Casalinho alerta socialistas para “alguma dor” no controlo da inflação
Perante uma plateia de jovens socialistas, a antiga presidente do IGCP avisou que na atual conjuntura a prioridade máxima é “evitar que a inflação fique entrincheirada e se enraíze”.
A ex-presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), Cristina Casalinho, avisou este sábado os socialistas que evitar o “entrincheiramento” da inflação terá custos ao nível do produto e provocará dor social.
“Para controlar a inflação vamos ter custos ao nível do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, vamos ter alguma dor”, declarou Cristina Casalinho, atual administradora da Fundação Calouste Gulbenkian, durante a Academia Socialista, uma iniciativa do PS que decorre na Batalha, no distrito de Leiria.
De acordo com Cristina Casalinho, a prioridade máxima, na atual conjuntura, passa por “evitar – é isso que os bancos centrais estão a fazer – que a inflação fique entrincheirada e se enraíze”.
“Temos de evitar a espiral preços salários”, apontou, a título de exemplo, tendo pela sua frente uma plateia de jovens socialistas, num debate moderado pelo dirigente do PS Porfírio Silva e que também teve como orador o eurodeputado e ex-ministro Pedro Marques.
Para a ex-presidente da IGCP, a partir dos aumentos registados na energia e no setor alimentar, “os preços começam a ter efeitos secundários relevantes e as pessoas começam a ter comportamentos que reforçam a ideia de indexação para reposição do seu poder de compra, o que se deve evitar”.
“Estamos num ponto de inflexão, em risco de uma mudança de paradigma”, advertiu, antes de apontar uma via em termos de resposta pública: “A prioridade deve ser a contenção da inflação e isso deve ser feito através de políticas que protejam o impacto nos cidadãos mais vulneráveis”.
As taxas de juro estão a subir, é verdade, mas em Portugal estamos ainda longe de alguns máximos, por exemplo se pensarmos na taxa a 10 anos.
Durante a sua intervenção, Cristina Casalinho apontou que “o aumento dos juros por via do aumento das taxas de juro é menor do que as componentes da inflação, do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do agravamento da despesa pública”.
“As taxas de juro estão a subir, é verdade, mas em Portugal estamos ainda longe de alguns máximos, por exemplo se pensarmos na taxa a 10 anos”, observou, antes de aludir ao fator mercado de trabalho para manifestar aqui alguma apreensão.
“O mercado de trabalho, hoje, sobretudo nos Estados Unidos, encerra algumas incertezas, porque está muito apertado, o que significa que o crescimento dos salários nominais está a acontecer e então provoca uma espiral inflacionista”, disse ainda.
No caso de Portugal, a economista assinalou a previsão de um nível de dívida pública no final do ano menor do que 120% do Produto Interno Bruto (PIB). “Quando comparamos a fatura dos juros com o efeito do crescimento do PIB nominal, verificamos que o PIB nominal cresce mais do que o efeito dos juros. Por outro lado, como havia previsões de um saldo primário positivo, isso dá folga orçamental para medidas de aumento da despesa para facilitar que a reposição de rendimentos seja alcançada”, afirmou.
Numa primeira fase, segundo Cristina Casalinho, o facto de a inflação aumentar é favorável à receita pública, dando flexibilidade orçamental.
Cristina Casalinho apresentou igualmente alguns dados sobre a evolução das principais economias mundiais quando confrontadas com os choques petrolíferos de 1973 e de 1979. A subida de preços agora é menor do que nesses dois anos, embora se tenha partido de uma base mais baixa. “Mas o ritmo de aceleração tem sido agora mais elevado. As taxas de juro reais são atualmente bem mais baixas do que na década de 70”, completou.
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