Economia vai dar um trambolhão. PIB deve cair 13% no segundo trimestre
O segundo trimestre deste ano deverá ser o pior para a economia portuguesa durante a crise pandémica. Os analistas apontam para uma queda entre os 12% e os 15%.
É um dos números mais esperados e não por acaso levou o Instituto Nacional de Estatística (INE) a antecipar a sua publicação de 15 de agosto para esta sexta-feira: é a estimativa da contração do PIB no segundo trimestre, incluindo os meses de abril, maio e junho. Os economistas consultados pelo ECO consideram que este vai ser o pior período para a economia portuguesa durante esta pandemia. As previsões mais recentes apontam para uma quebra entre os 12% e os 15%.
No primeiro trimestre, o PIB contraiu 2,3%, em termos homólogos, e 3,8%, em cadeia (face ao trimestre anterior). Esta contração é fruto de apenas 15 dias de estado de emergência, com o dever geral de recolhimento, apesar de quase todo o mês de março ter sido já afetado pela pandemia pela forma como afetou as decisões da população. O estado de emergência continuou em abril e o confinamento manteve-se generalizado, apesar da gradual reabertura da economia em maio e em junho.
O segundo trimestre é, assim, afetado em muitos mais dias pela crise pandémica, antecipando-se uma contração bem mais expressiva do PIB, indicador que mede, em termos simples, os bens e serviços produzidos num determinado período. Ainda com pouca informação disponível, há consenso entre os economistas de que este deverá ser o pior trimestre para a economia portuguesa, com quebras superiores a 10% — as previsões mais recentes apontam para um ponto médio em torno dos 13%.
“Será seguramente o pior trimestre e será uma queda histórica“, assinala Rui Constantino, economista-chefe do Santander, ao ECO, ressalvando que tudo dependerá da evolução da pandemia, em particular durante o inverno. O banco prevê uma contração do PIB em cadeia (face ao primeiro trimestre de 2020) de 12 a 14%, com todas as componentes a serem afetadas de forma transversal. No consumo privado, a parte pior virá da “quebra fortíssima de bens duradouros, nomeadamente de automóveis”, e no consumo público (certos gastos do Estado) até pode haver uma aceleração, mas esta será incapaz de compensar os outros efeitos.
Do lado das exportações, o elo mais fraco foi o turismo onde se registou quebras de quase 100% entre os não residentes, antecipando-se um efeito líquido negativo no PIB pela via dos serviços. Quanto ao investimento, a maior quebra será nas máquinas e material de transporte, antecipa Constantino, admitindo que na construção essa queda possa ter sido “menos expressiva” porque o setor não parou em Portugal.
Essa “resistência” do setor da construção é também destacada por Pedro Braz Teixeira, diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade, que antevê uma queda trimestral do PIB de 12 a 15%. De resto, “ficou tudo parado e adiado“, diz ao ECO, referindo que “abril e maio foram péssimos” para o investimento, o consumo privado e as exportações, que não deverão ser “compensadas” pela quebra das importações.
Tanto a estimativa do Fórum como a do Santander apontam para valores semelhantes aos divulgados pelo NECEP (Católica Lisbon Forecasting Lab) no início deste mês. Os economistas da Católica antecipavam uma contração de 13% em cadeia no segundo trimestre. Ligeiramente acima está a estimativa do ISEG — que foi divulgada no início de junho — nos 15%, valor que apelidou de “economicamente insólito”. Contudo, tanto o ISEG como a Católica admitem que, num cenário mais grave que os dados não permitem confirmar já, a contração do PIB pode ter chegado aos 20%.
O Executivo não tem previsões específicas para cada trimestre, mas quando era ministro das Finanças, Mário Centeno chegou a admitir “uma variação homóloga de uma grandeza que será com certeza próxima de quatro, cinco vezes o máximo do que alguma vez vimos o PIB num trimestre em Portugal cair”. Esta afirmação resulta numa contração a rondar os 20%.
Para o conjunto do ano, o Governo tem uma previsão oficial de -6,9% para o PIB de 2020, segundo o Orçamento Suplementar. Contudo, segundo o Jornal de Negócios, o Ministério das Finanças está neste momento já a trabalhar com uma recessão de 9% este ano. Este número aproxima-se das previsões feitas recentemente pela Comissão Europeia (-9,8%), pelo Banco de Portugal (-9,5%) e pela OCDE (-9,4%).
Quebra será pior do que na Zona Euro?
Antes de se conhecer os dados de Portugal, já a Alemanha divulgou que a sua economia, a maior da Zona Euro, contraiu 10,1%, mais do dobro da maior registada durante a crise financeira e económica de 2008 e 2009.
Esta sexta-feira o Eurostat também divulgará a primeira estimativa do PIB da Zona Euro no segundo trimestre, que é uma média ponderada das economias que partilham o euro. A questão impõe-se: Portugal vai ter um desempenho melhor ou pior do que os seus parceiros europeus?
Para Rui Constantino é expectável que Portugal vá ter um desempenho pior do que o da Alemanha, tendo em conta o histórico de ambas as economias. “A estrutura da economia é determinante“, explica, assinalando as diferenças que existem entre os dois países, nomeadamente o peso do turismo que é superior em Portugal.
Já Pedro Braz Teixeira considera que Portugal vai ficar “relativamente perto da média da Zona Euro”, confiando na estimativa de contração de 13% do PIB da Zona Euro no segundo trimestre que foi divulgada pelo Banco Central Europeu (BCE).
Nos Estados Unidos, o Departamento do Comércio anunciou que o PIB contraiu mais de 30% no segundo trimestre, a maior queda desde a Grande Depressão do início do século XX, após uma quebra de 5% no primeiro trimestre. Na variação em cadeia do PIB, ou seja, do segundo trimestre face ao primeiro trimestre deste ano, a queda foi de 9,5%.
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