Mais rentáveis, eficientes e igualmente robustos: como comparam os bancos portugueses com europeus em 7 gráficos

Mais rentáveis, eficientes e igualmente robustos: os bancos portugueses melhoraram a sua posição nos últimos anos e estão entre os melhores da Europa em alguns indicadores financeiros.

Os bancos europeus “continuam a mostrar força”, mantendo posições de capital e liquidez “robustas” num contexto de grande incerteza marcada pela guerra na Ucrânia, inflação e taxas de juro elevadas e períodos de turbulência nos mercados na sequência das falências de bancos nos EUA e Suíça, de acordo com os resultados anuais do processo de análise e avaliação para fins de supervisão (SREP) divulgados esta terça-feira pelo Banco Central Europeu (BCE).

A subida das taxas de juro ajudou a melhorar os lucros dos bancos, mas poderá representar um problema de incumprimento mais à frente, à medida que vai pondo à prova a capacidade financeira de cada vez mais famílias e empresas, num ambiente de deterioração das condições económicas.

Por outro lado, apesar de a rentabilidade ter disparado e melhorado a posição financeira dos bancos, não há certezas de que os atuais níveis de lucro tenham vindo para ficar. Por isso, a supervisão bancária do BCE pede prudência na gestão do risco (sobretudo em relação a exposições ao imobiliário), apela a que continuem a trabalhar, no sentido de serem mais eficientes, e que acelerem a transformação digital dos seus negócios.

Embora o BCE tenha apresentado resultados agregados relativos às instituições que supervisiona diretamente, os dados por país mostram como evoluiu (para melhor) a banca portuguesa em relação aos pares europeus.

Banca portuguesa é a quinta mais rentável

A rentabilidade dos capitais próprios (ROE, return on equity) foi um dos calcanhares de Aquiles da banca portuguesa na última década. Mas, com a subida das taxas de juro a catapultar as receitas, os bancos portugueses saltaram para o top cinco dos bancos mais rentáveis da Europa, com o ROE a atingir os 15% – acima do valor de referência de 10% que o setor tem como referência para o custo de capital.

A média dos bancos supervisionados pelo BCE é de 10%. Em pior situação estão os bancos alemães (6,59%), luxemburgueses (6,86%) e franceses (7,55%). Andrea Enria, presidente do braço de supervisão do banco central, alertou esta terça-feira para o facto de os bancos não terem demonstrado que os atuais níveis de rentabilidade vieram para ficar – aliás, até deu conta que os bancos continuam subavaliados na bolsa, num sinal de que os investidores não acreditam que os atuais resultados ainda não são sustentáveis.

Por isso o italiano – que vai ser substituído pela alemã Claudia Buch – pediu foco em medidas para melhorar a eficiência dos custos e acelerarem a digitalização do negócio.

Fonte: BCE; dados relativos ao segundo trimestre.

Juros rendem o dobro em Portugal

Na base do aumento dos lucros dos bancos está a subida das taxas de juro. Em Portugal, a margem financeira líquida (ganhos com juros em relação ao ativo médio) atingiu os 3,02% no final do segundo trimestre. É o dobro do que se verifica em média na banca europeia (1,53%).

Apesar do bom momento, os próximos tempos trarão tempos desafiantes. Por um lado, o aumento dos juros está a deixar cada vez mais famílias e negócios sob pressão para cumprir o pagamento das dívidas. Por outro, a margem financeira já terá atingido o pico e deverá contrair no próximo ano, perante a normalização dos juros dos depósitos.

Fonte: BCE; dados relativos ao segundo trimestre.

Só lituanos são mais eficientes que portugueses

Enria avisou que os bancos devem trabalhar no sentido de serem mais eficientes. Os bancos portugueses já fizeram o trabalho de casa nos últimos anos, sobretudo depois de uma profunda reestruturação com a redução de quadros e fecho de balcões. Com o aumento das receitas, o rácio cost-to-income, que mede a relação entre custos de estrutura e proveitos, caiu para 33,63% na banca nacional.

Neste capítulo, só os bancos lituanos são mais eficientes (28,85%), enquanto a média europeia está nos 57,32%. Entre os bancos mais ineficientes estão os franceses, luxemburgueses, belgas e alemães (aqueles que estão entre os menos rentáveis).

Fonte: BCE; dados relativos ao segundo trimestre.

Portugueses mais robustos que espanhóis e gregos

O rácio de fundos próprios de nível 1 (CET1) da banca portuguesa mais do que duplicou em 15 anos, passando para quase 16% no final do segundo trimestre, em linha com os bancos italianos, franceses, holandeses e alemães.

O reforço destas almofadas para responder a eventuais perdas surge como consequência do aumento dos lucros à boleia das taxas de juro, mas não só. Os bancos nacionais reduziram a exposição ao risco com a venda de malparado e outros ativos tóxicos.

A média europeia situava-se nos 15,7%, com os bancos espanhóis (12,7%) e gregos (14,3%) a ficaram menos bem na fotografia.

Fonte: BCE. Dados relativos ao segundo trimestre.

Malparado continuará a descer?

É dos indicadores onde a banca portuguesa não se posiciona tão bem face à banca europeia, mas são evidentes os resultados dos esforços de limpeza do balanço realizado pelo setor nos últimos anos. O rácio de malparado (empréstimos em situação de incumprimento em relação ao total de empréstimos) dos bancos portugueses atingiu os 3,84% no final do segundo trimestre do ano. Só os bancos gregos apresentavam um rácio maior (5,7%), enquanto a média do setor europeu era de 2,26%.

Há anos que o malparado tem vindo a decrescer, tanto na banca portuguesa como na generalidade dos bancos supervisionados pelo BCE, depois de ter atingido o pico na crise da dívida soberana na primeira metade da década passada. A pandemia fez aumentar os receios de um tsunami de incumprimentos que não se verificou. A subida abrupta das taxas de juro trouxe renovadas preocupações com o aumento dos chamados NPL (non performing loans).

Fonte: BCE; dados relativos ao segundo trimestre.

Bancos nacionais com baixa transformação

Um banco tem como negócio principal receber depósitos das famílias e emprestar esse dinheiro às pessoas (para compra de casa, por exemplo) ou às empresas (para financiarem os seus negócios). Esse indicador que avalia a liquidez dos bancos chama-se rácio de transformação de depósitos em empréstimos.

No caso da banca portuguesa, o rácio de transformação chegou a superar os 150% em 2010, expondo uma situação desequilibrada do setor que estava a caminho para uma grave crise. Entretanto, este indicador baixou para cerca de 70% em junho, o que significa que por cada 100 euros de depósitos, 70 euros foram concedidos à economia.

Este valor poderá ter diferentes leituras. Por um lado, não é um nível adequado, pois significa que 30% dos depósitos não estão a render ou não há procura por crédito face aos recursos que os bancos dispõem. Por outro, salvaguarda a posição dos bancos em termos de funding, quando é o próprio BCE a alertar para o setor se preparar para “uma maior volatilidade” nas suas fontes de financiamento. A média europeia encontrava-se nos 105%.

Fonte: BCE; dados relativos ao segundo trimestre.

Entre os mais líquidos

A queda do banco americano Silicon Valley Bank em março chamou a atenção das autoridades para os indicadores de liquidez do setor. Para evitar situações de turbulência, os bancos passaram a ser obrigados a cumprir rácios de cobertura de liquidez desde outubro de 2015. Isto obriga as instituições a terem ativos líquidos e não onerados que possam ser facilmente vendidos nos mercados com pouca ou nenhuma perda de valor e suficientes para suportar um período de stress de 30 dias.

O rácio de liquidez da banca portuguesa encontrava-se entre os mais elevados do sistema na Europa, perto dos 225%, conferindo-lhe uma maior capacidade de absorção a choques que possam levar a uma fuga de depósitos temporariamente. A média europeia era de 158%, com os bancos alemães e franceses a serem os únicos com rácios aquém do setor.

Fonte: BCE; dados relativos ao segundo trimestre.

 

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