“Cenário de maior incerteza e volatilidade de taxa de juro implica uma prudente gestão dos riscos”, alerta CFO do BCP
Miguel Bragança sublinha que o contexto atual obriga a um maior cuidado na gestão dos riscos pelo BCP e pelos clientes, mas também pode gerar oportunidades.
Miguel Bragança é um dos nomeados na categoria de melhor CFO na relação com os investidores da 34.ª edição dos Investor Relations and Governance Awards (IRGAwards), uma iniciativa da consultora Deloitte. Em resposta escrita a questões enviadas pelo ECO, o responsável salienta “que o cenário de maior incerteza e volatilidade de taxa de juro implica uma prudente gestão dos riscos”.
Licenciado em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade Católica, fez o MBA no INSEAD, tendo recebido o prémio Henry Ford II, atribuído aos alunos com média final mais elevada. Ao longo da carreira passou por várias instituições financeiras, como o Citibank Portugal e o Santander Totta. Entrou para o conselho de administração do BCP em 2012.
O gestor de 55 anos diz que é importante “ter a coragem e a humildade de alterar posições quando tal é necessário”. O que “implica necessariamente a capacidade de ouvir sobretudo as evidências que podem não confirmar as nossas visões a anteriori“.
Que desafios é que a aceleração da inflação está a criar para o negócio e de que forma é que o Millennium BCP está a responder a eles?
O crescimento do PIB português no primeiro trimestre de 2022 foi de 2,6% em cadeia e de 11,9% em termos homólogos, o que representa um crescimento significativo sobretudo quando comparado com os restantes países europeus, elevando inclusive o PIB para níveis superiores aos registados no período pré-pandemia.
A evolução favorável da economia portuguesa resulta em parte do dinamismo do consumo privado após um período de retração associado ao aumento dos níveis de poupanças durante os períodos críticos da pandemia (2020 e 2021), da reduzida taxa de desemprego, do nível de investimento, da contribuição positiva das exportações associadas sobretudo ao turismo.
O BCP está hoje mais forte e mais bem preparado para enfrentar desafios, atendendo à melhoria da qualidade do balanço e aos níveis de capital e liquidez. Ficou bem demonstrado durante a crise pandémica como essa força permitiu ao BCP desempenhar um papel fundamental no apoio às famílias e as empresas portuguesas, seja no seu esforço de adaptação à crise, seja na preparação para os novos desafios.
O aumento da inflação associado à disrupção das cadeias de valor e à subida de preços da energia, sobretudo energéticas, gera para os nossos clientes uma necessidade particular ao nível da adaptação do seu modelo de negócio e da gestão dos seus riscos. O BCP é um parceiro privilegiado para oferecer aos seus clientes soluções de gestão de risco, seja na cobertura dos custos de matérias-primas, seja no apoio ao desenvolvimento de novas cadeias de valor através das suas soluções de comércio internacional, seja na gestão dos riscos mais diretamente financeiros, como os riscos cambiais, de taxa de juro de liquidez. Adicionalmente, o BCP tem um forte valor acrescentado no apoio ao investimento que permite a adaptação do modelo de negócio, nomeadamente execução dos projetos que mais podem beneficiar do novo paradigma energético e digital.
A inflação trouxe também um novo ciclo de aumento das taxas de juro. Qual será a resposta do Millennium BCP a este novo enquadramento?
Conforme acima referido, este cenário de maior incerteza e volatilidade de taxa de juro implica uma prudente gestão dos riscos, seja para o BCP, seja para os seus clientes. A oferta de soluções competitivas de financiamento a taxa fixa a longo prazo para particulares, a postura de parceria no desenho das soluções de financiamento para empresas que beneficiem dos diferentes apoios Europeus e a oferta de soluções estruturadas para cobertura do risco de taxa de juro são claramente áreas de foco do BCP. Especialmente em relação aos clientes mais expostos a variáveis financeiras e aos investidores, também há um cuidado especial no acompanhamento da evolução dos mercados permitindo que estes beneficiem de oportunidades quando elas surgem. A cultura do BCP que enfatiza a banca de relação e de parceria na gestão dos riscos e o compromisso com a capacidade de resposta e a agilidade organizacional é crítica, de forma a responder às necessidades dos clientes, seja dos tomadores de fundos, seja dos investidores.
“Shaping human lives through sustainability and technology” foi o tema escolhido para a edição deste ano dos IRGAwards, num convite à reflexão sobre a maneira como funcionamos enquanto sociedade e o legado que deixaremos às gerações futuras. O que é urgente mudar para deixarmos às próximas gerações um legado melhor?
Temos todos de estar conscientes que o atual modelo de desenvolvimento da economia global não é sustentável. O forte crescimento do nível de vida que ocorreu desde a revolução industrial só foi tornado possível pela tecnologia e pela intensidade do consumo energético da produção. Todavia, as atuais fontes desse consumo energético são finitas pelo que, para manter ou idealmente continuar a crescer o nível de vida das populações, é necessário converter o modelo de produção energética num que não consuma recursos de tal forma limitados. Assim coloca-se um tema ao nível da economia global que implica utilizar a tecnologia para encontrar formas sustentáveis de produzir energia e de continuar a melhorar o nível de vida das populações apesar da provável menor intensidade energética da produção.
Adicionalmente, no caso de Portugal, temos o imperativo moral de deixar às futuras gerações um modelo de crescimento que melhore o seu nível de vida, o que não tem acontecido de forma satisfatória nas últimas décadas. A alteração do paradigma tecnológico e energético pode ser uma oportunidade para o conseguirmos por, por definição, o sucesso estar menos dependente das vantagens comparativas do passado. Assim haja sentido de urgência, consenso social, iniciativa e vontade para o fazermos, em conjunto e enquanto sociedade.
Da sua experiência como gestor, que lição considera mais valiosa para enfrentar o momento atual?
Especialmente em momentos de incerteza, devemos ter em mente a célebre citação de Darwin, segundo a qual não é a espécie mais forte que sobrevive, mas sim a que melhor se adapta às mudanças. Sem descurar a importância do planeamento, até como exercício para o pensamento estratégico, temos de enquanto gestores estar muito “sintonizados” com alterações do meio ambiente e de ter a coragem e a humildade de alterar posições quando tal é necessário. Tal implica necessariamente a capacidade de ouvir sobretudo as evidências que podem não confirmar as nossas visões a anteriori. Em situações de incerteza como a atual também chamava a atenção para a importância do desenvolvimento de uma cultura organizacional de genuíno trabalho em equipa, focada na procura de soluções, particularmente eficaz quando há perspetivas diversas e multidisciplinares, que contribuem necessariamente para a qualidade da decisão e para o sucesso da execução.
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