Subida dos juros rende dois mil milhões aos bancos no primeiro trimestre
Bancos vão a caminho de ano histórico, à boleia da subida dos juros do BCE. Lucraram mais de 900 milhões no primeiro trimestre. Margem financeira praticamente duplicou. Nem tudo são rosas.
Os principais bancos faturaram quase dois mil milhões de euros só com juros no primeiro trimestre do ano e vão a caminho de um novo ano histórico, após terem lucrado 920 milhões no primeiro trimestre. Porém, nem tudo são rosas: fugiram mais de sete mil milhões em depósitos e a carteira de crédito já está a encolher. São os primeiros sinais dos desafios que vão ter no futuro.
Em todo o caso, o momento é muito positivo para os cinco maiores bancos nacionais: Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander Totta, BPI e Novobanco lucraram mais de 10 milhões por dia durante os três primeiros meses do ano, de acordo com os dados compilados pelo ECO. O banco público teve o maior resultado: 285 milhões. O BPI registou o mais baixo: 85 milhões.
Este desempenho atirou o setor para rentabilidades acima dos dois dígitos, quando ainda há pouco tempo era praticamente zero. Veja-se o caso do Santander e do Novobanco, onde o ROE atingiu os 20%, que é o dobro da referência no mercado. O banco da Lone Star é mesmo o mais rentável, depois do longo caminho das pedras percorrido nos últimos anos e em que beneficiou de injeções de mais de três mil milhões do Fundo de Resolução.
Com as comissões praticamente a estabilizarem, rondando os 608 milhões de euros, o grande impulso dos resultados dos bancos veio da margem financeira, que resulta da diferença entre o que pagam nos depósitos e o que cobram nos empréstimos. As receitas com juros praticamente duplicaram face há um ano, atingindo 1,99 mil milhões de euros.
Neste capítulo, BCP e Caixa ganharam ambos mais de 600 milhões em margem financeira, aumentando 43% e 130% face há um ano, respetivamente. Mas também no BPI e Novobanco a margem quase duplicou.
O que acontece é que, depois de um longo período penoso por conta dos juros baixos, o negócio da banca vai agora de vento em poupa com a inversão da política monetária do Banco Central Europeu (BCE) para controlar a escalada da inflação.
No caso português, o facto de 90% do mercado de crédito à habitação ter taxa variável está a funcionar como um autêntico trampolim para a margem financeira dos bancos nacionais, mas também os deixa sob pressão para apoiar as famílias em dificuldades – o Presidente da República pediu uma reflexão ao setor – e também para remunerarem devidamente os depósitos – Portugal tem a segunda taxa mais baixa na Zona Euro. E não é só por causa da fuga para os certificados.
Pressão nos depósitos e no crédito
Aliás, as intervenções do próprio regulador têm sinalizado isso mesmo. Na semana passada o governador do Banco de Portugal considerou ser “desejável” que os bancos continuem o processo de subida dos juros dos depósitos, até para que a política monetária do BCE funcione com maior impacto – isto é, incentive as famílias a pouparem mais e a reduzirem o consumo, para aliviar a pressão sobre os preços.
Por outro lado, a Caixa deu um sinal importante ao mercado, com Paulo Macedo a anunciar que estuda duas medidas – bonificação complementar de juros e fixação da prestação – para aliviar o impacto da subida dos juros nas famílias que já não têm condições para pagar os seus empréstimos da casa. O BCP diz que “não tem cartas mangas”, mas está atento às palavras de Marcelo.
Para os bancos, aumentar os juros dos depósitos ajudará a responder às saídas de poupanças que tiveram no primeiro trimestre, na ordem dos 7,4 mil milhões de euros. Os Certificados de Aforro tornaram-se moda, mas não é a única explicação que os bancos dão para este cenário. Também há muitas famílias e empresas que estão a aproveitar as poupanças acumuladas durante a pandemia para amortizarem antecipadamente o crédito ao banco, com o objetivo de fazer baixar a fatura mensal.
Esta situação leva a outra. Com a incerteza a abrandar a procura de crédito – tirando as renegociações de crédito, o mercado já está a cair –, os reembolsos de dívida antecipados estão a dar origem a um novo fator de pressão para o negócio: a partir do momento em que se dá a amortização, já não há volta atrás, enquanto nos depósitos a situação pode ser invertida com uma taxa de juro mais generosa do que aquela que oferecem atualmente.
O primeiro trimestre já deixou uma primeira amostra do desafio que espera os bancos: a carteira de crédito encolheu mais de 1% para 182,7 mil milhões de euros.
Sem sinais de incumprimento
Na Caixa já foram reestruturados 8.000 créditos, no BCP cerca de 6.500 e no BPI quase 2.000. O CEO do Novobanco disse aos analistas que ainda não tem sinais de alerta relativamente ao número de famílias em dificuldade em pagar o crédito da casa.
Os balanços do banco contam-nos que o malparado continuou a cair no primeiro trimestre do ano, apesar do contexto mais difícil não só por conta da subida dos juros, mas também pelo aumento do custo de vida. Na Caixa, o rácio de malparado baixou para 2,5%, no BCP caiu para 2,1% e no BPI manteve-se nos 2%. O Novobanco tem (historicamente) o rácio de NPL mais elevado: 4,4% no final de março, mas baixando 1,3 pontos percentuais em relação a março do ano passado.
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