Juízes denunciam falta de espaço no Ticão para caso BES, mas Governo nega falta de condições
Ivo Rosa adiu parte da instrução do BES por falta de espaço no novo Ticão que o Ministério da Justiça nega que exista. Juiz presidente de Lisboa sublinha essa mesma falta de condições.
A instrução do processo GES — cuja abertura está marcada para finais de fevereiro — foi adiada, parcialmente, devido à falta de salas no novo Ticão de dimensão adequada para aquele que é o maior processo da justiça portuguesa. Esse foi, pelo menos, o sentido do despacho de Ivo Rosa que anunciou às partes esse mesmo adiamento, na semana passada. Porém, o Ministério da Justiça recusa que o novo Ticão não tenha condições para receber mega processos e fez, a pedido do ECO, uma descrição exaustiva das novas instalações afetadas ao tribunal de instrução dedicado à criminalidade económica.
Porém, o juiz presidente da comarca de Lisboa, Artur Cordeiro, sublinha ao ECO/Advocatus que essa falta de espaço é uma realidade. “A elevada carência de espaço, no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, para a realização de diligências no âmbito de processos de grande dimensão e elevado número de intervenientes processuais tem sido objeto de várias comunicações ao longo dos anos, aguardando-se os procedimentos necessários com vista à criação de um maior número salas de diligências com as dimensões necessárias”, explica Artur Cordeiro, quando questionado diretamente sobre o adiamento da instrução do caso GES.
Mas o Ministério da Justiça insiste e explica, inclusive, que “a presidência do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa não reportou ao MJ qualquer necessidade adicional relativa a espaços a afetar ao Tribunal Central de Instrução Criminal”.
O processo em causa é composto por 767 volumes, entre autos principais, arrestos, incidentes de oposição e apensos bancários e 171 volumes de autos principais, processados até à data da distribuição em 687.398 folhas. Mais todos os apensos bancários, de buscas e diversos (mais de duas centenas) e equipamentos informáticos apreendidos. A acusação conta com 3.552 folhas, assinadas por sete procuradores. Só advogados dos arguidos são 27.
A instrução deste processo BES estava marcada para os dias 23 e 24 de fevereiro e para os dias 28, 29, 30 e 31 de março. Mas, algumas destas datas foram adiadas por falta de salas de audiência disponíveis no novo Ticão. Assim, a primeira data que será, oficialmente, a do início da instrução do processo que envolve Ricardo Salgado, será a dia 24 de fevereiro.
Ivo Rosa, no despacho que enviou às partes é claro: “com a integração do TCIC no TIC de Lisboa e com a consequente mudança de instalações, fomos confrontados com a ausência de condições, não só para acomodar o processo, o que obrigou ao desmantelamento da maior sala de diligências, bem como para a realização dos atos de instrução. A maior sala de diligências disponível neste tribunal tem apenas capacidade para 10 advogados, o que é manifestamente insuficiente, tendo em conta o número de arguidos e assistentes”, pode ler-se no despacho, a que o ECO teve acesso. “Foram feitos esforços no sentido de reservar a sala do Piso 3 do Edifício A, o que não foi possível porque já com diligências agendadas não existe sala disponível” com capacidade para acolher a instrução do caso BES, segundo mesmo despacho.
A investigação ao Universo Espírito Santo resultou em 30 acusados, entre 23 pessoas e 7 empresas, num total de 356 crimes imputados. Ricardo Salgado é o principal arguido.
Como ficou então o novo Ticão, segundo o Ministério da Justiça?
- Número de juízes no TCIC – Oito (três mulheres e cinco homens).
- A área a ocupar pelo TCIC corresponde àquela que foi inicialmente projetada para o funcionamento de um TIC com 10 juízes – área total de trabalho dos pisos 0, 1 e 2 (1.379,70m2).
- Em especial, são os seguintes os espaços disponíveis para o TCIC: Secção central com cerca de 101 m2; secção de processos com cerca de 325 m2 (cerca de 14 m2 por oficial de justiça, considerando um número médio de oficiais de justiça de cerca de 23); oito gabinetes individuais destinados a juízes (cada um deles com cerca de 21 m2); seis salas para diligências (com cerca de 36 m2 a 54 m2): uma sala de diligências (atualmente ocupada com dois processos de grandes dimensões).
- Espaços extra – Dois gabinetes para serviço de turno; dois gabinetes de reserva; uma sala para inquirições; cinco salas de videoconferência; uma sala de arquivo; uma biblioteca; uma sala de advogados; cinco salas de arquivo, com a área total de 290 m2 e 1.547 metros lineares de estantes.
- Outros espaços que podem vir a ser afetos ao trabalho do TCIC – Salas de audiências dos edifícios A, B e F (que partilham zonas de circulação e esquemas de segurança com o TCIC); uma sala com 160 m2 – edifício A; duas salas, cada uma com cerca de 150 m2 – edifício A; duas salas de audiências com 200 m2 e 350 m2, respetivamente (Monsanto).
- Segurança – As instalações do TCIC beneficiam de adequados mecanismos de segurança passiva e de segurança ativa, neste último caso proporcionados pela PSP, que dispõe de uma esquadra dedicada aos tribunais instalados no Campus da Justiça, e por segurança privada. Por outro lado, as salas de diligências, os gabinetes dos juízes e as secções de processos serão instalados em zonas do edifício resguardadas do público.
- Oficiais de justiça afetos ao TCIC – Em média, estarão afetos ao TCIC cerca de 23 oficiais de justiça. A estes acrescem mais três oficiais de justiça, em exercício de funções na Direção-Geral da Administração da Justiça, que colaboração no tratamento de dados a integrar no Sistema Integrado de Informação Processual.
- Assessoria técnica – O Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, que dispõe de quatro assessores, colocou à disposição do TCIC três assessores.
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