Queda do PIB em 2020 foi a maior desde 1954
Já se suspeitava que esta teria sido uma das maiores quedas de sempre, mas agora chega a confirmação de que foi a maior desde pelo menos 1954, segundo uma série longa do INE e Banco de Portugal.
As novas séries longas para a economia portuguesa publicadas esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e pelo Banco de Portugal confirmam que a queda de 8,4% do produto interno bruto (PIB) em 2020, por causa da pandemia, não tem paralelo na história recente do país.
Numa série estatística que vai de 1954 a 2020, a contração da economia registada no ano passado é a maior em termos percentuais, correspondendo a mais do dobro da segunda maior queda anual do PIB registada neste período. Tal corresponde à contração de 4% registada em 2013, o ano mais complicado do resgate da troika.
No ano de 2020, marcado pelos efeitos económicos da pandemia, o PIB encolheu para 200,1 mil milhões de euros, sendo que a quebra das exportações e do consumo privado explicam a maior parte da contração da economia. Na ótica da produção, o VAB (valor acrescentado bruto) caiu 7,2%, mas há grandes diferenças entre os vários setores: alojamento e restauração e o dos transportes e armazenagem caíram a pique, ao passo que a construção e os serviços de informação e comunicação até cresceram.
Evolução da taxa de crescimento do PIB entre 1954 e 2020
“De uma forma geral, as atuais bases de produção estatística regular sobre contas nacionais de ambas as instituições apenas dispunham até aqui de dados a partir de meados dos anos 90 do século XX“, explicam o INE e o BdP em comunicado, esclarecendo que “o grupo de trabalho retropolou as séries históricas de forma compatível com aquele referencial metodológico até aos anos 40, respeitando na medida do possível os conceitos atuais, disponibilizando agora séries longas para as principais grandezas estatísticas de contas nacionais portuguesas”.
Em contraste, o maior crescimento percentual anual do PIB ocorreu em 1962 com uma subida de 10,2%, numa altura completamente diferente do desenvolvimento da economia portuguesa e mundial. Em 1965 e em 1972 o PIB português também registou crescimentos acima de 9%.
O ritmo de crescimento da economia portuguesa desacelerou gradualmente nas últimas décadas do século XX, mas o travão maior chegou com a viragem do século. Como mostram os dados, o PIB médio da década deixou de crescer mais de 3% por ano para 0,9% nas duas primeiras décadas do século XXI. Tal coincide com diversas mudanças económicas como a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMS), a entrada na Zona Euro, o alargamento da União Europeia a leste, entre outros fatores.
“Destaca-se, em primeiro lugar, a sua expressiva variabilidade, que se traduziu, por exemplo, em nove anos com taxas de variação negativas – a primeira das quais em 1975 – e em 16 anos com taxas superiores a 5%, a última das quais em 1990”, detalham o INE e o BdP, confirmando que “verificou-se uma diminuição do ritmo de crescimento ao longo das últimas décadas”.
Em relação ao PIB per capita, as conclusões são semelhantes: após um crescimento anual médio de 3,9% na segunda metade do século passado, “esta situação inverteu-se, porém, nos últimos 20 anos, refletindo o reduzido crescimento da economia portuguesa” para um crescimento de apenas 0,3%.
Contudo, é de notar que “este valor está muito influenciado pelos efeitos da pandemia em 2020 – excluindo este ano o crescimento médio foi de 0,8%”.
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