Amigos nortenhos criam marca de roupa para “democratizar” o golfe em Portugal
José Folhadela Furtado, bisneto do fundador da TMG, juntou-se a Tiago Osório e Marcos Fonseca para lançar a marca de vestuário Matize, que aposta em tornar o golfe menos “elitista e aborrecido".
Foi há quase uma década, quando trabalhava em Los Angeles para a conhecida marca de surf Lightning Bolt, que José Folhadela Furtado começou a sentir o “desejo” de lançar uma marca de roupa de golfe, modalidade desportiva de que é praticante de longa data. Emergia uma tendência para o surgimento de peças de vestuário mais versáteis, confortáveis e relax, que acabou por dar origem a algumas novas marcas americanas, como a Malbon, Linksoul ou Travis Matthew. No entanto, “na altura não tinha a disponibilidade e o suporte de que precisava” e acabou por “partir para outros projetos”, ainda nos EUA.
Mas em 2020, quando regressou a Portugal em plena pandemia e voltou a cruzar-se com “alguns amigos de longa data”, ressurgiu a antiga ideia de negócio e o projeto começou a sair da cabeça do empreendedor nortenho, que vive em Vila Nova de Famalicão e é agora gestor de desenvolvimento de negócio no CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento, em Matosinhos. Está atualmente envolvido na nova unidade de negócio da mobilidade aérea avançada, ligada à utilização de drones para o transporte de cargas, levantamentos de dados, monitorização ou vigilância.
Um desses amigos, que “mostrou rapidamente interesse em juntar-se a esta aventura”, foi o portuense Tiago Osório, que é professor de golfe certificado na Quinta do Fojo (Vila Nova de Gaia), onde gere também a loja, e apresentado como o “grande impulsionador” do programa de iniciação à modalidade, designado “9 Semanas e Meia” e desenhado pela Federação Portuguesa de Golfe para captação de novos jogadores. É um dos cofundadores e responsável de vendas da empresa.
O terceiro fundador e atual diretor de marketing é Marcos Fonseca, um amigo de infância de Famalicão e que, depois de se formar em Gestão na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) fez carreira ligado à indústria têxtil e da moda. Entre outros cargos, passou pelo marketing da Parfois, foi gestor de mercados internacionais na Zippy e account manager da Farfetch, continuando ligado a projetos neste setor têxtil (GT Portugal) e também na área do turismo e da restauração.
A marca Matize resultou precisamente da junção do nome dos três sócios – Marcos, Tiago e Zé – e comercializa vestuário e acessórios direcionados à prática específica do golfe, incluindo pormenores técnicos dedicados aos praticantes desta modalidade, mas que também são procurados por desportistas do padel, do surf ou de ginásio. São produzidos no Norte do país e José Folhadela Furtado, que é bisneto do fundador da histórica Têxtil Manuel Gonçalves e filho de Isabel Furtado (CEO da TMG Automotive), diz que assim continuará a ser. “É importante para nós que os produtos sejam fabricados nas nossas origens, ainda que possam ser exportados”, refere.
Juntando estas experiências e contactos na área do têxtil e do golfe, surgiu a ideia de criar uma marca “diferente”, para impulsionar e “democratizar” a própria modalidade no país, que acredita que pode ser “acelerada pela inclusão de novos jogadores que vêm de realidades diferentes”. É que, argumenta o gestor, “para muita gente, o golfe tradicional é uma coisa elitista e aborrecida — e isso vê-se um bocado por todo o país quando [visita] alguns campos”, embora a Federação Portuguesa de Golfe também esteja a “lutar contra esse estereótipo”.
Para muita gente, o golfe tradicional é uma coisa elitista e aborrecida — e isso vê-se um bocado por todo o país quando visitamos alguns campos.
“É ainda visível a resistência na democratização deste desporto. Mas, com o tempo, temos a certeza que isso vai mudar porque as mentalidades vão mudando e um desporto ao ar livre que pode ser praticado até aos 75 ou 80 anos é, de facto, uma mais-valia para a vida das pessoas. É nisso que acreditamos. Não só é uma forma de fazer exercício, mas um estilo de vida para uma vida inteira”, completa José Folhadela Furtado, em entrevista ao ECO.
Depois de, em apenas cinco meses do ano passado, ter vendido quase 2.000 peças, a Matize começou a patrocinar Pedro Figueiredo, um dos maiores golfistas profissionais portugueses, que começou a usar algumas peças da marca. Nesta fase, até ao final de 2024, o objetivo principal passa por “aumentar o reconhecimento da marca a nível nacional” e torná-la “uma referência para todos os golfistas, dos amadores aos profissionais”.
Até ao final deste ano conta estar num total de 20 clubes. Além da sua própria loja online e noutras, como a Nevada Bob’s, os artigos estão à venda em campos como o Jamor – “parceiro importante para começar a desenvolver o negócio na zona de Lisboa” –, Quinta da Marinha, Aroeira ou Lisbon Sports Club.
E embora já esteja a exportar alguns produtos para o Canadá, o “foco” está na Europa. “Queremos ser realistas e apontar a este mercado. É preciso um investimento considerável para entrar num mercado como os EUA –– e isso seria responder a uma necessidade totalmente oposta à qual nos propusemos com a criação da marca. Mas, quem sabe, um dia com outra maturidade de marca, possa ser considerada” essa aposta do outro lado do Atlântico, resume. Para já, a ambição internacional fica-se por Espanha, onde há mais de 300 mil federados na modalidade e está a começar a investir na comunicação da marca.
A nível internacional, a concorrência vem de marcas estabelecidas como a FootJoy, Galvin Green, Under Armour, Adidas ou Nike, mas sobretudo de algumas insígnias com “conceitos semelhantes, independentes e mais casuais, também ainda a dar os primeiros passos”. É o caso da Malbon, Travis Mathew, Peter Millar, Linksoul ou Greyson, mas que “têm um price point visto como elevado para o mercado europeu”. “Sobretudo contando com as taxas de importação que é necessário ter em conta para obter esses artigos [e] um fator que considerámos na decisão de avançar para o projeto Matize”, conclui José Folhadela Furtado.
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