Altice diz que licenças do 5G custaram mais do que o esperado. Sobra “menos dinheiro” para investir na rede
CEO da Altice Portugal diz que as licenças do 5G custaram mais "do que era expectável", reduzindo a capacidade do setor de investir na construção da rede. Meo lança 5G a 1 de janeiro.
O CEO da Altice Portugal admitiu esta segunda-feira que o investimento na compra das licenças do 5G ficou “acima do que era expectável”, pelo que sobra “menos dinheiro” para investir na construção da rede. A empresa aplicou 125,23 milhões de euros na aquisição de espetro no leilão da Anacom.
“Vamos ter sempre menos investimento 5G do que teríamos se tivéssemos gastado menos dinheiro na aquisição das licenças”, alertou Alexandre Fonseca, numa intervenção na conferência Fábrica 2030, na qual também revelou que a Meo vai lançar o 5G no dia 1 de janeiro (o ECO confirmou depois que o lançamento acontecerá à meia-noite, na viragem do ano). Das três grandes operadoras, é a única que ainda não iniciou a exploração comercial da tecnologia.
O gestor reforçou que a capacidade de investimento das operadoras seria maior “se os preços tivessem sido mais razoáveis”, criticando a Anacom por promover “artificialmente” o encarecimento do espetro. Mesmo assim, assegurou que a Meo vai “desde o dia 1” de janeiro “avançar com 5G nacional, em todo o país”.
Alexandre Fonseca explicou também que a cobertura de 5G não será “universal”, da mesma forma que não o é no atual 4G, que “chega a 99,5% da população”. Para colmatar os 0,5% de população que ainda não têm cobertura, o gestor voltou a apelar a “coinvestimentos” do Estado e dos privados na expansão da infraestrutura de comunicações eletrónicas às zonas que não são capazes de atrair investimento privado por si só.
As receitas de mais de 500 milhões de euros do leilão do 5G, bem como o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), seriam dois instrumentos a aproveitar para a realização desses coinvestimentos. Mas, na visão do CEO da Altice Portugal, o Governo já deu passos em falso em ambas as vertentes, ao ter canalizado receitas do leilão para a “construção de autoestradas em betão”, por um lado, e por “três quartos do PRR” serem canalizados para o Estado, ao invés das empresas, por outro. “Há Estado a mais e empresas a menos do PRR”, criticou o gestor.
Em concreto, sobre os fundos europeus da chamada bazuca, Alexandre Fonseca disse não ver “no PRR português bons exemplos de outros países”. E acrescentou: “O PRR de Espanha prevê a capacidade de se investir em zonas brancas de conectividade, onde não há cobertura de nenhum operador, e existe capacidade de fazer coinvestimento entre público e privado para a rede chegar onde não há capacidade para fazer esses investimentos.”
"Vamos ter sempre menos investimento 5G do que teríamos se tivéssemos gastado menos dinheiro na aquisição das licenças.”
Alexandre Fonseca quer reformas
A conferência Fábrica 2030 do ECO, que decorre esta terça-feira no Porto, tinha como mote a pergunta “como pôr Portugal a crescer?”. Alexandre Fonseca aproveitou a deixa e elencou “três reformas” estruturais que defende serem necessárias para desbloquear crescimento económico em Portugal.
A primeira é a “reforma da Justiça”, para que “funcione de forma rápida e expedita”, resolvendo de forma mais célere os processos envolvendo as empresas. A segunda é uma “reforma fiscal”, para “atrair investimento” estrangeiro, como capital de risco e business angels, e para reter aquele que já está a ser feito no país. A terceira reforma pedida por Alexandre Fonseca é a “reforma das políticas laborais”, para aumentar a produtividade. “São as minhas respostas ao desafio de pôr Portugal a crescer”, afirmou.
O gestor enalteceu a qualidade das infraestruturas de comunicações instaladas no país, mas alertou para a falta de literacia digital da população e até dos empresários e gestores. Afirmando que não basta ter email e um site, o CEO da Altice Portugal apontou para a necessidade de pensar em “novos modelos de negócio” e no uso da tecnologia para alavancar a internacionalização do tecido empresarial.
De seguida, o responsável defendeu que o país deve apostar na formação dos jovens com competências digitais e na qualificação de adultos em idade ativa. “A digitalização é uma realidade incontornável a nível global. Portugal continua a ter um mau posicionamento nos rankings no que toca à inclusão e literacia digital e as competências digitais da população ativa são baixas, inexistentes ou muito básicas”, disse, acrescentando: “Não podemos pedir milagres aos gestores e funcionários.”
Na mesma intervenção, o CEO da Altice Portugal criticou ainda a falta de comunicação entre o Estado e as empresas, dando até como exemplo o setor da saúde, onde dois hospitais públicos não partilham informação ou um utente é forçado a repetir exames de diagnóstico quando é seguido no privado e no público. Na Administração Pública, o gestor criticou os sistemas proprietários, que fazem com que não haja partilha de informação entre serviços públicos e até entre ministérios no Governo.
“Temos de ser capazes de combater a iliteracia digital, garantir um acesso democrático às tecnologias da informação e do conhecimento e pôr as empresas no centro da economia. É fundamental termos um Estado com mais qualidade nas suas competências digitais, nos seus serviços e na sua liderança”, rematou o gestor.
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