Exclusivo Governo volta a injetar ‘sangue ferroviário’ na CP. Pedro Moreira sobe a presidente
Novo conselho de administração da transportadora pública ferroviária irá tomar posse nos próximos dias e volta a apostar num ferroviário para seu presidente.
Pedro Nuno Santos não precisou de ir muito longe para recrutar o novo presidente para a CP – Comboios de Portugal. O ministro das Infraestruturas e Habitação escolheu Pedro Moreira para liderar a transportadora pública ferroviária até ao final de 2024. A empresa vai voltar a ter ‘sangue ferroviário’ na presidência do conselho de administração, segundo sabe o ECO.
Presidente interino desde outubro de 2021 e vice-presidente da transportadora desde julho de 2019, Pedro Moreira é engenheiro de formação e um ferroviário. Tal como o antecessor, Nuno Freitas, o novo líder da CP construiu a carreira a partir das oficinas de manutenção ferroviária. Contactados pelo ECO, nem a CP nem o Governo fazem comentários.
Com licenciatura em Engenharia Eletrotécnica no ramo de Automação e Sistemas pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto, Pedro Moreira começou, em 1995, como técnico de manutenção de locomotivas e automotoras diesel nas então oficinas ferroviárias da EMEF.
Pouco depois da viragem do século, em 2002, o engenheiro acelerou a carreira e passou a engenheiro de produção dos comboios Alfa Pendular, com responsabilidade sobre o material circulante mais rápido da CP. Sete anos depois, em 2009, Pedro Moreira passou a gestor operacional destes comboios.
Antes de entrar para a vice-presidência da CP, Pedro Moreira foi o diretor da unidade de manutenção de Alta Velocidade da EMEF, responsável pela manutenção dos comboios Alfa Pendular. Este cargo tinha sido anteriormente ocupado por Nuno Freitas, entre 2009 e 2013.
Desafios operacionais
Pedro Moreira chega à liderança da CP três anos depois de a empresa ter iniciado a recuperação de dezenas de unidades que estiveram encostadas no Entroncamento, num processo que custou 12 milhões de euros. Se o material encostado tivesse sido comprado como novo, teria custado 120 milhões aos cofres do Estado, ou seja, foram poupados 108 milhões de euros.
Resolvida a parte da engenharia, a transportadora enfrenta dois novos desafios: conseguir garantir que há oferta suficiente para responder à procura de passageiros – houve mais passageiros nos primeiros três meses de 2022 do que em igual período em 2019, antes da pandemia; e ainda concretizar a encomenda de 117 novos comboios para o serviço suburbano e regional, no valor de 819 milhões de euros.
O novo líder da CP também tem de lidar com a dupla tutela, entre os ministérios das Infraestruturas e Habitação e das Finanças. A relação entre a empresa e o Governo central será desafiante, por exemplo, para obter autorizações para a compra de material para a manutenção de comboios.
A transportadora apenas poderá reganhar a desejada autonomia caso seja concretizada a reestruturação de 80% da dívida histórica. Contudo, o ‘perdão’ de 1,815 mil milhões de euros depende da aprovação da Direção-Geral da Concorrência: Portugal terá que provar que a dívida que é anulada é a que existia antes da liberalização do mercado, evitando uma ajuda de Estado. Praticamente toda a dívida histórica da empresa foi contraída em décadas anteriores por suborçamentação do Estado e que obrigou a transportadora a aumentar o passivo.
A demora na reestruturação da dívida foi o principal motivo para a saída de Nuno Freitas da CP, em 1 de outubro de 2021, a menos de três meses do final do mandato. À data, o gestor considerava que tinha concluída a missão que tinha, mas logo umas horas depois, Pedro Nuno Santos deixava perceber as verdadeiras razões. “Conheço as razões do eng. Nuno Freitas há muito tempo“, disse o ministro, “é compreensível o desalento” do gestor e “se dependesse de mim, estava resolvido“. Os desabafos de Pedro Nuno Santos tinham um alvo direto, o ministro das Finanças, João Leão, que tinha a tutela conjunta da CP com o Ministério das Infra-estruturas. “Há um momento em que nós próprios nos fartámos”, atirou o ministro. Entretanto, o Estado ‘livrou’ a CP de uma dívida histórica, decisão ainda à espera do regulador.
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