Camarinha acusa Governo de fazer malabarismos com dados sobre salários
Líder da CGT apelou a uma "grande participação" nas eleições legislativas de 10 de março, defendendo que é preciso que os trabalhadores tomem consciência de que o seu voto é igual ao do patrão.
A líder da CGTP, Isabel Camarinha, acusou o Governo de fazer “malabarismos” com os dados sobre salários e disse que as contas do executivo são “incertas” para os que não conseguem pagar as contas ao fim do mês.
“Um país que se quer desenvolvido não pode ter os trabalhadores, como temos no nosso país, a empobrecer a trabalhar, não pode ter dois em cada três trabalhadores a ter um salário abaixo dos 1.000 euros por mês, não pode ter os trabalhadores jovens a emigrarem porque não conseguem um trabalho com direitos, não conseguem um salário que lhes permita viver e muito menos uma habitação, uma casa onde morar“, disse em entrevista à Lusa.
Perante os dados oficiais de que os salários têm aumentado nos últimos anos, Isabel Camarinha comentou que “é fácil fazer malabarismos com os números“, referindo por exemplo os referenciais estabelecidos no acordo de rendimentos assinado entre o Governo e os parceiros sociais (com a exceção da CGTP) que preveem subidas da massa salarial, incluindo todas as componentes remuneratórias.
Segundo frisou a sindicalista, “a esmagadora maioria das empresas” está a considerar nos aumentos toda a massa salarial, incluindo progressões, promoções, outro tipo de prestações que são atualizadas “e para os salários vai pouco mais do que dois ou 3%”.
“Nós sabemos bem qual tem sido a perda do poder de compra”, afirma Isabel Camarinha, acrescentando que a inflação e a subida do custo de vida não têm sido cobertos pelos aumentos salariais negociados na Concertação Social ou entre o Governo e os sindicatos da administração pública da UGT.
Para Isabel Camarinha, o Governo poderia ter ido mais longe mas não o fez “por opção”.
“O Governo anunciou um excedente de 4,3 mil milhões de euros [em 2023]. Claro que podia ter feito mais. Não fez, por opção, pela obsessão do défice, das contas certas, mas as contas certas do Governo são as nossas contas incertas, porque nós não conseguimos pagar as contas com os salários que recebemos no nosso país“, disse a sindicalista.
Segundo indicou, “onde tem havido alguma valorização salarial é onde os trabalhadores têm desenvolvido a luta” conseguindo em alguns casos “100, 120, 130 euros e, este ano, muitos já conseguiram 150 euros de aumento”.
Camarinha referiu ainda que os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que os salários em 2023 registaram uma “pequena subida” comparando com 2022, mas “perderam muito poder de compra” face a 2021.
Voto dos trabalhadores é igual ao do patrão
A secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, apelou a uma “grande participação” nas eleições legislativas de 10 de março, defendendo que é preciso que os trabalhadores tomem consciência de que o seu voto é igual ao do patrão.
“É preciso que os trabalhadores ganhem consciência da importância do seu voto e de que o seu voto é igual ao do patrão“, afirmou Isabel Camarinha, que vai deixar de ser secretária-geral da CGTP a partir de sábado, no XV Congresso da central sindical, que se realiza no Seixal (distrito de Setúbal).
“O meu voto vale o mesmo que o da CEO [presidente executiva] da Sonae, que por acaso é uma mulher também”, acrescentou.
A sindicalista disse esperar que haja “uma grande participação” nas eleições legislativas e que delas saia um resultado que garanta uma “alteração da relação de forças na Assembleia da República” com vista “a uma melhoria das condições” de vida dos trabalhadores portugueses e também dos imigrantes.
As maiorias absolutas “não são benéficas para os trabalhadores”, disse elogiando por sua vez os “avanços” conseguidos no tempo da ‘geringonça’ (acordo parlamentar entre PS, BE, PCP e PEV).
Camarinha sai da CGTP após mandato atípico e volta ao CESP
Isabel Camarinha deixa de ser secretária-geral da CGTP no sábado, após um mandato atípico, marcado pela pandemia, duas dissoluções parlamentares, guerra e inflação, pretendendo voltar à direção do Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços (CESP).
“Todos os mandatos têm as suas dificuldades, até porque a vida dos trabalhadores, toda esta realidade da exploração dos trabalhadores obriga sempre a uma grande intervenção, uma grande ação por parte dos sindicatos da CGTP, mas este mandato, de facto, teve algumas características diferentes de qualquer outro”, disse Isabel Camarinha em entrevista à Lusa.
A sindicalista foi eleita secretária-geral da CGTP em fevereiro de 2020 e, no mês seguinte, foi decretada no país a pandemia de covid-19, o que obrigou a uma intervenção “muito grande” e com dificuldades na defesa dos direitos dos trabalhadores, recordou, dando como exemplos “a tentativa de que não houvesse liberdade sindical” numa altura em que os trabalhadores mais precisavam, com a implementação do lay-off, cortes salariais ou outras situações.
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