Fim das moratórias: BCP cria equipa para contactar clientes, Caixa prepara maior número de “fatos à medida”
Há meses que os bancos estão a preparar-se para o fim das moratórias. No BCP é possível reestruturar alguns tipos de crédito através do telemóvel. Caixa tem soluções à medida dos clientes.
O fim das moratórias está a ser preparado há meses e com todo o cuidado pelos bancos. O BCP, por exemplo, criou uma espécie de task force para contactar os clientes e é possível reestruturar o crédito através do telemóvel. Na Caixa, trabalha-se para ter o maior número de soluções possíveis para quem continua com a corda na garganta. É quase como ir ao alfaiate: o banco público quer disponibilizar o maior número de “fatos à medida” para ir ao encontro das necessidades das famílias e empresas.
De acordo com o último balanço do Banco de Portugal, os bancos tinham 36,8 mil milhões de euros de crédito em moratória em julho, sendo que mais de oito mil milhões de euros correspondiam a moratórias de empresas dos setores mais vulneráveis.
Estes números ajudam a perceber a dura realidade que Governo e setor financeiro podem esperar no final de setembro, que é quando começam a expirar as moratórias públicas.
Se para as empresas dos setores mais afetados o Executivo já anunciou que irá ajudar com garantias públicas nos processos de reestruturação, direcionando ao mesmo tempo milhões do Plano de Recuperação e Resiliência para as capitalizar, em relação às famílias, foi reforçado o quadro legal que obriga os bancos a disponibilizarem soluções aos clientes com dificuldades a fim de evitar situações de incumprimento – o chamado PARI.
No âmbito do PARI, as instituições financeiras têm de identificar estes clientes com uma antecedência de 30 dias em relação ao fim da respetiva moratória e deverá propor uma solução em 15 dias. Um esforço que os bancos dizem estar a fazer há meses.
O BCP adianta ao ECO que está em contacto permanente com os seus clientes desde o início julho, antes de o Governo anunciar a medida. O banco tem feito uma monitorização da sua carteira de clientes com moratória para identificar aqueles que apresentam indícios de dificuldades financeiras. Aliás, formou mesmo uma equipa de contacto com os clientes. E “já há clientes a aderir às soluções propostas”, revela a instituição liderada por Miguel Maya.
Na Caixa, com trabalho de meses, esses clientes estão identificados. “Estamos a trabalhar, já há meses, com todos e cada um de modo a aligeirar, dentro do possível, o impacto do retorno às prestações pré-pandemia, depois de largos meses em que usufruíram da moratória”, afirma fonte oficial do banco público.
O BPI também afirma que “tem estado a acompanhar estes clientes desde o primeiro momento, com toda atenção, caso a caso, porque cada situação tem circunstâncias diferentes”.
O Novo Banco diz ter uma “equipa multidisciplinar no acompanhamento deste processo”, tendo já “identificado o grupo de clientes que poderá necessitar de apoio na saída de moratória”.
No Santander também. Reforçaram-se equipas, os trabalhadores receberam formação específica e “foi feito investimento importante na transformação digital dos processos associados à prevenção do incumprimento”, indica o banco de Pedro Castro e Almeida.
"Estamos a trabalhar, já há meses, com todos e cada um de modo a aligeirar, dentro do possível, o impacto do retorno às prestações pré-pandemia, depois de largos meses em que usufruíram da moratória.”
“Fatos à medida” de cada um
Os bancos parecem ter a lição estudada e já sabem que não há uma solução que vai ajudar todos os clientes, sobretudo quando os números apontam para mais 290 mil devedores (entre particulares e empresas) com créditos em situação de moratória.
Nessa medida, dizem que estão a disponibilizar mais do que uma alternativa na hora de chegar a um acordo com o cliente, ou como diz a Caixa, “o maior número de ‘fatos à medida’” que sirvam os interesses de todos. “Cada cliente tem uma solução que parece mais acertada para si”, frisa o banco do Estado.
O BCP segue receita semelhante. Procedeu a uma “atualização do conjunto de soluções de reestruturação disponíveis”, no sentido de ajustar as possibilidades “à realidade de cada” um. E mais: agilizou o processo de implementação das soluções de apoio, dando especial ênfase nos canais digitais. “Atualmente, já é possível restruturar algumas tipologias de créditos apenas por recurso à app, sem necessidade de deslocação a uma sucursal”, destaca o banco.
Por seu turno, o banco de João Pedro Oliveira e Costa diz que “tem sido possível até agora na esmagadora maioria dos casos” dar a “resposta mais adequada” a cada situação em particular.
” As soluções adotadas/a adotar não obedecem a uma opção do banco, mas sim a uma análise detalhada da situação individual de cada cliente e consequente adoção de uma solução ajustada ao seu caso”, responde o Novo Banco.
Já o Santander vai apresentar soluções no âmbito do PARI durante a primeira quinzena de setembro, que os clientes poderão contratar nos canais digitais.
Atualmente, já é possível restruturar algumas tipologias de créditos apenas por recurso à App, sem necessidade de deslocação a uma sucursal.
Que soluções estão em cima da mesa?
Tanto BCP como BPI sublinham que a maioria dos casos de moratória não requer atenção especial após o fim das moratórias, e estão em condições de retomarem as prestações. Ainda assim, para os que já sabem que não vão ser capaz de voltar a pagar ao banco, há um leque de soluções que poderão ajudar a evitar o incumprimento.
Por exemplo, alterar o prazo do empréstimo, o que neste caso poderia traduzir-se numa mensalidade mais baixa e comportável para as famílias. Também pode ser acordado um período de fixação da prestação mais reduzido, através da carência de capital parcial e pagamento integral dos juros. Noutras situações, a solução poderá passar pela carência de 100% de capital.
Se o cliente tiver mais do que um empréstimo, o caminho poderá passar pela consolidação dos créditos num único, passando a pagar uma prestação mais reduzida do que o somatório das prestações dos créditos atuais do cliente.
(Notícia atualizada às 12h05 com posições do Novo Banco e Santander)
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