“Sempre que possível” deve haver desfasamento de horários e teletrabalho, dizem peritos
A especialista Raquel Duarte deixou algumas sugestões aos políticos, pedindo que "sempre que possível" haja desfasamento de horários e teletrabalho.
A especialista, que faz parte de um grupo que no passado já aconselhou o Governo nas medidas a tomar, disse na reunião desta sexta-feira no Infarmed que “sempre que possível” deve haver desfasamento de horários nas empresas e o recurso ao teletrabalho. A vacinação da terceira dose tem de acelerar, a testagem tem de ser gratuita, é preciso monitorizar variantes e fronteiras e fazer uma “aposta séria” na ventilação dos espaços fechados, entre outras recomendações.
A pneumologista e professora da Faculdade de Medicina Universidade do Porto explicou que se mantêm válidas as propostas feitas em setembro, as quais já tinham em conta o elevado grau de vacinação em Portugal. Nessa altura, havia indicações para o cenário de melhoria da situação pandémica e para o cenário de agravamento, tal como acontece agora. Nesse caso, uma das mudanças passa por “sempre que possível manter o desfasamento de horários e o teletrabalho”.
A outra diferença está nos eventos de grande dimensão em exterior com espaço delimitado. Além do cumprimento das medidas gerais, os peritos recomendam que haja circuitos bem definidos de circulação e eventos controlados com identificação de locais onde as pessoas podem permanecer respeitando o distanciamento.
No caso da circulação em espaços públicos, os peritos não vão tão longe quanto o Presidente da República que pediu o regresso da obrigação de usar máscara na rua quando não é possível cumprir o distanciamento. Os especialistas dizem, porém, que é preciso uma autoavaliação de risco e utilização da máscara perante perceção de risco. No convívio familiar alargado, os peritos também apelam a uma autoavaliação de risco.
Além disso, há duas áreas em que os especialistas focaram as suas preocupações: lares e transportes públicos. Nos lares, pedem testagem regular para funcionários e visitas. Nos transportes públicos, pedem que se assegure sistemas de ventilação adequados, assim como a sua manutenção, e, na sua ausência, manter as janelas abertas.
No que toca à testagem, esta tem de ser gratuita — e o Governo já deu passos nesse sentido — e incluir vacinados uma vez que estes “também adoecem e transmitem a doença”. Os testes são especialmente importantes para quem contacta com não vacinados, estão em situações sociais de maior risco ou quem contacta com populações vulneráveis como é o caso de lares. Contudo, ao mesmo tempo, é preciso garantir que os inquéritos epidemiológicos são efetuados sem atrasos.
Antes de fazer recomendações, Raquel Duarte fez uma avaliação da situação pandémica em Portugal. Neste momento, há uma “menor dimensão de casos, de hospitalizações e de óbitos, mas com uma tendência de agravamento”, descreve, recordando que o país está “sem travão”, isto é, tem medidas não restritivas, ao contrário do que acontecia por esta mesma altura no ano passado.
As ameaças atuais à situação em Portugal passam pelos países vizinhos com um número crescente de casos, o que vai ter repercussão nacional, a diminuição gradual do efeito protetor da vacinação, a redução da perceção de risco associado a um alívio das medidas protetoras e a chegada do Inverno “com intensificação das atividades em interior e outros vírus respiratórios”.
Acresce que se aproxima a época natalícia “com mobilidades e concentrações diversas e com convívios sem medidas de proteção individual”. Nesta situação, sobe o risco de um aumento exponencial do número de casos, existindo a hipótese de se “duplicar ou triplicar em poucas semanas”. “Apesar da proteção de formas graves, o aumento absoluto de casos graves poderá aumentar proporcionalmente”, alertou Raquel Duarte.
Entre as recomendações feitas pela perita está também a utilização da máscara com regularidade, sobretudo em ambientes fechados, no contacto com pessoas fora do círculo familiar e social restrito ou em situações onde a distância não é uma medida fácil de cumprir.
“Já sabíamos que a pandemia não tinha terminado e sabemos que ainda não terminou. O tempo de agir é agora de forma a garantir que mantemos a situação controlada“, concluiu a ex-secretária de Estado da Saúde.
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