Grupo de Ílhavo desvia produção de mangueiras da Ucrânia para a Roménia
Em parceria com grupo israelita, Heliflex abre fábrica na Roménia para transferir a linha de fabrico de mangueiras para irrigação agrícola destinadas à exportação, que estava desde 2016 em Odessa.
A guerra na Ucrânia obrigou a portuguesa Heliflex a transferir parte da produção de mangueiras para irrigação agrícola que era feita na cidade costeira de Odessa, junto às margens do Mar Negro, para uma nova unidade industrial na Roménia, instalada no condado de Ilfov, onde o grupo de Ílhavo passou a fabricar os produtos destinados à exportação, sobretudo para os mercados da Europa de Leste.
Luís Henriques, CEO da Heliflex, adianta ao ECO que cerca de metade da produção na fábrica na Ucrânia, que abriu em 2016, era dirigida aos mercados externos. No entanto, passando a estar “condicionada” na exportação – “apesar de termos tentado, era difícil por não termos acesso marítimo e porque o tempo de trânsito passou a ser extremamente moroso”, justificou –, decidiu mover uma das duas linhas fabris para o país vizinho que, “após uma análise rápida, mas bastante cautelosa, pareceu o mais indicado”.
“A Roménia é o país europeu que apresenta maior crescimento ao nível agrícola e já estamos a exportar de lá para a Bulgária, Hungria, Polónia e Alemanha. Queremos até ao final deste ano chegar a dez países”, frisa o responsável desta fabricante de tubos, mangueiras e sistemas de rega. Entrou na empresa para trabalhar no departamento de exportação e foi destacado para implementar e acompanhar o projeto na Ucrânia, de onde saiu por causa da invasão russa, acabando por assumir a presidência executiva do grupo em junho de 2022.
Após o início da guerra, parei a fábrica e mandei toda a gente para casa. Mas três semanas depois retomámos porque as pessoas que ficaram estavam sem nada para fazer e os clientes estavam a fazer muita pressão para retomar a laboração.
A unidade ucraniana continua em funcionamento, mas agora com metade dos funcionários – “alguns foram recrutados pelo exército, outros voluntariaram-se e outros fugiram” – e a abastecer apenas o mercado doméstico. “Após o início da guerra, parei a fábrica e mandei toda a gente para casa. Mas, três semanas depois, retomámos, porque as pessoas que ficaram estavam sem nada para fazer e os clientes estavam a fazer muita pressão para retomar a laboração. Acabámos por aceder e voltámos a trabalhar”, recorda Luís Henriques.
O capital da Heliflex Portugal está dividido pelas famílias dos fundadores Acácio Vieira e Anselmo Santos, estando alguns dos filhos e sobrinhos no conselho de administração. No estrangeiro, embora fique sempre com a maioria de controlo, as operações são asseguradas por parcerias com empresas como a Metzer, uma das maiores produtoras de sistemas de irrigação a nível mundial. Já eram sócios na Ucrânia e mantiveram o acordo para a operação romena, com os israelitas a juntarem duas linhas de fabrico e a assegurarem a distribuição no mercado local. A exportação é gerida pela empresa-mãe em Portugal.
Já com oito pessoas nas instalações romenas, inauguradas no final de março, a Heliflex planeia montar até ao final do ano um sistema de distribuição próprio naquele país, para comercializar os produtos fabricados em Portugal e que exporta para cerca de 60 mercados. O grupo tem uma quarta unidade industrial no Chile, que “provavelmente é para descontinuar porque não tem funcionado da forma como [pretendem]”, e filiais em Angola, Moçambique e Marrocos apenas com operação comercial. Mas o efetivo industrial deverá ser reforçado nos próximos “dois a três anos”, com o mesmo parceiro israelita, para a criação de novas fábricas no Cazaquistão, “para complementar a falha da Ucrânia”, e também no México.
“Já temos as instalações, os equipamentos estão projetados e estamos mesmo na fase final da elaboração dos planos de negócio. Faz sentido ter a produção de mangas planas para a agricultura nesses territórios, abastecendo-os em conjunto com os produtos da Metzer que são vendidos para estes sistemas de irrigação. Já temos vendas ativas para esses países; o que vamos fazer é mover o ponto de abastecimento, com vantagens nas taxas alfandegárias e no tempo de entrega — a partir de Portugal demora cerca de 90 dias a chegar lá e é mais difícil gerir os stocks”, resume o gestor.
Fundada em 1969 depois do interesse demonstrado pela multinacional grega A. G. Petzetakis em ter uma representação em Portugal e com atividade produtiva desde 1971, a Heliflex registou em 2022 um volume de negócios consolidado de cerca de 18 milhões de euros, mais um milhão do que no ano anterior. No próximo ano espera ter a nova fábrica na Roménia a funcionar em pleno e a da Ucrânia mais estabilizada – e a faturarem, cada uma delas, entre 1 e 1,5 milhões de euros. Para a unidade portuguesa fixou o objetivo de, num espaço de três anos, passar dos atuais 14 milhões para 20 milhões de euros de vendas.
Com um total de 170 funcionários, dos quais 120 em Ílhavo, Luís Henriques assegura que, apesar da expansão industrial no estrangeiro, o grupo pretende reforçar a capacidade produtiva em solo nacional. “Não acredito que ao abrir estas unidades vamos ter perda de vendas em Portugal”, refere o presidente executivo, contando ao ECO que está prestes a avançar com vários investimentos para modernizar a fábrica portuguesa, que envolvem a aquisição de novas linhas de produção e a “aposta em novas tecnologias”.
“Este ano estamos a ter aumento de vendas e a ganhar quota de mercado. (…) Vamos implementar aqui dois novos produtos, que não são produzidos em Portugal. E vamos aproveitar para rever as nossas instalações. Além disso, por causa da questão do consumo energético, vamos também implementar um novo sistema de energia solar. Temos um parque pequeno, mas em dois anos queremos ser autónomos, pelo menos em grande parte do ano, ou seja, produzir energia suficiente para o nosso consumo industrial”, completa o presidente executivo da Heliflex.
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