Ucrânia prepara-se para dificultar acesso às suas bases de dados por parte da Rússia
A centralização das redes informáticas em Kiev é fundamental para os planos de contingência cibernéticos ucranianos, a par com múltiplas cópias de segurança das suas bases de dados.
Depois de, em janeiro, ter sido alvo de um grande ciberataque contra vários sites governamentais, ao qual se seguiu um novo ciberataque contra sites estatais e do setor bancário este mês, a Ucrânia está a preparar uma limpeza dos seus servidores informáticos e a transferência dos seus dados sensíveis para fora de Kiev, no caso de as tropas russas avançarem para tomar a capital, revelou um alto funcionário de cibersegurança do país ao Politico (acesso livre, conteúdo em inglês).
A pior previsão dos planos de contingência incide sobre uma consequência não intencional de uma medida de cibersegurança que o Governo ucraniano tomou em 2014, quando começou a centralizar os seus sistemas informáticos após a Rússia e os separatistas pró-Moscovo terem tomado o controlo da península da Crimeia e da região do Donbass, cujas “repúblicas populares” de Donetsk e Lugansk foram reconhecidas pelo Presidente russo na passada segunda-feira.
A medida em causa terá tornado mais difícil para hackers da Rússia — que as autoridades ucranianas dizem ter provas do seu envolvimento nos recentes ciberataques — lançarem ataques informáticos em Kiev, ao dificultar o acesso a computadores que armazenam dados críticos e fornecem serviços como pensões, bem como o uso de redes anteriormente geridas pelo Governo ucraniano nos territórios ocupados. No entanto, criou ao mesmo tempo um alvo tentador na capital para os militares russos, que começaram a deslocar-se para as regiões controladas pelos separatistas pró-russos na Ucrânia oriental.
Para não correr o risco de Moscovo conseguir aceder a documentos classificados e a informação detalhada sobre a população sob o seu controlo, a administração do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, diz ter planos e cenários para prevenir o acesso às redes informáticas do país. “Podemos mudar [os serviços informáticos] para novos locais, podemos guardar dados e podemos apagar dados e impedir o acesso a todos estes dados“, mesmo que a Rússia assuma o controlo dos escritórios do Governo, disse o subdiretor do Serviço Estatal de Comunicações Especiais e Proteção de Informação da Ucrânia, Viktor Zhora, numa entrevista a partir de Kiev.
No caso de Moscovo apreender as palavras-passe dos serviços governamentais no cenário de uma invasão militar à Ucrânia, as equipas cibernéticas das agências ucranianas já receberam ordens para “cortar rapidamente o acesso a estas contas comprometidas”, apontou. Mas a Rússia não encontrará “quaisquer dados sensíveis” nos computadores dos funcionários do Governo, uma vez que se encontram armazenados em sistemas centrais em Kiev, e foram desenvolvidos planos para desativar essa infraestrutura e transferir dados de reserva para posições de reserva, se necessário, explicou o responsável.
Perante a constante ameaça russa, sobretudo desde a anexação da Crimeia em 2014, a Ucrânia tem investido num sistema informático centralizado, gerido a partir de Kiev, abandonando assim um sistema de redes geridas localmente. A evolução tecnológica ajudou à modernização digital do país, em particular uma internet mais rápida que criou “uma oportunidade de utilizar tecnologias web e de fornecer acesso centralizado a todos os recursos necessários”, sublinhou Zhora.
O subdiretor do Serviço Estatal de Comunicações Especiais e Proteção de Informação da Ucrânia disse ainda suspeitar que as forças russas conseguiam extrair as bases de dados deixadas para trás nas regiões ocupadas, apesar dos esforços da Ucrânia para encriptar dados e destruir discos rígidos. “A capacidade de aceder a uma base de dados de cidadãos locais que vivem ou viveram em territórios ocupados é um recurso valioso“, disse Zhora, porque ajuda os atacantes a “compreender a população”.
“Não quero considerar este cenário absolutamente terrível de ataque a Kiev. Esperemos que isto não aconteça”, acrescentou Zhora, ressalvando que, em qualquer caso, acredita “que serviços e agências responsáveis […] vão implementar cenários preparados para mover dados sensíveis, juntamente com equipamento, e para instalar novos sistemas informáticos [em] novos locais”.
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