Reduzir 15 milhões de pobres na UE “não é um avanço”, avisa Catarina Martins
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) disse que reduzir 15 milhões de pobres na União Europeia (UE) "não é um avanço", pois implica que ainda existirão 70 milhões em 2030.
A coordenadora do Bloco de Esquerda disse existir “outra Europa além daquela que está na Alfândega do Porto”, onde se realizou a Cimeira Social, defendendo que reduzir 15 milhões de pobres “não é um avanço”.
“Esta é a afirmação de que há outra Europa além daquela que está na Alfândega do Porto, uma Europa que está todos os dias nas lutas, movimentos e construção da alternativa. Uma Europa que sabe que não vale a pena lágrimas de crocodilo sobre a pobreza e as dificuldades da vida”, afirmou.
Catarina Martins, que falava no Comício “STOP Precariedade, STOP Pobreza” — iniciativa que marca o fim da contracimeira do BE –, salientou que as “opções tomadas de resposta à pandemia da Covid-19 e crise estão a aprofundar uma desigualdade que vêm de longe”.
“Esta Europa que prefere proteger as patentes das vacinas contra a Covid-19 a proteger os seus cidadãos e os cidadãos do mundo é a mesma Europa que garantiu sempre a impunidade dos de cima e que se alimenta da pobreza dos debaixo”, apontou.
A “contracimeira da resistência, do inconformismo e da solidariedade” do BE surge numa critica à falta de ambição do Pilar Europeu dos Direitos Humanos, em discussão na Cimeira Social do Porto.
No comício, a coordenadora do BE afirmou que “anunciar reduzir 15 milhões de pobres na Europa, enquanto se esconde que se quer manter mais 70 milhões de pobres na Europa não é um avanço, é um retrocesso, é uma resignação”. “A igualdade não é, nem pode ser, um slogan vazio, uma referência abstrata num discurso de circunstância em qualquer cimeira”, criticou.
Também presente no comício, o presidente do Partido da Esquerda Europeia, Heinz Bierbaum, disse ser necessário “mudar a política europeia” para “ganhar uma Europa mais social”.
“A mudança da política na Europa é o fundamental para ganharmos uma Europa mais social, mais solidária, mais democrática, mais ecológica. E, estou convencido, outra Europa é possível”, afirmou Heinz Bierbaum.
Já o deputado bloquista José Soeiro afirmou que, tanto a Cimeira Social do Porto, como a contracimeira do BE são “dois caminhos possíveis e antagónicos” que estão “em aberto”.
“Acreditamos que há outra Europa, que já está a ser construída por estas redes laborais, projetos de intervenção social. É esta Europa que irá amanhã para a rua, desde a Praça do Marquês, para que se faça ouvir aos senhores que estão no Palácio de Cristal”, acrescentou.
O candidato do BE à Câmara do Porto, Sérgio Aires, lembrou ainda que os líderes europeus poderiam ter “esboçado algum esforço de querer virar a página”, mas “não o fizeram, defendendo que o modelo apresentado “continuará a cavar fundo nas desigualdades”.
“A pobreza é entendida como um efeito colateral. Francamente, acho que hoje aqui no Porto caíram todas as máscaras. Aceitar como meta que em 2030 teremos mais de 70 milhões de pobres é o quê? Esta falta de ambição pode piorar”, considerou.
A Cimeira Social decorreu esta sexta-feira no Porto, com a presença de 24 dos 27 chefes de Estado e de Governo da União Europeia, reunidos para definir a agenda social da Europa para a próxima década.
Definida pela presidência portuguesa como ponto alto do semestre, a Cimeira Social tem no centro da agenda o plano de ação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, apresentado pela Comissão Europeia em março, que prevê três grandes metas para 2030: ter pelo menos 78% da população empregada, 60% dos trabalhadores a receberem formação anualmente e retirar 15 milhões de pessoas, cinco milhões das quais crianças, da pobreza e exclusão social.
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