Portugal vai ter este trimestre mais doses da Astra e Janssen do que pessoas com mais de 60 anos por vacinar
Nesta 2ª fase, a meta é ter os maiores de 60 anos imunizados até ao fim de maio. Faltam vacinar 1,3 milhões de pessoas desse grupo, pelo que só com as doses da Astra e Janssen o objetivo é alcançado.
Com a chegada de mais vacinas, Portugal prepara-se agora para entrar na fase de “velocidade cruzeiro” da vacinação contra a Covid-19 e os objetivos são claros: atingir um ritmo de 100 mil vacinas administradas por dia já dentro de “duas a três semanas” e ter todas as pessoas com mais de 60 anos vacinadas, com pelo menos uma dose do fármaco, até ao final de maio.
Se nesta primeira fase do plano de vacinação, o país enfrentou “um problema de escassez de vacinas”, e alguns imprevistos, tal como reconheceu a ministra da Saúde, a situação vai agora reverte-se dada a “abundância” de vacinas. Só neste trimestre, as autoridades de saúde portuguesas esperam receber mais de 9 milhões de doses de vacinas, das quais cerca de 5,5 milhões da Pfizer, 795,6 mil da Moderna, 1,6 milhões da AstraZeneca e 1,2 milhões da Janssen, de acordo com os dados divulgados pela task force ao ECO. Contas feitas, é mais do triplo das doses recebidas desde que arrancou a vacinação (cerca 2,9 milhões).
Dada a maior disponibilidade de mais vacinas, o Governo decidiu reajustar o plano de vacinação contra a Covid-19, com novos grupos prioritários e a definição de novas metas. Assim, a partir de agora o foco estará em imunizar os maiores de 60 anos com pelo menos uma dose da vacina até ao final de maio, dado que 96% das mortes registadas em Portugal e associadas à Covid-19 foram nessas faixas etárias.
E esse objetivo já se começa a fazer notar, já que até à passada quarta-feira, dia 20 abril, “cerca de 66% das pessoas da faixa etária entre os 70 e os 79″ já foram vacinados com pelo menos uma dose da vacina, número que contrasta com os “cerca de 53% registados a 18 de abril”, segundo os dados cedidos pela task force. Ao mesmo tempo, também “cerca de 30% das pessoas da faixa etária entre os 60 e os 69 já foram vacinados com pelo menos uma dose”, enquanto na faixa etária dos mais de 80 anos a inoculação ascende aos 92%, já que este grupo mais foi prioritário na primeira fase.
Assim, de acordo com as estimativas realizadas pelo ECO — através do cruzamento dos dados relativos à população portuguesa que constam no portal do INE, referentes a 2019, e os dados fornecidos pela task force –, é possível constatar que para atingir este objetivo faltam vacinar cerca de 1,3 milhões de portugueses com mais de 60 anos, dos quais 54.069 com mais de 80 anos, 333. 761 na faixa etária dos 70-79 anos e 909.772 dos 60 aos 69 anos.
Neste contexto, e tendo em conta que Portugal vai receber este trimestre 1,6 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca e 1,2 milhões de doses da Janssen (2,8 milhões no total), verifica-se que Portugal tem doses suficientes para vacinar os 1,3 milhões de portugueses que faltam vacinar com mais de 60 anos e ainda fica com doses disponíveis (isto se o Governo decidir limitar a administração da vacina da Janssen aos mais velhos como fez com a vacina da AstraZeneca).
Atualmente e à semelhança do que acontece em vários países europeus, Portugal só está a recomendar a administração da vacina da AstraZeneca a pessoas com mais de 60 anos, estando ainda a ponderar se vai administrar uma segunda dose alternativa de outra vacina a quem já tomou a primeira dose desta vacina. Esta decisão foi tomada após a Agência Europeia do Medicamento (EMA) ter admitido que existe uma possível ligação entre a formulação de coágulos sanguíneos e a administração da vacina anglo-sueca.
Cerca de duas semanas depois, na terça-feira, o regulador europeu chegou à mesma conclusão relativamente à vacina da Janssen, depois de também serem reportados casos de reações adversas nos EUA, já que esta vacina ainda não estava a ser administrada na Europa. Apesar de admitir que os casos registados com as duas vacinas são “muito semelhantes”, a EMA reiterou que os “benefícios gerais” da administração destas vacinas continuam a superar os riscos.
Nesse sentido, ficou também ao critério de cada Estado-membro definir se vai impor ou não uma limitação de faixa etária específica a esta vacina. Quanto a Portugal, a ministra da Saúde referiu, na quarta-feira, que “a comissão técnica da vacinação contra a Covid, que funciona na dependência da Direção-Geral da Saúde, vai rever as informações [da EMA] e verificar se há algum ajustamento a fazer para efeitos da aplicação da vacina”, acrescentando que “Portugal vai incluir com a maior brevidade possível” as 31.200 doses de vacinas da farmacêutica norte-americana que chegaram ao país na semana passada, mas que ainda não estão a ser administradas.
Deste modo, e independentemente da decisão da comissão técnica, Marta Temido sinalizou a decisão não terá influência no plano de vacinação, já que neste momento o plano “é focado nos mais de 70 anos”, pelo que “não há qualquer restrição desta vacina neste grupo etário”.
Exportação de vacinas para os PALOP em cima da mesa?
Dada a maior disponibilidade de doses de vacinas, até superior àquela que necessita para imunizar os maiores de 60 anos, Portugal poderá aproveitar para exportar as vacinas para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). No final de fevereiro, o primeiro-ministro já tinha mencionado que África será prioritária na disponibilização de doses adicionais de vacinas contra a Covid-19 e que Portugal procurará “redirecionar” para Timor-Leste e para os PALOP 5% das vacinas adquiridas. “Para além de financiar a Iniciativa Covax, que tem como objetivo fornecer vacinas a 20% da população de 92 países, no âmbito da União Europeia estamos a trabalhar num mecanismo de partilha de vacinas que poderá disponibilizar doses adicionais de vacinas, sendo África naturalmente uma prioridade”, disse António Costa, citado pela Lusa, a 23 de fevereiro.
Um dia depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros clarificou que, esses 5% de vacinas adquiridas se refletem em cerca de um milhão de vacinas contra a Covid-19 destinadas aos PALOP e Timor-Leste, sendo que as primeiras doses deverão começar a chegar a estes países no segundo semestre deste ano. O ECO questionou o Ministério da Saúde sobre a possibilidade de Portugal vir a exportar as doses que sobrarem da AstraZeneca e Jassen para os PALOP, mas a tutela remeteu os esclarecimentos para o Ministério dos Negócios Estrangeiros e não foi possível obter uma resposta até à publicação do artigo.
A título de exemplo, França anunciou, na quarta-feira, que vai doar 100 mil doses da vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca aos países africanos como parte do mecanismo Covax. A ideia passa por incentivar a distribuição de vacinas pelos países mais pobres, sendo que, desde 24 de fevereiro, com a chegada das primeiras doses ao Gana, a Covax já distribuiu mais de 40,5 milhões de vacinas por 118 países de médio e baixo rendimentos, incluindo países africanos lusófonos e Timor-Leste.
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