Economia do Norte já tem mais empregos e exportações do que antes da Covid
Estudo da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte avalia os impactos da pandemia, comparando-os com as duas anteriores recessões, e faz contas à recuperação económica da região.
A economia do Norte está quase recuperada dos principais impactos negativos da pandemia, com um estudo publicado esta segunda-feira a mostrar que os valores registados nos principais indicadores já superam os observados no período anterior à crise pandémica (2019). É o caso do emprego – depois do regime de lay-off ter abrangido mais de 325 mil trabalhadores da região – e também das exportações de mercadorias. A exceção são os resultados ligados ao turismo, ainda distantes dos níveis pré-Covid.
A população empregada no terceiro trimestre deste ano (1,73 milhões de pessoas) não só é a mais elevada desde o surgimento do novo coronavírus, como fica já 4,2% acima do período homólogo de 2019. Há agora mais 69.800 pessoas com emprego na região do que antes da pandemia. Destaca-se a subida, em termos líquidos, nas áreas da educação (+29.800), recuperação de automóveis e motas (+34.400) e no setor terciário superior (+43.200), que inclui as grandes empresas comerciais ou os serviços especializados da banca, saúde, transportes ou seguradoras.
“A crise pandémica induziu um aumento da procura de serviços associados a novas formas de distribuição de bens e serviços e a novos modos de organização empresarial, como o teletrabalho. Como exigem recursos humanos mais qualificados e com competências tecnológicas e digitais, alguns ramos pertencentes ao terciário superior observaram um crescimento significativo do emprego em contexto de crise”, frisa o relatório. Ao invés, os prejudicados foram os mais jovens e com contratos mais precários e temporários.
Apresentado por Vasco Leite, coordenador do Centro de Estudos do Território e da Região da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), o estudo mostra que este crescimento do emprego durante 2021, na ressaca de uma recessão de “magnitude histórica”, fez cair a taxa de desemprego na região para 6,1% no terceiro trimestre – fica inclusive abaixo da verificada em igual fase de 2019 (6,8%) – e salienta uma “recuperação significativa” no comércio internacional.
O valor das exportações com origem no Norte do país já está 3% acima do terceiro trimestre de 2019, “período no qual a crise pandémica não se fazia sentir nem o funcionamento das cadeias de valor internacionais estava condicionado”, ressalva o mesmo documento. E tal como acontecera no período de recuperação da intervenção da troika, “o peso exportador do Norte e a experiência das empresas no comércio externo foram importantes para a superação da crise pandémica”.
Cenário distinto atravessa ainda o turismo. Apesar de a performance em termos de ocupação durante este verão ter ficado longe da hecatombe ocorrida em 2020, com uma recuperação de 43,9%, as estatísticas compiladas pela CCDR-N mostram que as dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico da região ainda estiveram num “nível significativamente inferior” (-28,2%) ao dos três meses de calor de 2019.
O Norte é a melhor alavanca social e produtiva para ajudar a colocar Portugal em terreno positivo.
Na abertura do evento anual “Norte 2020”, em que anunciou um novo recorde na execução de fundos comunitários e pressionou o avanço do processo da regionalização, António Cunha, presidente da CCDR-N, sublinhou que “a resposta que o Norte der na saída desta crise é determinante para a recuperação nacional” e que a região “é a melhor alavanca social e produtiva para ajudar a colocar Portugal em terreno positivo”. “Sabemos, historicamente, que a superação das crises económicas que afetaram o país começou aqui e dependeu dos atores do Norte”, acrescentou.
Moratórias “pouparam” o sistema produtivo
O PIB português diminuiu 8,4% em 2020 e no Norte, apesar de ainda não ser conhecido o valor da recessão relativo a esse ano, “os sinais e indicadores apontam para uma queda próxima” da ocorrida a nível nacional. As horas de trabalho da população empregada na região, um indicador proxy do PIB, tiveram uma “redução histórica” de 8,5% em 2020, bem acima das quedas nas recessões anteriores: -3,4% em 2009, em plena crise financeira internacional; e -4,3% em média anual entre 2011 e 2013, durante a implementação do programa de assistência financeira.
No caso particular da indústria transformadora nortenha, as horas de trabalho baixaram mesmo 11% no ano passado, em virtude da paragem completa ou parcial da produção em vários setores. A intervenção do Estado, com o lay-off e as moratórias em evidência, “atenuou de forma significativa” as consequências a nível laboral, mas “em todo o caso não foi capaz de evitar a destruição de cerca de 14.350 postos de trabalho”. Porém, à boleia da recuperação das vendas ao exterior em 2021, as fábricas do Norte estão agora com um nível de emprego “praticamente igual” ao que havia antes da pandemia.
Finalmente, o estudo do impacto da Covid-19 na região, apresentado pela CCDR-N numa conferência digital em que participaram os economistas Ana Teresa Lehmann e Luís Aguiar-Conraria, evidenciou o “impacto significativo” das moratórias na redução do risco de incumprimento dos agentes económicos da região, sublinhando que “salvaguardou-se o equilíbrio do sistema financeiro nacional e do sistema produtivo do Norte”.
“Nos próximos anos, num quadro de um aumento do crescimento económico e dos instrumentos de capitalização das empresas, do reforço da competitividade e da solvabilidade destas últimas, será um fator importante para suavizar o esforço de liquidez que vai ser necessário para amortizar a dívida acumulada durante a crise pandémica”, alertou o organismo público liderado por António Cunha, ex-reitor da Universidade do Minho.
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