“Pandemia obrigou-nos a fazer gestão ao minuto”, diz a Calvelex
Para o fundador da Calvelex, os confinamentos estão a quebrar os ciclos das estações e a pandemia está a obrigar as empresas da moda a fazer gestão ao minuto.
A pandemia chegou a Portugal há um ano e a moda foi um dos setores mais afetados pelo novo coronavírus. O ano passado, o têxtil e o vestuário viram as suas exportações cair 11%, para 4.643 milhões de euros. Para o fundador da Calvalex, César Araújo, a “pandemia obrigou o cluster a fazer a gestão ao minuto” e refere que o “problema da moda é que ela está criada à volta de um ciclo”.
Para o líder da Calvalex, que emprega 550 colaboradores, durante este ano de pandemia, os 12 meses foram complicados e cada mês representou uma dificuldade diferente. “Todos os meses são um sofrimento diferente e estes 12 meses têm sido um terror para o setor da moda. Os clientes foram obrigados a encerrar as suas lojas nos dois confinamentos”, destaca.
O setor da moda trabalha por estações, e na ótica do gestor, “os ciclos de estação foram quebrados e as empresas formam obrigadas a fazer gestão ao minuto”. César Araújo explica ao ECO o primeiro confinamento na primavera coincidiu com o período em que as lojas deveriam estar a começar a vender as suas coleções de verão e quando as coleções de inverno deviam estar a ir para as lojas dá-se um novo confinamento. “Isto significa que os clientes estão cheios de stock que não conseguem vender”, alerta o presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção.
Lamenta que as medidas de apoio tenham sido canalizadas para uma expectativa de retoma em julho que “na verdade não aconteceu”. “É lamentável perante a falta de retoma não alteraram as medidas. O Governo lançou em agosto o apoio à retoma progressiva e não houve a coragem de alterar as medidas e reconhecer humildemente que não existiu retoma nenhuma”, destaca o líder da Calvelex.
Na ótica do gestor, a maior lição que tirou desta pandemia é que os setores têm de estar preparados para que isto não volte a acontecer novamente, tendo em conta “está em causa a sobrevivência da raça humana e dos tecido industrial português”.
Os ciclos de estação foram quebrados e a nossa resiliência obrigou-nos a fazer gestão ao minuto.
Outra lição é a dependência da Europa de mercados asiáticos. 80% da produção do cluster da moda provém da Ásia e entra na Europa sem qualquer taxa aduaneira. Para César Araújo esta deve ser uma lição para os políticos repensarem a relação que tem com os seus parceiros fora da comunidade europeia. Afirma com algum descontentamento que “não se admite a Europa estar refém da Ásia, quer nas questões da saúde pública, quer nas questões da moda”.
Em relação à retoma, o fundador da Calvalex e presidente da Anivec só acredita numa recuperação a partir de setembro. “A existir uma procura maior, poderá eventualmente existir uma necessidade de os clientes pedirem encomendas com curtos espaços de tempos e as fábricas vão ter de responder rapidamente”, refere César Araújo. Por outro lado, destaca que caso não exista uma procura superior e um aumento significativo das encomendas, a “retoma será feita de uma forma mais tímida e que irá acontecer a partir de outubro”.
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