Das autocaravanas aos barcos. Os negócios turísticos que lucraram com a pandemia
Apesar da pandemia, houve negócios que conseguiram sair beneficiados. Com as fronteiras fechadas, os turistas procuraram alternativas e a procura por autocaravanas e barcos disparou.
O impacto da pandemia no setor do turismo e nas empresas é indiscutível mas, ainda assim, houve quem conseguisse tirar proveito disso. Foi o exemplo da Indie Campers e da Click&Boat que, através do aluguer de caravanas e barcos, conseguiram lucrar com o facto de as fronteiras estarem fechadas. No Dia Mundial do Turismo, o ECO foi pesquisar as alternativas procuradas pelos turistas para as férias.
Verão correu “melhor do que as expectativas” para a Indie Campers
Hugo Oliveira desde cedo se apercebeu dos impactos que a pandemia teria para a Indie Campers. O fundador de uma das empresas de aluguer de autocaravanas mais conhecidas do país entendeu que o setor do turismo viria a ser dos mais afetados, e que isso iria ter reflexos diretos no negócio. Mas uma comunicação “mais clara” com os utilizadores permitiu dar a volta por cima. “A partir de meados de maio começámos a comunicar de forma mais clara aquilo que víamos desde o início desta fase difícil para o setor do turismo: não há opção mais segura, livre, flexível e alinhada com os novos interesses de viajantes a nível europeu do que uma viagem numa autocaravana“, conta o CEO da Indie Campers ao ECO.
E o verão “acabou por correr melhor do que as expectativas”, diz, embora não tenha sido “uma época alta típica” dos anos anteriores. Entre junho e setembro, a Indie Campers registou 10.000 alugueres de autocaravanas, naquele que foi um ano “totalmente incomum”.
Pelo facto de a Indie Campers estar presente em 15 países europeus, o peso dos alugueres feitos pelos portugueses não é muito significativo. Contudo, se analisarmos apenas os alugueres feitos no mercado português entre junho e dezembro de 2020, cerca de 48% foram feitos por portugueses, o que mostra um grande aumento face ao ano passado: apenas 15%, indicou o responsável. “Esta tendência em prol do mercado doméstico/interno e em detrimento dos mercados internacionais, que historicamente representam uma percentagem ultra significativa da nossa base de clientes, foi a mais evidente trazida pela pandemia, por motivos óbvios”, nota Hugo Oliveira.
Sendo que dificilmente a situação se normalizará dentro dos próximos 12 meses, acredito que será inevitável que as populações voltem a usufruir do prazer de viajar de forma menos tímida no primeiro semestre de 2021.
O fundador da Indie Campers recusa a ideia de ter beneficiado com a pandemia, embora admita que o negócio das road trips “está longe de ser o mais afetado dentro da indústria do turismo”. “É indubitável que não saímos desta situação a sorrir mais do que estaríamos caso o ano tivesse decorrido sem o surgimento do vírus”, nota.
Quanto ao futuro, Hugo Oliveira prevê que esta queda no turismo “se mantenha durante alguns meses”, principalmente devido à possibilidade de uma segunda vaga do surto em vários países. “Sendo que dificilmente a situação se normalizará dentro dos próximos 12 meses, acredito que será inevitável que as populações voltem a usufruir do prazer de viajar de forma menos tímida no primeiro semestre de 2021“, diz o fundador da Indie Campers, sublinhando que “os padrões de turismo serão diferentes daqueles que se verificavam até março de 2020”. Hugo Oliveira acredita que “não haverá um regresso a esses padrões exatos”, mas que, pelo contrário, ” formas emergentes de viajar e experienciar novas culturas tenderão a assumir-se como escolhas cada vez mais naturais enquanto atividades turísticas”.
Negócio da Click&Boat com “crescimento muito forte na Europa”
Este foi um verão animado para a Click&Boat, uma startup francesa conhecida como a “airbnb dos mares”. Édouard Gorioux recorda como o início da pandemia foi de tal forma “inesperado e brutal” que nem sequer deu tempo para se sentir medo ou receio. “Imediatamente nos colocámos a postos para oferecer uma política de cancelamento específica aos nossos clientes e também para oferecer novas alternativas e soluções às reservas que já estavam confirmadas durante o confinamento”, explica o cofundador ao ECO.
A Click&Boat, que conta com mais de 400.000 utilizadores em todo o mundo, viu a atividade ser “severamente afetada” em abril e maio, com quebras de 90% nas reservas. Contudo, desde então, “a recuperação tem sido muito forte”. “Após o confinamento, tivemos um crescimento nos negócios muito forte na Europa, em comparação com o ano passado, com subidas de mais de 100% em alguns países como França e Espanha. Passear de barco foi a salvação perfeita após tantos meses em casa”, nota Édouard Gorioux.
O verão “correu muito melhor do que o esperado”, incluindo para o mercado português, diz o cofundador. Desde maio, a plataforma da Click&Boat em Portugal alcançou quase 45.000 utilizadores, dos quais cerca de 42% são portugueses. “Essa tem sido uma grande conquista para nós”, diz Édouard Gorioux. Os destinos mais procurados não surpreendem: o Algarve liderou, assim como Lisboa e Porto. E, na hora de escolher o melhor barco, as lanchas e os veleiros foram os preferidos, à frente dos catamarãs e dos semirrígidos.
Não acredito que esta situação esteja realmente a trazer quaisquer benefícios agora. Mas posso dizer que a pandemia tornou as pessoas mais cientes do aluguer de barcos particular como uma alternativa de viagem inovadora, divertida e segura.
Apesar deste disparo no negócio, Édouard Gorioux não acredita que a atividade da Click&Boat tenha sido beneficiada pela pandemia. “Não acredito que esta situação esteja realmente a trazer quaisquer benefícios agora. Mas posso dizer que a pandemia tornou as pessoas mais cientes do aluguer de barcos particular como uma alternativa de viagem inovadora, divertida e segura”, explica. O responsável defende que alugar um barco “após meses de confinamento e stress” permite às pessoas “descansar sem correr riscos de saúde ou segurança”.
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