Grupo Lena põe Caixa em tribunal com ação de 258 milhões de euros
Grupo Lena e Always Special, que deviam em 2015 cerca de 90 milhões à Caixa, avançaram agora com uma ação judicial contra o banco público no valor de 258 milhões de euros.
As construtoras Always Special e Lena, detidas pela família Barroca Rodrigues, avançaram com uma ação no tribunal de Lisboa contra a Caixa Geral de Depósitos (CGD) no valor de 258 milhões de euros.
O processo de ação comum deu entrada esta segunda-feira no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa. São quatro os autores desta ação: a Always Special, a Lena SGPS, a Lena Engenharia e Construção SGPS SA e ainda a Lena Engenharia e Construção SA. O valor da ação dirigida ao banco público vai à casa dos cêntimos: 258.249.760,87 euros. Quase 260 milhões de euros.
O ECO contactou a Always Special e as sociedades Lena através do Grupo Nov (antigo grupo Lena) sobre as razões que levaram a avançar este processo, mas não quiseram comentar. “Por ser um tema de cariz judicial, a administração das empresas indicadas não farão, por ora, qualquer manifestação pública”, respondeu a direção de marketing do Grupo Nov.
Já o banco público diz que ainda não foi notificado deste processo e fará uma análise da petição assim que o for.
As construtoras da família Barroca Rodrigues surgiram há dois anos na lista dos grandes devedores da Caixa, com dívidas na ordem dos 90 milhões ao banco público, segundo revelou a auditoria da EY.
À data de 2015, a Always Special tinha uma dívida de 44 milhões de euros que a CGD dava como totalmente perdidos e a Lena Construções devia 48 milhões (com o banco a registar imparidades de 18 milhões).
Recentemente, o ECO noticiou a fusão da Lena SGPS e da Lena Engenharia Construção na Always Special, numa operação teve lugar no final do ano passado. De acordo com os documentos dessa fusão, a Always Special apresentava em setembro do ano passado dívidas à banca na ordem dos 57 milhões de euros. Já a Lena SGPS e a Lena Engenharia Construção tinham dívidas bancárias de 44,3 milhões.
Com essa fusão, que teve como objetivo simplificar as estruturas grupo e racionalizar custos, o grupo Lena extinguiu-se, mas responsabilidade pelas dívidas foi “transferida” para a Always Special.
“Nunca dissemos aos bancos que não queríamos pagar”
Em maio de 2019, Joaquim Barroca Rodrigues afirmou na comissão parlamentar de inquérito à Caixa que a relação da família com o banco vem dos anos 70, através do pai, António Vieira Rodrigues, e adiantou que o grupo tencionava fazer o pagamento de todas as dívidas.
“Neste momento, estamos a discutir com a banca um processo de reestruturação, que ainda não está encerrado mas que tem como objetivo pagar aquilo que devemos. Nunca dissemos aos bancos que não queríamos pagar”, disse há dois anos.
Também revelou que se pagassem o que deviam em mercados como Angola, Argélia ou Venezuela, o grupo cumpriria “com alguma tranquilidade” os pagamentos aos bancos. “Se falarmos de Angola, falamos de mais de 70 a 80 milhões de dólares, se falarmos da Venezuela, falamos de mais de 90 milhões de dólares, se falarmos da Argélia, falamos de resultados muito significativos e semelhantes”, revelou.
“Nunca dissemos ao banco, em qualquer momento que fosse, que não tínhamos intenção de lhe pagar. Trabalhamos, hoje e todos os dias, para isso”, assinalou na altura.
Com origem na região de Leiria, nos anos 50, o grupo Lena ganhou notoriedade nas últimas décadas, nomeadamente com a expansão internacional durante os governos de José Sócrates e com a investigação judicial da Operação Marquês.
Um dos grandes contratos que a construtora conquistou foi na Venezuela, em 2008, para a construção de 50 mil casas nos arredores da capital Caracas, num negócio milionário apadrinhado pelos governos de então.
Quanto à Operação Marquês, o Grupo Lena é uma das entidades visadas na acusação do Ministério Público, por alegados subornos pagos ao ex-primeiro ministro José Sócrates. A acusação considera que José Sócrates terá permitido a obtenção de “benefícios comerciais” por parte da construtora. A troco desses benefícios, refere o Ministério Público, e em representação do Grupo Lena, o arguido Joaquim Barroca terá aceitado efetuar pagamentos, em primeiro lugar para a esfera de Carlos Santos Silva (ex-administrador do Grupo Lena e amigo pessoal de Sócrates), mas que seriam destinados ao antigo primeiro-ministro.
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