Há dois projetos de hidrogénio verde prestes a arrancar até fim do ano
Produção de hidrogénio verde em Portugal está prestes a arrancar, com dois projetos a iniciar ainda este ano. Anúncio foi feito pelo Secretário de Estado da Energia João Galamba, na Advocatus Summit.
O hidrogénio verde português vai começar a ser produzido em Portugal ainda este ano, segundo anunciou o secretário de Estado da Energia, João Galamba, na terceira edição da Advocatus Summit. Apesar de se tratar de projetos de pequena dimensão, este é o pontapé de saída para o gás renovável do futuro que se tornou uma das grandes apostas do Governo no domínio da transição energética. E o governante garante que a pandemia não está a travar o investimento.
“Exportar hidrogénio verde no próximo ano é difícil, mas produzir sim. Idealmente, até este ano”, disse Galamba na conferência organizada pelo ECO/Advocatus. Explicou que são dois projetos-piloto de pequena dimensão (e por isso não fazem parte da lista dos 37 projetos selecionados para eventualmente poderem vir a integrar a candidatura conjunta de Portugal e da Holanda ao estatuto IPCEI da Comissão Europeia até ao final do ano) , mas que servem acima de tudo para avaliar o impacto do hidrogénio verde na rede antes mesmo da sua exploração comercial.
Um deles é da iniciativa da Galp Gás Natural Distribuição, que detém nove empresas regionais de distribuição de gás em Portugal e que recentemente foi vendida pela Galp Energia à Allianz por 368 milhões de euros. O projeto está neste momento em licenciamento e a empresa está em conversações com a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) e a Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) para testar a injeção de hidrogénio verde numa pequena rede de distribuição e o respetivo abastecimento a cerca de 100 clientes, na zona do Seixal.
O outro projeto quase a arrancar chama-se Green Gas e está a ser desenvolvido em Évora pela Fusion Fuel, em parceria com a Galp. Neste projeto piloto será também testada em breve a injeção na rede de distribuição do hidrogénio verde que a empresa já está a produzir por eletrólise da água na sua unidade industrial no Sabugo, em Almargem do Bispo, com base numa tecnologia inovadora de concentração da radiação solar (DC-PEHG)
A empresa já anunciou que quer investir 488 milhões de euros em cinco projetos de hidrogénio até 2025 (um por ano). João Wahnon, fundador e diretor executivo da Fusion Fuel revelou ao ECO/Capital Verde que em 2021 a empresa vai apostar 18 milhões na transferência da sua fábrica para o sul do país, com incremento da capacidade produtiva, e mais 25 milhões no projeto de hidrogénio Sines 1, com capacidade para produzir 2.500 toneladas daquele gás até ao final do próximo ano. Tudo isto com capitais próprios, graças à injeção de capital da americana HL Acquisitions. Seguem-se depois as fases 2 a 5 do projeto da Fusion Fuel, entre 2022 e 2025 (com investimentos anuais sucessivos de 61 milhões, 95 milhões, 142 milhões e 166 milhões). Quanto estiverem todos concluídos, em meados da década, a empresa quer estar a produzir 61 mil toneladas de hidrogénio.
De muito maior dimensão será o projeto âncora H2Sines. A mega-unidade industrial para a produção de hidrogénio verde em Sines por eletrólise (com recurso à energia solar fotovoltaica), que está ainda em fase de avaliação pré-investimento por parte um consórcio pan-europeu composto por empresas nacionais (incluindo EDP, Galp, REN e Martifer) e internacionais, com vista à criação de uma unidade industrial central em Sines, ainda deverá demorar. Numa primeira fase, serão instalados 10MW de eletrólise que, até 2030, poderá evoluir até 1GW.
"Um dos pontos de partida da estratégia é reconhecer, que no passado, estratégias de apoio às renováveis eram inteiramente pagas pelos consumidores. Isso gerou problemas, por um lado, de competitividade da economia portuguesa e, por outro, de aceitação.”
Será durante a próxima década que o Governo pretende impulsionar a produção de hidrogénio verde. No Plano Nacional do Hidrogénio, está previsto um mecanismo de apoio entre 2021 e 2030 que cubra a diferença entre o preço de produção do hidrogénio verde e o preço do gás natural no mercado ibérico de gás natural. Serão leiloadas 76 quilotoneladas de hidrogénio verde em Portugal, para uma incorporação de 15% na rede de gás natural, com um apoio do Fundo Ambiental entre 500 e 550 milhões de euros. No entanto, Galamba garante que não haverá custos para os contribuintes.
“Um dos pontos de partida da estratégia é reconhecer, que no passado, estratégias de apoio às renováveis eram inteiramente pagas pelos consumidores. Isso gerou problemas, por um lado, de competitividade da economia portuguesa e, por outro, de aceitação por parte desses agentes que pagavam a fatura. E é o ponto de partida da estratégia é reconhecer que esse paradigma tem de ser afetado”, apontou o secretário de Estado.
Pelo contrário, considera até a situação é a inversa. “Se não introduzíssemos a possibilidade de certas indústrias apostarem o hidrogénio verde como parte das suas estratégias de descarbonização, o potencial de custos sobre a economia portuguesa é que era elevado”.
"Os investimentos em renováveis são dos poucos que não pararam e até aceleraram na pandemia. Não vemos nenhuma alteração nos projetos que tínhamos. Pelo contrário, até vemos uma aceleração.”
Para descarbonizar a economia e cumprir as metas com vista à neutralidade carbónica em 2050, a eletrificação é o principal meio. Mas isso só é possível para 80% a 85% dos setores. De fora ficam indústrias como a cerâmica, o vidro, o papel, o têxtil ou a química portuguesa e, sem métodos de descarbonização alternativos à eletrificação, “essas empresas, os trabalhadores e os donos dessas empresas ficariam em enormes apuros porque as metas de descarbonização continuam lá”, defende Galamba.
O secretário de Estado reconhece que é necessário investimento por parte das empresas: tornar Portugal num país produtor e exportador deste gás renovável vai implicar entre 7 e 9 mil milhões de euros de investimento privado e mais cerca de mil milhões de euros em apoios do Estado à produção e apoios ao investimento sob a forma de fundos europeus pagos por Bruxelas. Mas considera que o contexto é favorável.
“Os investimentos em renováveis são dos poucos que não pararam e até aceleraram na pandemia. Não vemos nenhuma alteração nos projetos que tínhamos. Pelo contrário, até vemos uma aceleração. Há mecanismos de dívida e de financiamento por via do setor financeiro e da banca, quer apoios públicos com base em fundos europeus geridos por Portugal ou pela Comissão Europeia bastante significativos”, acrescenta.
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