Empresários querem reforço da indústria e internacionalização no Plano de Recuperação
Da metalomecânica ao vestuário, associações defendem que o Plano de Recuperação e Resiliência deve focar-se no reforço da industrialização, internacionalização e requalificação dos portugueses.
A versão preliminar do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que prevê 36 reformas e 77 investimentos nas áreas sociais, clima e digitalização, num total de 13,9 mil milhões de euros em subvenções, está em consulta pública durante as duas próximas semanas. Da metalomecânica ao mobiliário, os empresários portugueses querem ver neste plano o reforço da industrialização, internacionalização e requalificação dos portugueses.
Para a Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (Apima) o reforço da industrialização e a internacionalização são “dois aspetos fundamentais” que devem estar presentes no Plano de Recuperação e Resiliência. “Temos que continuar a estar na linha da frente em termos industriais e temos que continuar a apostar na internacionalização“, explica Gualter Morgado, diretor executivo da Apima.
O Governo prevê usar 558 milhões de euros do PRR nas agendas e alianças mobilizadoras de reindustrialização, para “acelerar a transformação estrutural da economia portuguesa”. Para o diretor executivo do mobiliário, “a reindustrialização da Europa faz cada vez mais sentido”, mas lembra que não é apenas a robotização que vai resolver a totalidade do problema. “Uma deve estar a par da outra. Não podemos descurar nenhuma das vertentes do processo até porque ele devem estar combinadas”, destaca Gualter Morgado.
Para a Apima, a par da reindustrialização, a internacionalização deve estar no topo das prioridades. “A nossa indústria não sobrevive com o mercado interno, o nosso mercado nacional tem que ser um mercado europeu e por isso continuamos a necessitar das ferramentas da internacionalização”, destaca o diretor executivo da associação que representa 200 empresas do setor e 80% do volume de negócios do cluster.
A prioridade neste momento é reforçar a autonomia estratégica do país e reforçar a capacidade industrial para sermos mais autónomos.
Para além destes dois eixos – reindustrialização e internacionalização -, a Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins considera importante investir na formação. “É preciso formar mais pessoas e deve ser uma formação mais pensada para pequenas e médias empresas. Temos que pensar num modelo que possa efetivamente pôr os formandos em contacto com as empresas, para que as empresas consigam integrá-los de imediato. As empresas de pequena dimensão não tem pessoal suficiente para estar a dar formação”, refere o diretor executivo da Apima.
O PRR prevê o investimento de 400 milhões de euros na transição digital das empresas, que vai permitir requalificar 36.000 trabalhadores e apoiar 30.000 pequenas e médias empresas (PME).
Reforçar a autonomia estratégica do país é a prioridade da metalomecânica
À semelhança do mobiliário, a metalomecânica vai dar o seu contributo para o Plano de Recuperação e Resiliência que está em consulta pública tal como o primeiro-ministro pediu, através da sua conta no Twitter.
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A Associação dos Industriais Metalúrgicos e Metalomecânicos quer ver neste plano a “requalificação dos portugueses”, o “investimento em tecnologias de produção portuguesas”, a par da sustentabilidade.
“A prioridade neste momento é reforçar a autonomia estratégica do país e reforçar a capacidade industrial para sermos mais autónomos. É essencial que haja um investimento em tecnologias de produção para sermos mais autónomos, a par da transição digital”, explica ao ECO, Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP).
O vice-presidente do metal corrobora a ideia do diretor executivo do mobiliário e destaca que a aposta na internacionalização é imperativa. “É fundamental continuar a apostar no investimento dos mercados externos, temos que continuar a aumentar as nossas exportações e todos os investimentos nessa área são decisivos“, numa altura em que as exportações portuguesas de metalurgia e metalomecânica recuaram 12,7%, para 17.100 milhões de euros, em 2020 face a 2019, refletindo “o forte impacto” da pandemia e “a incerteza criada pelo Brexit”.
Do lado do vestuário e do têxtil, que viu as suas exportações cair 11% em 2020, para 4.643 milhões de euros, a prioridade nesta bazuca passa por fomentar a sustentabilidade e a economia circular em Portugal e apostar na criação de marcas internacionais associadas a uma política de digitalização.
“A moda é uma fonte de desenvolvimento económico na Europa e nós temos de estar na linha da frente da liderança das marcas a nível global”, refere César Araújo, presidente da Associação Nacional das Industrias de Vestuário e Confecção (Anivec).
O PRR prevê um investimento de 715 milhões de euros para apoiar a indústria a desenvolver projetos para a sua descarbonização. Para o presidente da Anivec, a descarbonização é “fundamental”, embora tenha algum receio que a verba não seja suficiente, ao mesmo tempo que destaca que “já é um começo”.
Para o setor automóvel, que começou o ano a cair 12,5% na produção, a transição climática e a mobilidade sustentada são as prioridades que devem estar presentes neste Plano de Recuperação e Resiliência. Neste Plano, a dimensão da transição climática equivale a 21% do montante global e prevê 2.800 milhões de euros em subvenções e 300 milhões de euros em empréstimos.
Para o presidente da Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN), Rodrigo Ferreira da Silva, o setor automóvel precisa de uma “reforma profunda da tributação autónoma em Portugal”. Lamenta que no último orçamento de Estado “os poucos apoios que havia para contribuirmos para este objetivo climático foram cortados – os apoios nos híbridos. Não se pode num OE aprovado cortar apoios para híbridos e agora estar a pedir contributos para a mobilidade sustentada”, lamenta.
A Associação Nacional do Ramo Automóvel recorda que a política fiscal tem de ser mais favorável para um setor brutalmente afetado pela pandemia e tem de incentivar a troca. O presidente da associação lembra que temos um parque automóvel muito antigo com uma média superior a 13 anos.
“Todos os negócios são digitais e verdes. Nenhum modelo de negócios vai vingar no futuro se não tiver estas duas vertentes muito presentes”, destaca o presidente da Associação Nacional do Ramo Automóvel.
AEP lamenta que “exista neste PRR uma proporção enviesada a favor do setor público”
Para a Associação Empresarial de Portugal (AEP), este Plano de Recuperação e Resiliência está “virado para suportar o investimento público, nomeadamente a vertente social” e “fica muito aquém do que se deve alocar à iniciativa privada – sem preconceitos”.
“O Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) tem por base a visão estratégica para a recuperação económica de Portugal 2020-2030 e as prioridades elencadas no documento tinham como foco as empresas. Contudo, já há quem diga que é um plano daquilo que não foi investido no Estado na última década”, explica ao ECO a AEP.
A associação liderada por Luís Miguel Ribeiro lamenta que “não se vislumbra neste PRR uma estratégia vincada para aumentar a competitividade e a resiliência das empresas, que estão a passar por um momento muito difícil”. Para a AEP, o foco do apoio devia ser dado às empresas privadas e que a melhor forma de combater as vulnerabilidades sociais de forma sustentada é através de uma atuação que estimule a criação de riqueza e de emprego.
“Se queremos estimular o investimento isso deve passar pelas empresas, que são a principal fonte de investimento na economia: dois terços do investimento total da economia em 2019 foi feito pelas empresas, pelo que merecem ter uma alocação superior de fundos”, destaca o presidente da AEP. Lembra que face às elevadas verbas alocadas ao setor público, “se a concretização do investimento público fosse adjudicado a empresas nacionais ou que atuem em território nacional estaríamos perante uma estratégia que tem um impacto positivo imediato e que deve continuar a ser seguida a médio e longo prazos, com amplos benefícios económicos e sociais”, explica o líder da associação.
Por fim, a AEP considera que a capacidade de execução dos fundos públicos é uma fonte de preocupação “Sabemos bem quais são as suas limitações, como é exemplo a execução do Portugal 2020”. António Costa já veio dizer que “não antecipa dificuldades na negociação com Bruxelas” e que espera entregar à Comissão Europeia a versão final do Plano de Recuperação e Resiliência dentro de três semanas.
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