Portugueses preferem ambiente a dinheiro. A menos que ganho seja 20% superior
Ao contrário do que tem sido a convicção, estudo da Schroders indica que a geração millennial é a que revela maior disposição para comprometer princípios em detrimento de retornos financeiros.
Portugueses, italianos e chineses estão entre os investidores menos dispostos a abdicar da ética em detrimento de retornos financeiros. Mas, como em tudo, há um preço que faz esquecer estas convicções: é necessário um ganho 20% superior para compensar a culpa.
Em Portugal, a ética prevalece aos retornos elevados, com 82% dos inquiridos a assumir não ceder, de acordo com o Schroders Global Investor Study 2020, a que o ECO teve acesso. Os investidores portugueses, a par dos italianos, são dos que mais assumem não investir contra os seus princípios. Portugal e Itália são apenas ultrapassados pela China (com 90%) e são seguidos de próximo pelos belgas, suecos e dinamarqueses (81%). Em sentido contrário, EUA e Singapura estão no extremo oposto, mas ainda assim há uma larga maioria (67%) a assumir que as crenças são mais importantes do que os retornos elevados.
Além de para a larga maioria dos investidores portugueses pesar mais a ética do que o retorno, 77% diz mesmo que não investiria contra as suas crenças e, para aqueles, que o fizessem, o retorno médio sobre o investimento seria de 21% para compensar o sentimento de culpa.
Ao contrário do que tem sido a convicção, a geração millennial (18 a 37 anos) é a que revela maior disposição para comprometer princípios em detrimento de retornos financeiros: entre ética e dinheiro, 25% prefere o dinheiro. Os mais velhos mostram-se mais comprometidos com as suas crenças: apenas 16% dos seniores (71 anos ou mais) e 20% dos baby-boomers (51 a 70 anos) estaria disposta a “fechar os olhos” aos seus princípios éticos. Mais perto do patamar dos millenials está a chamada geração X (38 a 50 anos), com 24%.
“Cada vez mais pessoas querem que os valores em que acreditam estejam refletidos na forma como investem”, diz Carla Bergareche, diretora geral da Schroders para Portugal e Espanha. “É muito positivo perceber que a maioria dos investidores já está consciente de que investir de forma sustentável não significa sacrificar rentabilidade. A conciliação dos dois objetivos é possível, desejável e há cada mais evidência de que as opções pela sustentabilidade podem gerar melhores resultados a longo prazo”.
Millenials mais disponíveis para abdicar de valores
Fundos sustentáveis captam mais interesse
O Schroders Global Investor Study 2020 (que incluiu mais de 23 mil investidores com dinheiro investido em 32 geografias) revela que 47% dos investidores globais privilegia fundos de investimento sustentáveis (44% na Europa). A principal razão está relacionada com os impactos positivos que estes investimentos proporcionam ao meio ambiente e a segunda é a crença de conseguirem obter retornos superiores.
Os portugueses alinham com esta tendência: 44% prefere fundos que têm em consideração as questões de sustentabilidade, o que significa uma subida de três pontos percentuais face à mesma questão colocada em 2018. Quando se fala em sustentabilidade um dos temas centrais são alterações climáticas.
O interesse dos investidores está a ter resposta por parte da indústria: no final do ano passado eram comercializados, em Portugal, cinco fundos de investimento com critérios ambientais, sociais e de governo de sociedades (ESG, na sigla em inglês). Estes agregavam 272 milhões de euros e eram subscritos por 18.309 participantes.
Ainda assim, o estudo revela que os consultores financeiros, na Europa, transmitem menos informação sobre investimento sustentável aos investidores. Só 28% dos inquiridos diz recebê-la com frequência, abaixo dos 37% nas Américas ou 38% na Ásia. “A falta de informação parece continuar a condicionar parte das opções pelo investimento sustentável, com 93% dos inquiridos a assumir que necessita de mais dados para perceber os critérios que levam uma empresa a ser considerada sustentável e a confiar que o seja. A maioria (34% globalmente e 37% em Portugal) considera que a confirmação por uma entidade independente constituiria esta fonte de informação e confiança”, acrescenta o estudo da Schroders.
Retornos elevados e impacto ambiental são chamariz
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Portugueses preferem ambiente a dinheiro. A menos que ganho seja 20% superior
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