecilhos tipo quarentenas, vai tudo contribuir para reduzir o fluxo turístico”.
“Abrimos os hotéis todos, mas a ocupação está muito baixa. Abrimos para dar um sinal positivo, de confiança, e porque é bom para o nosso pessoal. Mas para nós, enquanto empresa, não adianta nada porque continuamos sem faturar nada de jeito. Mas para passar uma imagem de confiança ao mercado é preciso estar aberto e sofrer. E é o que estamos a fazer”, remata.
AHP aponta falta de informação. Vê prejuízos
Para a associação que representa o setor hoteleiro, a verdadeira questão por trás desta decisão do Governo britânico tem a ver com a informação passada pela comunicação social. “O que aqui pesou foi uma leitura muito generalizada e uma falta de informação da comunicação social”, diz ao ECO Raúl Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), acrescentando que “hoje em dia nos Governos, por mais amigos que sejam, o que pesa é a comunicação social”.
Por outro lado, Raúl Martins fala numa “decisão desajustada e desadequada”, porque “a região de Lisboa é relativamente vasta e o que se passa em termos de contágio é na periferia, onde não há turismo”. E volta a sublinhar a ideia inicial, referindo que notícias negativas que são publicadas lá fora pesam neste tipo de decisões. Para isso, tem uma solução: “Há que fazer com que os jornalistas estrangeiros visitem as zonas e percebam que Lisboa ou Cascais não têm esse tipo de problemas. Nosso Governo tem de trazer cá esses jornalistas”, sugere.
Para o setor hoteleiro, Raúl Martins antecipa, “naturalmente”, prejuízos. “O aumento de casos tem reflexo na Europa toda e as novas reservas que já estavam num bom número para o mês de junho caíram e não vão voltar”, nota o responsável da AHP, referindo que o Algarve é quem vai ter mais dificuldades em recuperar. “Para as empresas hoteleiras é mais um revês. Quando estávamos a ganhar um certo balanço em novas reservas, haver esta retração é bastante penalizador”, diz.
Ainda assim, Raúl Martins está confiante de que a decisão do Governo britânico possa ser revertida, porque também acredita que nos próximos dias os casos de coronavírus em Lisboa irão diminuir. Além disso, um ponto a favor do setor é o facto de muitos estrangeiros até preferirem outros meses para além da época alta. “Toda esta situação levou as pessoas a retardar o período de férias. E teremos certamente um setembro e outubro melhor do que expectativas. Claro que não tão bons como em 2019, mas penso que a recuperação em Lisboa e no Porto vai ser boa“, afirma.
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