Marcelo avisa Costa que não pode sair a meio do mandato
O Presidente da República deixou alertas sobre a "pandemia da inflação", avisou que maioria absoluta não é "poder absoluto" e disse claramente a Costa para não sair para um cargo europeu.
No discurso da tomada de posse do terceiro Governo de António Costa, o Presidente da República fez um aviso a António Costa que vai ser relembrado nos próximos ano: “Não será politicamente fácil que esse rosto que venceu de forma incontestável e notável as eleições possa ser substituído por outro a meio do caminho“. Com a especulação sobre uma eventual saída do primeiro-ministro para presidente do Conselho Europeu em 2024, Marcelo Rebelo de Sousa antecipou-se e deixou claro que conta com Costa até ao final do mandato. Ou seja, não o “deixará” sair.
Esta foi uma das citações marcantes do discurso de Marcelo esta quarta-feira na cerimónia de tomada de posse do novo Governo. O Presidente da República começou o seu discurso pela situação provocada pela invasão russa na Ucrânia e passou ainda pela “pandemia da inflação” até chegar às questões políticas, nomeadamente a maioria absoluta, a qual não corresponde a “poder absoluto ou a ditadura da maioria” pelo que exige “todos os diálogos de interesse nacional”, incluindo partidos, parceiros, setores sociais, económicos, culturais e políticos.
No aviso à continuação de Costa, Marcelo argumentou que os portugueses “deram maioria absoluta a um partido, mas também a um homem”, referindo que foi António Costa quem “personalizou o voto” ao colocar a eleições nos termos da escolha entre duas pessoas: ele ou Rui Rio. E, por isso, não pode abandonar o país, o que se tornou “ainda mais difícil” a partir de 24 de março, o dia que marca o início da invasão russa na Ucrânia. “É o preço das grandes vitórias“, vincou.
Até porque os portugueses tiveram a oportunidade de fazer outra escolha, lembrou Marcelo: ter um Governo de direita como entre 2011 e 2015, ter uma situação de equilíbrio entre PS e PSD ou manter o equilíbrio das forças à esquerda com a geringonça. “Escolheram outro caminho: não manter o que havia, mas mudar, dando ao partido de Governo uma maioria absoluta”. Para o Presidente da República, esse resultado eleitoral “proporciona condições excecionais para, sem desculpas ou álibis, poder fazer o que tem de ser feito”.
Sobre o seu papel, Marcelo prometeu vigiar as “distrações e adiamentos quanto ao essencial, autocontemplações, deslumbramentos, tentando evitá-los para não ter de intervir a posteriori”. E lembrou que foi o próprio primeiro-ministro que na campanha eleitoral disse que o Presidente da República seria a “garantia” contra excessos de uma eventual maioria absoluta do PS, a qual viria a concretizar-se.
Da pandemia da saúde para a pandemia da inflação
Após ter feito um discurso sobre as consequências geopolíticas da invasão da Rússia na Ucrânia, Marcelo Rebelo de Sousa disse que “como em todos os tempos da guerra, da pandemia e da invasão russa, [os portugueses querem] segurança, estabilidade e unidade no essencial, concentração no decisivo“.
No caso da pandemia da saúde, o Presidente da República notou que é preciso “garantir que não esquecemos a lição destes dois anos de pandemia”, nomeadamente o facto de não sermos “uma ilha nem oásis imune ao que se passa à nossa volta”. Assim, recomendou ao Governo que haja uma vacinação “atempada”, antes do próximo inverno, para evitar uma nova situação de “abre e fecha” por causa da Covid-19. “Tratar bem da pandemia da saúde implica também reformar com brevidade e bem o Serviço Nacional de Saúde (SNS)“, lembrou.
No caso da pandemia da inflação, o Presidente da República reconheceu a subida da taxa de inflação, em particular dos preços da energia, pelo que é preciso “atenuar o choque no bolso dos mais pobres e carenciados”. Em suma, “garantir que tudo que seja possível se fará para proteger o custo dos bens básicos” para que o país “não passe da pandemia da saúde para a pandemia da inflação”.
Mesmo assim, Marcelo alertou para a “imprevisibilidade económica” da situação geopolítica desde o final de fevereiro, o que exigiu “correções de expectativas, previsões, políticas, várias delas pensadas para o mundo antes da guerra”. “Temos todos de evitar a estagflação“, apelou, assinalando a necessidade de garantir que os fundos europeus “avancem depressa no terreno” para que haja “crescimento sólido e duradouro” e que, no final, haja “alguma coisa de muito diferente possa ficar além das pandemias vividas”.
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