O que representa para a guerra o míssil hipersónico disparado pela Rússia?
Impossível de parar pelos sistemas antiaéreos ucranianos, a utilização do míssil Kinzhal é vista como a demonstração do poder militar russo e um aviso à Ucrânia e ao Ocidente.
Chamam-se Kinzhal, que significa punhal em português, e são capazes de atingir uma velocidade várias vezes superior à do som. Segundo o Ministério da Defesa Russo estes mísseis hipersónicos foram usados pela primeira vez no conflito para atingir depósitos de armas no oeste da Ucrânia. Os especialistas veem no lançamento um aviso ao Ocidente.
O Kinzhal foi apresentado pelo Vladimir Putin há quatros anos, como uma das novas armas “invencíveis” ao dispor das forças armadas russas. De acordo com o site do Center for Strategic and International Studies (CSIS), um think tank sedeado em Washington, o míssil acelera rapidamente até aos 4.900 km/h após o lançamento, podendo atingir os 12.350 km7h, ou dez vezes a velocidade do som.
Pode percorrer entre 1.500 e 2.000 quilómetros transportando uma bomba convencional ou nuclear e terá cerca de oitos metros de cumprimento por um de largura. O CSIS desvaloriza a excecionalidade do termo “hipersónico”, já que quase todos os mísseis balísticos atingem velocidades hipersónicas, acima de mach 5, em determinada fase do trajeto.
Foi entretanto partilhado um vídeo no Twitter pelas forças armadas russas, mostrando alegadamente um depósito de mísseis e munições para aviões a ser atingido por um míssil Kinzhal, perto da cidade de Ivano-Frankivsk. A Ucrânia ainda não confirmou o ataque.
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Especialistas ouvidos pela BBC, consideram que a utilização do míssil aponta para uma nova escalada no nível do conflito e um sinal de força perante o Ocidente.
James Bosbotinis, especialista em defesa e assuntos internacionais, afirmou à televisão britânica que as forças ucranianas não têm capacidade para se defender destes mísseis. “A velocidade do Kinzhal coloca-o fora do alcance de qualquer sistema de defesa aérea ucraniano e as plataformas de lançamento podem estar a distâncias além do alcance da Ucrânia”, disse.
O alvo visado envia “uma mensagem para a Ucrânia de que a Rússia tem os meios para escalar ainda mais este conflito … É também um aviso para o Ocidente de que a Rússia pode, é claro, aumentar a aposta na Ucrânia e o Kinzhal também pode ser usado se a guerra escalar e atrair em poderes externos”, acrescentou Bosbotinis.
“É um sinal de exibicionismo. Mesmo que seja usado, devemos considerá-lo como um momento isolado, porque a Rússia não possui um grande número destes mísseis“, afirma Dominika Kunertova, do Center for Security Studies, em Zurique, também à BBC.
Dominika Kunertova também considera que se trata de “um sinal para o Ocidente. Putin está irritado porque o Ocidente se atreve a enviar todas estas armas [para a Ucrânia]”. Considera, no entanto, que a precisão do míssil é questionável e não o vê como um “game changer” na guerra.
Uma visão partilhada por James Acton, especialista em armamento militar do Carnegie Endowment for International Peace: “Não acho que seja assim tão significativo. Não sei que grande vantagem é que a Rússia poderá ter ao usar mísseis hipersónicos”.
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