Cifial espera encaixar 16 milhões de euros com a venda de duas fábricas
Donos chineses vão concentrar atividade industrial num único polo industrial em Santa Maria da Feira, onde vão investir seis milhões. Em quatro anos, a Cifial perdeu quase metade dos trabalhadores.
A chinesa Kinlong Hardware Products espera conseguir um encaixe financeiro na ordem dos 16 milhões de euros com a venda dos dois polos da histórica fabricante de torneiras e cerâmica Cifial em Santa Maria da Feira e em Santa Comba Dão, no distrito de Viseu. Este é o valor de mercado destes ativos, que até podem ser alienados de forma gradual e parcial, dada a dimensão dos imóveis.
Esta transação imobiliária surge na sequência da decisão dos novos donos desta empresa centenária de relocalizar todas as operações para um único polo industrial situado na Abelheira, no concelho de Santa Maria da Feira, que terá uma área total de 50 mil metros quadrados.
Em declarações ao ECO, Nuno Fernandes, membro do conselho de administração da Cifial, justifica esta decisão com “melhorias de eficiência industriais e logísticas”. “Do ponto de vista industrial, trata-se de evitar que exista o transporte físico das torneiras, no seu normal curso de fabrico, entre dois polos industriais que distam entre si cerca de 1,5 quilómetros”, declara.
Já do ponto de vista logístico, acrescenta o gestor, “todos os produtos Cifial passarão a ser expedidos a partir do mesmo local, algo que os clientes há muito solicitavam”.
Nuno Fernandes calcula que a requalificação do polo da Abelheira prevê um investimento total na ordem dos seis milhões de euros, incluindo “equipamentos industriais, construção civil e instalação de painéis fotovoltaicos” — iniciou a 21 de março a produção de energia solar através de 1.221 painéis. No primeiro ano prevê executar 1,5 milhões de euros.
“A rapidez na concretização de todo o plano dependerá da reação do mercado ao esforço que a Cifial está a fazer para aumentar a notoriedade da marca. Desde a entrada do novo acionista, a concentração de esforços na marca e na renovação do seu portefólio tem sido um dos nossos principais vetores de atuação“, sustenta o administrador.
A histórica Cifial, sediada em Rio Meão (Santa Maria da Feira), foi comprada em 2012 pelo fundo de recuperação da ECS Capital a Ludgero Marques, ex-presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP). Depois de um processo de reestruturação, a empresa acabou por ser vendida ao grupo chinês Kinlong no último trimestre de 2019.
Em quatro anos perdeu quase metade dos trabalhadores
A Cifial fechou o exercício de 2022 com um volume de negócios de 16,6 milhões de euros, ainda abaixo do nível pré-pandemia (2019), em que ascendeu a 17,1 milhões de euros. “Após o annus horribilis de 2020, em que o volume de negócios se fixou em 12,4 milhões de euros, com todo o impacto derivado da pandemia e das restrições que nos trouxe ao nível logístico, em 2021 o volume de negócios recuperou para 15,7 milhões de euros e o ano de 2022 confirmou a recuperação do valor prévio à pandemia”, contabiliza o gestor.
Para este ano, Nuno Fernandes estima uma faturação a rondar 18 milhões de euros, “assente na continuidade do negócio de exportação — que representa cerca de 70% –, reforçando o negócio no mercado doméstico e na marca Cifial”.
Questionado pelo ECO sobre o eventual despedimento de trabalhadores por via desta operação de concentração industrial, o responsável assegurou que “este processo não envolve a redução de pessoas, mas apenas a deslocalização de processos e operações industriais”. “O processo de migração das operações industriais que ainda estão localizadas no polo do Bôdo, bem como o suporte administrativo, comercial e de competências de engenharia à operação, (…) não pressupõe a dispensa de colaboradores per si”, detalha.
Despedimentos com o fecho das duas fábricas? Este processo não envolve a redução de pessoas, mas apenas a deslocalização de processos e operações industriais.
“Nos nossos planos atuais, devemos fechar o ano de 2023 com cerca de 165 a 175 colaboradores. Entre entradas e saídas, não esperamos alterações significativas ao número de colaboradores”, completa. Em 2019, quando mudou de mãos, o grupo Cifial tinha cerca de 310 trabalhadores, ou seja, quase o dobro do efetivo atual.
Em janeiro de 2022, a Cifial despediu 41 trabalhadores na unidade de Santa Comba Dão, que agora coloca à venda através das consultoras imobiliárias Cushman & Wakefield e a Savills. Nessa altura, o grupo justificou a decisão com o “insustentável” aumento de 400% no custo do gás.
Nuno Fernandes explica que “a inovação de processos e a especialização nas áreas core obrigou a um emagrecimento do grupo”. Aliás, “foi do domínio público a redução que fizemos na indústria cerâmica há cerca de ano e meio, neste caso, relacionado com o impacto que sofremos por via da crise energética”. A primeira opção, garante, “passa sempre por propor acordos de reforma aos colaboradores”.
Ainda assim, o gestor frisa ao ECO que “trata-se de um processo sempre complexo, pois a Cifial, como qualquer organização, depende do know-how dos seus colaboradores, o que exige que seja retido o capital de conhecimento, que no caso de um grupo centenário é um ativo inestimável”.
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