Exclusivo Grupo Nors prepara aquisições milionárias nos EUA e Alemanha no setor dos equipamentos agrícolas
Após duas aquisições no Brasil, a multinacional portuguesa que fatura 2,7 mil milhões de euros e emprega 4.200 pessoas, negocia novos “investimentos de várias dezenas de milhões" para fechar em 2024.
O grupo Nors, fundado no Porto há 90 anos, está a negociar duas aquisições na Alemanha e nos Estados Unidos de empresas na área dos equipamentos agrícolas, adianta ao ECO o presidente executivo, Tomás Jervell, que espera concluir estes “investimentos significativos, de várias dezenas de milhões de euros” até ao final de 2024.
“Precisamos de operações com escala e queremos investir em áreas em que consigamos alavancar aquilo que são as nossas competências e, portanto, estamos a olhar para os setores em que nos sentimos mais confortáveis e em que claramente conseguimos produzir melhores rentabilidades. E em contextos culturais que nos sejam familiares”, justifica o gestor.
Questionado sobre o financiamento destas operações, o líder da antiga Auto Sueco responde que, além da participação dos bancos, “preza muito a sua autonomia financeira” e tem recorrido a capitais próprios. “Somos muito conservadores na distribuição de dividendos e na forma como retiramos dinheiro da sociedade. Mantemos rácios de solidez e de solvabilidade muito equilibrados, exatamente para nos permitir fazer esta expansão, porque sabemos que só assim ela é possível”, completa.
Mantemos rácios de solidez e de solvabilidade muito equilibrados, exatamente para nos permitir fazer esta expansão [internacional], porque sabemos que só assim ela é possível.
Foi no Brasil, onde entrou em 2007 com a distribuição de camiões, que a Nors concretizou as últimas duas grandes aquisições. Em janeiro comprou a Agrofito para reforçar a presença na área agrícola (tratores, pulverizadores, equipamentos de plantação e ceifeiras debulhadoras); e em setembro entrou no setor das máquinas de construção do outro lado do Atlântico, ao adquirir por 40 milhões de euros os ativos operacionais da Tecnoeste e ficar com os direitos de representação exclusiva das marcas Volvo e SDLG nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Detida ainda pelas famílias Jervell (maioritária) e Jensen – “é uma empresa de capital fechado e a nossa intenção é que se mantenha assim” –, fechou o último exercício anual com um volume de negócios agregado e recorde de 2,7 mil milhões de euros (+17,4% em termos homólogos) e lucros de 115,5 milhões. No final do ano passado, tinha um total de 4.227 trabalhadores, dos quais mais de mil estão em Portugal. Está atualmente presente em 17 países: Portugal, Espanha, Áustria, República Checa, Eslováquia, Roménia, Hungria, Croácia, Brasil, Turquia, Angola, Moçambique, Botswana, Namíbia, México, EUA e Canadá.
O mercado mais valioso é o Brasil, no qual explora agora as três principais áreas de negócio (camiões, máquinas para a construção e equipamentos agrícolas). Logo a seguir surge o Canadá, apesar de operar ali apenas na área da construção e de ser o mais recente no portefólio. No início de 2020, a poucas semanas do início da pandemia, pagou 132 milhões de euros pela cotada StrongCo Corporation. “É uma operação de larga escala e tem uma performance muito boa. Foi um processo bastante trabalhoso, mas já é hoje uma das principais empresas do grupo”, recorda Tomás Jervell.
Em termos de categorias, o negócio dos equipamentos de construção (desde retroescavadoras e pás carregadoras a camiões articulados para as minas) é o que mais pesa no total (65%), seguido dos camiões (35%). Começou a operar nesta área em 1970, em Portugal, através da participada Ascendum, e atualmente tem a distribuição das máquinas para a construção da marca Volvo em nove países europeus, como Espanha, Áustria, República Checa, Eslováquia, Hungria, Roménia ou Turquia), no México e nos Estados Unidos, com uma “operação muitíssimo grande” na maior economia do mundo.
Automóveis já só pesam 4% nas vendas
Fundada em 1933 pelo avô de Tomás Jervell, que em 2009 trocou o cargo de administrador financeiro pela liderança máxima do grupo, em substituição do pai, a Nors foi a primeira importadora privada da Volvo no mundo, quando a marca só levava sete anos no mercado. E foi a pedido do grupo de origem sueca que deu o primeiro passo na internacionalização, ficando com o comércio de automóveis e camiões em Angola. “Não foi fácil porque estava em guerra civil e foram anos bastante difíceis. Mas à volta do ano 2000 as coisas começam a crescer e a ter outra dimensão”, recorda. Atualmente, os automóveis representam apenas 4% da faturação do grupo e pesam menos de 1% nos lucros da companhia.
No final deste ano, o grupo conta registar um volume de negócios “um pouco acima de 2022, o que é obviamente bom, mas com uma configuração diferente”. O gestor, 52 anos, perspetiva um crescimento do peso relativo do mercado brasileiro e da Ascendum — a participada focada essencialmente em máquinas de construção –, a redução do contributo dos negócios em África e o reforço da posição de Portugal. No mercado doméstico, o principal negócio são os camiões e as peças, com a representação da Renault Trucks e Volvo Trucks no país. Já o negócio automóvel (Volvo, Land Rover, Mazda e Honda), ressalva, é “mais pequeno e contido”.
Através da Nors Ventures, dedicada a explorar novos negócios em áreas não core, o grupo Nors detém uma participação de 66% na corretora Amplitude Seguros e a totalidade de uma operação industrial ligada aos contentores do lixo enterrados. Com a sede e a unidade fabril no Entroncamento (distrito de Santarém), a ribatejana Sotkon, que comprou em 2008, tem como clientes várias autarquias e entidades privadas, em Portugal e no estrangeiro.
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