Rapidez na subida dos juros cria problema de ajustamento às empresas e famílias, diz Centeno
"Em menos de um ano, nós subimos as taxas de juro como nunca tinha acontecido na experiência do euro e em muito poucos episódios dos bancos centrais isto tinha acontecido", diz Mário Centeno.
O governador do Banco de Portugal (BdP) disse, esta quarta-feira, que a rapidez com que a subida das taxas de juro criou um problema de ajustamento às empresas e famílias que tiveram dificuldades em reagir. Mário Centeno falava a alunos da Escola Secundária Nuno Álvares (ESNA), em Castelo Branco, sobre os problemas provocados pela rápida subida das taxas de juro e da inflação e do mecanismo “pouco simpático” que o Banco Central (BCE) tem para controlar o nível de preços na economia e a forma como a inflação evolui.
Na biblioteca Egas Moniz, o governador do BdP explicou aos alunos que a política monetária “não é particularmente simpática” para a população e para a economia. “Qual é o mecanismo para tentar controlar os preços? Arrefecer a economia. O que é que isto significa: reduzir a atividade económica o mais possível para que também os preços possam estar com uma dinâmica mais controlada”, frisou.
Contudo, adiantou que o problema é que o contrafactual é pior. “Ter inflação é pior para as nossas vidas do que temporariamente ter de enfrentar esta terapia que não é muito simpática. E foi exatamente isso que o Banco Central Europeu teve de fazer a partir de meados do ano passado, subir as taxas de juro. Qual foi o maior problema deste processo das subidas das taxas de juro? Foi a rapidez com que isto foi feito“, sublinhou.
Mário Centro esclareceu também que quando se faz uma alteração em qualquer política económica deve-se ter em atenção que ela se dirige às pessoas e às empresas, e os decisores devem dar tempo para que as empresas e as pessoas se adaptem a essa alteração de política.
Nós vivemos nos últimos dois anos, em particular, um período inflacionista. De facto, a inflação atingiu os dois dígitos. Não acontecia em Portugal há mais de 30 anos. Quase metade da população portuguesa nunca tinha vivido momentos de verdadeira inflação.
“A ideia de um grande choque fiscal, orçamental e monetário e que daí resulta imediatamente uma transformação das nossas vidas, eu pessoalmente não acredito. A economia funciona sempre na margem. Decidimos sempre na margem. E as políticas também devem atuar na margem dos nossos comportamentos”, frisou.
Para o governador do BdP esse foi “o grande problema” de todo este processo. A inflação veio por diferentes choques exógenos, muito forte e houve muito pouco tempo para os bancos centrais agirem e atuarem. “Em menos de um ano, nós subimos as taxas de juro como nunca tinha acontecido na experiência do euro e em muito poucos episódios dos bancos centrais isto tinha acontecido, se é que algum dia aconteceu. Ou seja, não foi tanto a subida e o nível da taxa de juro que criou o problema potencial, foi a rapidez com que tudo isto foi feito. Porquê? Porque não deu tempo a que as famílias e as empresas se ajustassem a essa subida”, sustentou.
E, sintetizou: “Quando somos confrontados com uma subida desta dimensão em tão pouco espaço de tempo temos dificuldade em reagir”. O governador do BdP explicou ainda que o valor que resulta da estabilidade de preços tem um duplo objetivo: não ser demasiado baixo para não se correr o risco de ter os preços a cair com muita facilidade e não ser demasiado alto para não perturbar toda a planificação futura.
“Nós vivemos nos últimos dois anos em particular, um período inflacionista. De facto, a inflação atingiu os dois dígitos. Não acontecia em Portugal há mais de 30 anos. Quase metade da população portuguesa nunca tinha vivido momentos de verdadeira inflação”, concluiu. Mário Centeno salientou ainda que para controlar a inflação foi necessário alterar a forma como a política monetária estava a ser conduzida.
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