“Espuma dos dias”, “pouco útil”, “questão política”: banqueiros desvalorizam livro de memórias do ex-governador do Banco de Portugal
Presidentes do BPI e Santander disseram que não vão ler o livro sobre o antigo governador do Banco de Portugal. CEO do BCP desvaloriza caso da pressão do primeiro-ministro sobre Carlos Costa.
“Espuma dos dias”. Tema “pouco útil”. “Questão política”. É assim que os banqueiros veem as polémicas e o livro de memórias do ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que levanta uma série de casos sobre a história da banca portuguesa nos últimos dez anos, incluindo a pressão do primeiro-ministro para o supervisor não afastar Isabel dos Santos do Banco BIC.
“Não estou a ver nenhuma consequência útil para ninguém, não vou perder um segundo com o tema”, comentou o CEO do BPI na conferência Banca do Futuro, organizada pelo Jornal de Negócios. João Pedro Oliveira e Costa disse que não vai ler o livro “O Governador”, da autoria do jornalista Luís Rosa, lançado esta terça-feira.
Para o gestor, que tem os “olhos virados para a frente”, os bancos estão mais preocupados em resolver os problemas dos clientes, sendo que a história que passou “está contada”, inclusivamente nas comissões de inquérito à banca e onde que muitos responsáveis “se esqueceram de tomar o ‘Memofant’”. “Gosto de perder tempo em coisas úteis, este não parece ser um assunto muito útil”, rematou.
Também Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Totta, não vai ler o livro e disse que vai perder ainda menos tempo que o colega do BPI. “Não tenho de ajustar contas com ninguém. Não sou político, o que está aqui é uma questão política”, disse o gestor. O Santander foi um dos visados do livro, nomeadamente a propósito da compra de uma parte do Banif, no final de 2015.
Falando em abstrato, Miguel Maya abordou o caso da pressão de António Costa a Carlos Costa, por causa do telefonema que o primeiro-ministro fez em abril de 2016 a considerar que não era oportuno afastar Isabel dos Santos do Banco BIC, “porque não se pode tratar mal da filha de um Presidente de um país amigo”, segundo as palavras do antigo governador.
“A questão não é se há pressões. É se somos independentes para resistir às pressões. É normal haver opiniões diferentes. Se entendem como pressão ou não, não é o meu problema. Eu sou dono das minhas palavras, silêncios e atuações”, referiu o CEO do BCP, que disse que vai ler a parte do livro que diz respeito ao banco que lidera.
O administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD) José João Guilherme considerou a polémica em torno do livro como sendo “a espuma dos dias” e que é própria da “agenda mediática”, preferindo destacar a solidez do setor da banca.
Estreando-se em debates deste género, o CEO do Novobanco, Mark Bourke, foi ouvindo as questões em português e respondendo em inglês. Sobre este tema, disse não ter lido o livro e que a sua preocupação “não é recuperar o passado”, mas saber “para onde ir”. “Precisamos de seguir em frente”, disse.
(Notícia atualizada às 13h28)
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