António Ramalho deixa liderança do Novobanco em agosto, mas fica como consultor
Presidente executivo do Novobanco anunciou ao Conselho Geral e de Supervisão que planeia deixar o cargo de CEO no início de agosto.
António Ramalho vai deixar a liderança do Novobanco em agosto. A notícia foi avançada pelo Jornal de Negócios e o Jornal Económico e confirmada pelo ECO. A decisão foi comunicada pelo próprio, esta quinta-feira, ao Conselho Geral e de Supervisão.
“O CEO do Novobanco, António Ramalho, comunicou hoje ao Conselho Geral e de Supervisão (CGS) a sua intenção de deixar as funções executivas que atualmente desempenha em agosto, e apoiar o processo de transição para o seu sucessor”, diz o comunicado divulgado ao início da tarde pela instituição financeira.
“Apresentando o banco, pela primeira vez, lucros consolidados ao longo de quatro trimestres consecutivos, bem como da realização de outros importantes marcos, incluindo o regresso ao mercado de capitais, o lançamento de uma nova marca e um novo modelo de negócio, António Ramalho considera ser este o momento para passar a pasta a um novo CEO que lidere o banco no futuro“, justifica o comunicado.
António Ramalho não se vai desligar por completo da instituição. Ainda será ele a apresentar os resultados do primeiro semestre de 2022, deixando o cargo no início de agosto mas mantendo-se a prestar serviços de consultoria e assessoria, com reporte direto ao presidente do conselho geral e de supervisão (CGS).
O Novobanco informa ainda que “vão ser desencadeados pelo órgão competente, o comité de nomeações do CGS, os procedimentos com vista à sua sucessão, e as suas conclusões serão anunciadas oportunamente, logo que concluído o processo”.
Seis anos marcados por polémicas
O gestor entrou para a liderança do Novobanco em 2016, vindo da Infraestruturas de Portugal, sucedendo no cargo a Eduardo Stock da Cunha. Foi o líder da instituição durante o plano de reestruturação, iniciado após a venda de 75% do capital à Lone Star e que contou com 3,9 mil milhões de euros do polémico mecanismo de capital contingente do Fundo de Resolução.
A quase totalidade daquele montante foi financiado pelo Estado e é garantido pelos contribuintes, o que motivou críticas contundentes dos vários partidos. Em maio passado, o Tribunal de Contas divulgou um relatório de auditoria onde estima que as ajudas públicas possam chegar aos 10,8 mil milhões de euros. Os restantes bancos também contestaram a solução encontrada para viabilizar a venda ao fundo norte-americano, já que são eles que têm de pagar a conta do Fundo de Resolução.
A notícia da saída do CEO surge após a Lone Star ter mantido a confiança em António Ramalho na avaliação que fez sobre a sua atuação na sequência das notícias que davam conta de um alegado tratamento preferencial dado a Luís Filipe Vieira, antigo presidente da Benfica SAD e um dos maiores devedores do Novobanco.
O acionista norte-americano adiantou ao ECO que “não surgiram provas” que comprometem a idoneidade do CEO do Novobanco, sublinhando que António Ramalho agiu com “total integridade” com Luís Filipe Vieira. Foi este o resultado da auditoria interna para avaliar a conduta de António Ramalho, conduzida pelo CGS.
A idoneidade do gestor para se manter no cargo estava também a ser avaliada pelo BCE, segundo noticiou o Público em janeiro. O regulador respondeu ao jornal que estava “neste momento, a investigar a matéria”.
A chamadas de capital do mecanismo de capital contingente também criaram tensões crescentes com o Governo. Apesar de ter registado um lucro de 184,5 milhões de euros em 2021, os primeiros resultados anuais positivos desde que foi criado em 2014, o Novo Banco pediu mais 209 milhões de euros ao Fundo de Resolução, o que mereceu uma oposição frontal do Fundo de Resolução e do anterior ministro das Finanças.
“Não vai ser necessário a injeção. Partilhamos a perspetiva do Fundo de Resolução”, afirmou João Leão. António Ramalho anuncia que deixa a liderança do Novobanco um dia depois de tomar posse o novo Governo de maioria absoluta de António Costa.
Acionista deixa elogios
“Faço questão em agradecer a António Ramalho a sua liderança ímpar, a sua dedicação e o seu contributo para garantir a viabilidade de longo-prazo do Novobanco”, afirma Byron Haynes, presidente do CGS em representação da Lone Star, citado no comunicado. O responsável salienta a limpeza do balanço do legado do BES, a nova marca ou a definição de um modelo inovador de distribuição omnicanal.
A própria Lone Star também já reagiu, dizendo que “reconhece o contributo significativo de António Ramalho para o restabelecimento da operação do Novobanco em Portugal e o regresso do banco a uma rentabilidade sustentada”. “Esperamos que o António contribua para o desenvolvimento bem-sucedido do banco nos próximos meses e garanta uma transição suave e ordenada no início de agosto de 2022″, acrescenta.
António Ramalho sublinhou o “privilégio que constituiu a possibilidade de liderar uma vasta equipa num processo único e irrepetível, numa conjuntura adversa e em cujo sucesso poucos acreditavam, preservando um banco sistémico, milhares de postos de trabalho e um incontável número de empresas, e dessa forma o normal funcionamento da economia portuguesa”.
(Notícia atualizada ás 16h20 com reação da Lone Star)
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