Paddy Cosgrave “estava a tornar-se uma distração para o sucesso” da Web Summit, admite a nova CEO
No cargo há duas semanas, depois de uma polémica ter levado à demissão do CEO anterior, Katherine Maher diz que é tempo para um recomeço: "Agora é a minha liderança."
Katherine Maher aproveitou a primeira conferência de imprensa como CEO da Web Summit para reafirmar o virar de página na liderança da conferência, depois de o fundador, Paddy Cosgrave, se ter demitido após opiniões que geraram controvérsia: “Anteriormente era a liderança do Paddy. Agora é a minha liderança.”
“É tempo de recomeço. A empresa está focada em voltar à missão de ser anfitriã das conversas, em vez do centro das discussões, e é nesse sentido que vou conduzir a organização daqui em diante”, disse a gestora, que já foi líder da Wikipédia.
A cimeira tecnológica deverá atrair a Lisboa mais de 70 mil participantes de todo o mundo até quinta-feira, mas, este ano, não conta com alguns dos principais parceiros de edições passadas. À luz dos polémicos tweets de Cosgrave acerca do conflito entre Israel e o Hamas, empresas como Amazon, Google, Meta e IBM decidiram abandonar a conferência, e nem a designação de uma nova CEO as fez voltar atrás.
Esta quarta-feira, respondendo aos jornalistas na Altice Arena, Maher disse que Cosgrave se demitiu “porque estava a tornar-se uma distração para o sucesso do evento”. “O Paddy abandonou o conselho de administração e as suas responsabilidades como CEO. Ele não está envolvido na operação nem na governação da Web Summit”, assegurou a nova líder, sem responder à pergunta sobre se acredita que Cosgrave deveria vender a sua posição na empresa promotora do evento, dado que continua a ser o principal acionista.
“A única coisa que ouvi do Paddy esta semana é que ele pensa que fiz um bom trabalho. Não falei com ele em nenhuma outra ocasião”, garantiu a gestora.
Web Summit continua “relevante”
Noutras edições, sob a liderança de Cosgrave, a Web Summit foi capaz de atrair nomes de grande relevância e mediatismo à luz da atualidade do momento, como os denunciantes Edward Snowden ou Frances Haugen. Este ano, porém, nem o nome do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, figura no programa da conferência, apesar de já terem subido ao palco nomes como o do ministro da Economia, António Costa Silva, ou do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas.
Questionada pelo ECO sobre como tenciona garantir que o evento continua relevante no futuro, Maher respondeu: “Eu acho que o volume de pessoas que está aqui este ano, a quantidade de energia e de excitação, diz bem sobre a relevância da Web Summit. E tenhamos ou não os oradores, acredito que, se eu fosse oradora este ano, sentir-me-ia um pouco ofendida pela questão, para ser honesta. Mas acredito que o poder e a relevância da Web Summit é o facto de ter muitas pessoas e participantes que a veem como uma parte importante do seu ano e da sua jornada e daquilo que estão a fazer. E acho que vão ver um retorno tremendo nos próximos anos, porque é para isso que as pessoas aqui vêm.”
A responsável insistiu que a edição deste ano está mais focada nas startups, tendo sido batido um recorde de mais de 2.600 empresas com essas características. Isso foi possível, sugeriu, porque sobrou mais espaço depois de as grandes tecnológicas terem decidido abandonar a cimeira, apesar de a Web Summit estar aberta a acolher novamente as empresas desistentes.
“O que tenho ouvido de alguns participantes no terreno é que é maravilhoso ter mais espaço disponível para as startups poderem estar presentes e ter o foco nas startups. Se esses parceiros [as grandes empresas] quiserem regressar e fazer parcerias connosco no futuro, ficaríamos maravilhados. A linha está sempre aberta”, afirmou a responsável.
A única coisa que ouvi do Paddy esta semana é que ele pensa que fiz um bom trabalho. Não falei com ele em nenhuma outra ocasião.
Maher só esteve com Paddy “duas vezes”
Na mesma ocasião, um jornalista confrontou Maher sobre uma carta que a Web Summit terá enviado a alguns meios recentemente, depois de estes a terem indagado sobre uma possível relação de amizade entre Maher e Cosgrave antes de a nova CEO ser designada para o cargo. Questionada se autorizou o envio dessa carta, Maher respondeu que a pergunta é “algo misógina” e garantiu só ter estado com o anterior CEO duas vezes no passado.
“Eu penso que o motivo pelo qual respondemos da forma que respondemos foi porque a questão implicava que haveria algum tipo de relação ou amizade entre mim e Paddy Cosgrave. Eu estive com o Paddy exatamente duas vezes, incluindo uma como oradora no palco principal e outra na receção dos oradores antes de me juntar à Web Summit. E a implicação de que existiria algum tipo de relação pessoal que me permitiu chegar a esta função é francamente ofensiva e algo misógina. Foi uma carta quasi-legal, e é isso que ela é: um lembrete das obrigações que a imprensa tem. Como disse, têm todo o direito a perguntar o que quiserem”, retorquiu a nova CEO.
Por fim, e tendo em conta que Paddy Cosgrave se demitiu por posições relativas ao conflito em curso no Médio Oriente, o ECO perguntou a Katherine Maher sobre a sua visão acerca dessa guerra. A responsável respondeu que “a única coisa respeitosa a dizer neste momento de tanto luto e sofrimento é reconhecer o luto, o sofrimento e a dor que existem em tantas comunidades à volta do mundo”.
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