Windfloat, o parque eólico que sobreviveu à fúria da tempestade Dora no mar português
Em 12 meses, o Windfloat Atlantic registou 75 GWh de produção total acumulada, quase quatro mil horas de produção, e mais de 500 horas de trabalho em alto mar.
Entre julho de 2020 e julho de 2021, o parque eólico offshore Windfloat Atlantic não teve vida fácil no mar português, a 20 km da costa de Viana do Castelo. Sobreviveu a tempestades, ventos fortes, ondas de grandes dimensões e ainda assim conseguiu produzir eletricidade suficiente para abastecer 60.000 pessoas num ano.
Num dos dias mais quentes do ano na cidade minhota, sem vento, com o sol a brilhar forte e as águas do Atlântico calmas e quase sem ondulação, o consórcio Windplus (liderado pela EDP e pela francesa Engie) revelou os dados operacionais do primeiro parque eólico flutuante da Europa Continental e o primeiro a nível mundial a utilizar a tecnologia Windfloat desenvolvida pela Principle Power. Em 12 meses foram 75 GWh de produção total acumulada, quase quatro mil horas de produção, e mais de 500 horas de trabalho em alto mar.
Além disso, o parque eólico composto por três turbinas eólicas da fabricante dinamarquesa Vestas (8,4 MW cada uma) com mais de 200 metros de altura e apoiadas em gigantescas plataformas flutuantes semi-submergíveis (duas delas construídas nos estaleiros da Lisnave, em Setúbal) sobreviveu num ano a ventos máximos registados de 134 km/h e ondas de cerca de 14 metros.
“As piores condições meteorológicas a que o projeto foi sujeito registaram-se durante a tempestade Dora, em dezembro de 2020”, conta José Pinheiro, responsável pelo projeto, sublinhando que as turbinas não funcionam com ventos acima dos 90km/hora e que as plataformas flutuantes se comportam em alto mar como se fossem navios, estando ligadas entre si e presas ao fundo do mar (a 100 metros de profundidade) por três âncoras, cada uma.
Lá mais perto, e depois de 40 minutos de viagem de barco desde o porto de Viana de Castelo (tranquila no verão, mas ainda assim não recomendada para quem enjoa), a vista sobre as gigantes eólicas que assentaram arraiais no mar português é imponente. Ali a temperatura desce a pique e o vento já sopra mais frio, fazendo rodar as enormes pás a um ritmo constante. O acesso às plataformas que balançam com as ondas só é permitido aos técnicos da EDP.
Para já, a manutenção das turbinas ainda é feita presencialmente, por equipas técnicas que se deslocam de barco até alto mar (cerca de duas vezes por mês, quando as condições meteorológicas o permitem), podendo no futuro este trabalho vir a ser feito remotamente, com drones operados a partir de terra firme, disse o responsável.
Com uma vida útil estimada de 25 anos, o parque eólico flutuante bateu ainda outros recordes, tendo estado a trabalhar ininterruptamente, em plena carga, durante quatro dias seguidos, em agosto de 2021. Junho deste ano foi o mês em que o Windfloat Atlantic mais energia elétrica produziu, num total de 8,6 GWh.
Já o fator de carga do parque flutuante rondou os 48%, o que significa que em metade do tempo esteve a trabalhar no seu máximo (face aos apenas 30% conseguidos pelas eólicas em terra). Com o recurso eólico do mar português já bem mapeado, José Pinheiro garante que Viana do Castelo é uma das três zonas no país com mais vento offshore, além de Cascais e do Cabo de São Vicente.
Os resultados do primeiro ano são positivos, garante o responsável do projeto, “mas podiam ter sido bem melhores” ao nível da produção de energia se o parque eólico não tivesse estado parado durante o último inverno.
A paragem forçada deveu-se a um problema técnico no cabo elétrico de enormes dimensões (66 quilovolts e 32 kg de peso por cada 100 metros de comprimento), que liga as três plataformas ao cabo de 18 quilómetros no fundo do mar (da REN, ainda maior e com uma capacidade de 150 quilovolts) e faz o transporte da eletricidade renovável até à rede nacional. Ou seja, durante cerca de quatro meses o Windfloat Atlantic não injetou energia na rede.
Para apoiar o desenvolvimento desta tecnologia pioneira, o Banco Europeu de Investimento (BEI) concedeu, em outubro de 2018, um empréstimo de 60 milhões de euros à Windplus, uma subsidiária da EDP Renováveis (79,4%), Repsol (19,4%) e Principle Power (1,2%). O projeto foi também apoiado com 29,9 milhões de euros do programa da UE NER300 e seis milhões de euros do Governo de Portugal, através do Fundo de Carbono Português.
A nível ambiental, os promotores garantem que “a tecnologia flutuante é menos intrusiva nos leitos marinhos” face ao offshore fixo, sendo que o processo de construção e montagem — todo feito em terra — permite também evitar um maior impacto no meio ambiente. O consórcio está também a realizar vários projetos de monitorização do projeto, entre os quais um estudo de impacto nos cetáceos (golfinhos e baleias), cujos resultados serão apresentados em breve.
Windfloat Atlantic – Etapas do projeto:
- Dezembro 2011: início do projeto-piloto Windfloat 1 (ao largo da Póvoa de Varzim)
- 2011 – 2016: fase de testes do projeto-piloto
- 2017-2019: desenvolvimento do projeto Windfloat Atlantic
- Outubro 2018: assegurado financiamento do BEI devido ao caráter inovador do projeto
- Julho 2019: instalação da primeira turbina na plataforma no Porto de Ferrol, Espanha
- Dezembro 2019: ligação da primeira turbina do Windfloat Atlantic à rede nacional
- Julho 2020: entrada em operação do parque completo
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