Portugal deixa de ter juros negativos na emissão a um ano
Portugal foi aos mercados financeiros financiar-se a curto prazo pela primeira vez desde que há sinais mais fortes de que o BCE irá subir os juros em julho por causa da aceleração da taxa de inflação.
Na primeira emissão de dívida de curto prazo desde que há sinais mais fortes de que o Banco Central Europeu (BCE) vai subir os juros em julho, perante a escalada da taxa de inflação, Portugal emitiu esta quarta-feira 875 milhões de euros a um ano a taxas positivas — ao contrário do que aconteceu nos últimos anos –, refletindo a subida dos juros no mercado secundário. A seis meses, a taxa manteve-se negativa, ainda que menos do que na emissão anterior.
De acordo com os dados da Reuters, nos títulos com maturidade a 12 meses, o IGCP financiou-se em 875 milhões de euros, com uma taxa de 0,236%, em comparação com -0,467% no leilão anterior. A oferta superou em 1,65 vezes a procura, face a 1,53 vezes no leilão anterior.
Desde 2017 que a dívida portuguesa a um ano não negociava com valores positivos no mercado secundário, excetuando um breve período quando foi decretada a pandemia de Covid-19. Esta quarta-feira a yield a um ano é de 0,11%, abaixo dos 0,236% exigidos pelos investidores — que estão a antecipar várias subidas de juros por parte do BCE — para emprestarem a Portugal a 12 meses.
Juros a um ano voltam a terreno positivo cinco anos depois
Nos títulos com maturidade a seis meses, o IGCP financiou-se em 625 milhões de euros, com uma taxa de -0,179%, face a -0,571% no leilão anterior. A oferta superou em 2,32 vezes a procura, menos do que o rácio de 2,6 do leilão anterior.
“As subidas dos prémios de risco que temos assistido nas últimas semanas tanto na dívida soberana como na dívida das empresas são fruto das condicionantes atuais e que muita pressão têm colocado sobre os bancos centrais“, explica Filipe Silva, analista do Banco Carregosa, em reação aos resultados da emissão, referindo que “com uma presença menos ativa do Banco Central Europeu do lado comprador, era expectável que as taxas subissem“.
Porém, o analista reconhece que “o ritmo a que tudo está a acontecer é que está a ser mais rápido do que se esperava, e quando tal acontece, o mercado ajusta fortemente até atingir novo ponto de equilíbrio“. Com o fim da era das taxas negativas, “Portugal precisa de gerir de uma forma mais cautelosa o novo custo que começa a ter para a sua dívida, para que tal não se torne outra vez num problema a prazo”, aconselha Filipe Silva.
A última emissão comparável foi realizada a 16 de março, após o início da invasão russa na Ucrânia e das primeiras decisões do BCE para acelerar a normalização da política monetária. Na altura, Portugal colocou 1.750 milhões de euros em Bilhetes do Tesouro, montante máximo indicativo, a seis e a 12 meses, com taxas de juro menos negativas: -0,467% a um ano e -0,571% a seis meses.
Esta quarta-feira o IGCP, a agência que gere a dívida pública, conseguiu assim colocar o valor mínimo do intervalo a que se tinha proposto, entre 1.500 e 1.750 milhões de euros. A entidade liderada por Cristina Casalinho anunciou na semana passada que esta quarta-feira iria emitir dívida a seis meses (novembro de 2022) e a 12 meses (maio de 2023).
(Notícia atualizada às 11h07 com mais informação)
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