40% das exportações evaporam-se na pandemia. É a maior queda desde (pelo menos) 1996
As exportações registaram uma quebra histórica de 40% no segundo trimestre, superando a descida das importações. A quase paralisação do turismo foi determinante para este desempenho.
Por causa da pandemia, as exportações de bens e serviços registaram uma redução de 39,6% no segundo trimestre, o que corresponde a menos 9,2 mil milhões de euros de vendas ao exterior, de acordo com os cálculos do ECO com base nos dados históricos do Instituto Nacional de Estatística (INE). Esta queda, principalmente provocada pela quase paralisação do turismo, foi a maior desde (pelo menos) 1996, primeiro ano da série, representa o dobro da quebra da crise anterior e é possivelmente a maior da democracia.
A redução das vendas ao exterior, seja de bens seja de serviços como o turismo, foi responsável por 4,4 pontos percentuais da queda de 16,3% do PIB no segundo trimestre. Esse foi o contributo da procura externa líquida (exportações descontadas das importações) e é explicado por uma descida superior das exportações face às importações num momento em que a pandemia afetou todo o comércio internacional de bens e serviços.
O que explica a queda superior das vendas ao exterior, em relação às compras ao exterior? Segundo o INE, a forma como o vírus afetou as deslocações e o peso do turismo na estrutura das exportações: “Esta diferença de comportamentos é sobretudo consequência da forte contração da atividade turística na evolução das exportações de serviços“, explica o gabinete de estatísticas, destacando a “quase interrupção do turismo de não residentes”. Isto porque o vírus afetou mais as viagens de pessoas do que as de bens.
Exportações afundam 40% no segundo trimestre
Os números mostram isso mesmo: no segundo trimestre, as exportações de bens encolheram 30% enquanto o turismo continuou com quedas significativamente superiores a 50%, apesar da recuperação ligeira ditada pelos turistas residentes. As exportações de bens chegaram a ter quedas superiores a 30 e 40% em abril e maio, mas junho foi um mês de recuperação significativa. Já nos serviços as exportações recuperaram, mas muito menos.
Já no primeiro trimestre as exportações de bens e serviços tinham registado uma quebra de 4,9%, a maior desde o terceiro trimestre de 2009. Essa foi a primeira quebra após cerca de 40 trimestre consecutivos de crescimento das exportações em Portugal, sendo esta referida como uma das histórias de sucesso da recuperação económica da crise das dívidas soberanas. Na maior parte desse período, as exportações estiveram a crescer a um ritmo superior ao do PIB, ganhando “peso” na estrutura da economia portuguesa, mas agora essa tendência inverteu-se com as exportações a cair bastante mais do que o PIB.
Principais parceiros comerciais não dão ânimo
As contrações do PIB registadas pelos principais parceiros comerciais no segundo trimestre não dão ânimo às perspetivas para as exportações nacionais, que o Governo quer colocar nos 53% do PIB. Portugal registou a quarta maior quebra do PIB (-16,3%) entre abril e junho, ficando atrás de três importantes parceiros comerciais: Espanha (-22,1%), França (-19%) e Itália (-17,3%). Estes países são não só dos maiores clientes de bens, mas também importantes emissores de turistas para Portugal.
Com a mesma dimensão de gravidade está o Reino Unido, um dos principais parceiros comercias de Portugal apesar da gradual saída da UE: a economia britânica contraiu 21,7%, em termos homólogos, e 20,4% em cadeia. No caso dos EUA, outro mercado relevante para a economia portuguesa, a queda do PIB foi de 9,5% nas duas óticas.
Mas há exceções. Na União Europeia, há algumas notícias menos más, nomeadamente com a quebra da Alemanha abaixo da média europeia (-15% em termos homólogos): na maior economia da Zona Euro e da União Europeia, a recessão foi de 11,7%, em termos homólogos, e de 10,1% em cadeia. Nos países nórdicos, como a Finlândia, a Dinamarca e a Suécia, origem de muitos turistas em Portugal, as quebras do PIB foram ainda mais reduzidas.
Os dados do Eurostat relativos a junho mostram que dentro da Zona Euro as exportações intracomunitária estão a recuperar (face ao mês anterior) a um ritmo mais elevado do que o comércio extracomunitário, mostrando que as cadeias de valor europeu voltam a integrar-se. Ainda assim, os economistas da Oxford Economics alertam, num comentário sobre os dados do PIB da Zona Euro, que as trocas comerciais mantêm-se “subjugadas”. Mais recentemente, um índice que mede o transporte rodoviário de mercadorias na Alemanha perdeu algum dinamismo.
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