Como o terceiro homem mais rico do mundo perdeu 100 mil milhões de dólares numa semana?
O multimilionário Gautam Adani, dono de um grupo com o mesmo nome, está a sofrer pesadas derrotas na bolsa de valores indiana enquanto enfrenta acusações de fraude e manipulação de mercado.
Até ao final da semana passada, o indiano Gautam Adani era um dos dez homens mais ricos do mundo e o mais rico do continente asiático, dono de um grupo empresarial com o mesmo nome. Mas tudo mudou quando a empresa de investimentos norte-americana Hindenburg Research acusou o império Adani de manipulação de mercado e de fraude contabilística.
Gautam Adani, que tinha um património líquido de 127 mil milhões de dólares, caiu da 3.ª para a 16.ª posição do índice de multimilionários da Forbes, sendo que as suas empresas já perderam mais de 100 mil milhões de dólares (cerca de 91,8 mil milhões de euros ao câmbio atual) na bolsa de valores da Índia – isto depois de, em 2022, o grupo Adani chegar a registar o melhor desempenho da bolsa indiana.
Esta quebra abrupta na capitalização de mercado do grupo Adani teve início no final da semana passada, após a divulgação do relatório da Hindenburg Research a 25 de janeiro, que dá conta de uma teia de entidades offshore controladas por Adani em paraísos fiscais nas Caraíbas, Ilhas Maurícias e nos Emirados Árabes Unidos. De acordo com o documento, estas offshore foram utilizadas para, por um lado, facilitar corrupção e branqueamento de capitais, e, por outro, desviar dinheiro das sete empresas do grupo cotadas em bolsa.
No dia 27 de janeiro, Adani cancelou uma oferta de ações da Adani Enterprises, uma das maiores operações bolsistas da Índia, na qual esperava angariar cerca de 200 mil milhões de rupias (2,25 mil milhões de euros), devido à investigação da Hindenburg Research. O relatório mostrou que várias das empresas chave de Adani arrastavam uma “dívida substancial” que coloca todo o conglomerado “numa situação financeira precária”, depois de décadas de valorização.
A Hindenburg Research acusa o grupo Adani de ter usado transações de partes relacionadas não divulgadas e manipulação de lucros para “manter a aparência de sólida saúde financeira e credibilidade” das subsidiárias cotadas, indicando ainda que um “modelo de indulgência do Governo com o grupo” de décadas deixou investidores, jornalistas, cidadãos e políticos relutantes em questionar a conduta do grupo “por medo de represálias”.
O conglomerado indiano tentou refutar as acusações no passado fim de semana, publicando um documento de 413 páginas em que afirma que o relatório da Hindenburg Research foi um ataque contra a própria Índia. Contudo, a empresa norte-americana de investimentos descreve-o como uma declaração “ofuscada pelo nacionalismo”.
Além disso, esta sexta-feira, Gautam Adani negou que a proximidade com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, o tenha ajudado a tornar-se o homem mais rico da Ásia, dizendo à televisão indiana India Today que “essas alegações são infundadas”. O Governo de Modi manteve-se, até agora, em silêncio sobre o relatório da Hindenburg Research.
Antes das declarações de Adani, o regulador financeiro da Índia anunciou que está a investigar se houve manipulação de mercado por parte do grupo, assim como possíveis irregularidades em torno da venda de 2,5 mil milhões de dólares em ações da Adani Enterprises, a joia da coroa do grupo, segundo uma fonte com conhecimentos do assunto disse à Reuters.
A instabilidade levou mesmo ao cancelamento da venda de ações, um dia depois de ter terminado o prazo de subscrição e de já se saber que a procura tinha superado em 1,12 vezes a oferta. Num comunicado enviado ao regulador financeiro indiano, na quarta-feira, a empresa justifica a decisão com “a atual volatilidade do mercado” e com a necessidade de “proteger o interesse dos investidores”, pelo que irá devolver o dinheiro arrecadado com esta operação.
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