Portugal é dos países onde emprego mais vai abrandar a partir de abril
Emprego vai continua a crescer no próximo trimestre, mas menos do que até aqui. Instabilidade internacional e incerteza política nacional explicam travagem, diz análise a que o ECO teve acesso.
As empresas portuguesas estão mais cautelosas e a desacelerar o recrutamento, indica uma análise da empresa de recursos humanos ManpowerGroup. Um comportamento que se deve à instabilidade internacional, ao abrandamento da economia e à incerteza do cenário político nacional. O país é mesmo o segundo em que a criação líquida de emprego mais vai travar.
“A incerteza do cenário macroeconómico e do quadro político nacional e global está a gerar uma maior cautela e uma diminuição das intenções de contratações para o segundo trimestre de 2024. Ainda assim, 42% dos empregadores esperam manter o seu atual número de colaboradores e 33% anteveem mesmo aumentar as suas equipas no próximo trimestre, face a 22% que pretendem reduzir“, sublinha o ManpowerGroup numa análise ao mercado de trabalho nacional, a que o ECO teve acesso em primeira mão.
Contas feitas, estima-se que a criação líquida de emprego deverá ser de 11%, entre abril e junho, “um valor que traduz uma descida de 17 pontos percentuais face ao trimestre anterior e de cinco pontos percentuais face ao período homólogo”.
Ou seja, o emprego deverá continuar a crescer em Portugal nos próximos três meses, mas menos do que até aqui. Aliás, entre os vários países analisados pelo ManpowerGroup, Portugal destaca-se como um dos que mais verão o emprego abrandar.
“Portugal revela-se, a nível global, como o segundo país com a maior redução da projeção para a criação líquida de emprego entre trimestres”, é salientado no análise. Só Porto Rico (que deverá ver a criação de emprego cair 19 pontos percentuais em cadeia) sai pior na fotografia.
Já se considerarmos apenas a região EMEA (Europa, Médio Oriente e África), Portugal é mesmo o país com o maior abrandamento da projeção para a criação de emprego entre trimestres.
Importa notar também que a estimativa para Portugal fica 11 pontos percentuais abaixo da média global (que inclui 42 países e territórios) e quatro pontos percentuais abaixo da média da região EMEA.
O resultado das eleições não é um cenário completamente seguro e tranquilo. Veremos o que vai acontecer.
Ainda assim, em declarações ao ECO, o country manager Rui Teixeira adianta que não há motivo para grande alarme para já. Na perspetiva do responsável, da mesma forma que há uma “acentuada redução” da projeção para a criação de emprego entre trimestres por causa do cenário político e do enquadramento internacional, o país deverá conseguir “ir a reboque quando acontecer o movimento contrário“. Por exemplo, quando a estabilidade regressar ao panorama político nacional.
No entanto, Rui Teixeira sublinha que o resultado das eleições deste fim de semana “não é um cenário completamente seguro e tranquilo“. O PSD venceu ao PS, na corrida ao Parlamento, mas apenas por uma margem mínima, e terá de negociar com outras forças políticas para conseguir ver aprovados os seus orçamentos.
“Veremos o que vai acontecer”, atira o country manager, que acredita, contudo, que ter novas eleições daqui a seis meses — como já vaticinam algumas vozes — seria, “sem dúvida“, negativo para as perspetivas de contratação dos empregadores portugueses.
Tecnologias e serviços com cenário mais otimista
Nem todos os setores estão a registar a mesma prudência quanto a futuras contratações. Nos serviços de comunicação, tecnologias de informação e bens e serviços de consumo, as perspetivas são mais otimistas.
Vamos por partes. No que diz respeito aos serviços de comunicação (que inclui as telecomunicações, mas também os media), a projeção para a criação líquida de emprego é de 38%. É a mais otimista entre todos os setores, ainda que fique 12 pontos percentuais abaixo do estimado no trimestre anterior.
Já nas tecnologias de informação, a criação de emprego deverá aumentar 22%. É a segunda melhor projeção entre os setores, mas corresponde a uma “redução acentuada de 35 pontos percentuais face ao trimestre anterior”, realça o ManpowerGroup.
No que diz respeito especificamente a este setor, o country manager Rui Teixeira explica que continua a haver “uma enorme procura de mãos“, porque as posições que são disponibilizadas não estão a ser plenamente satisfeitas, em resultado da escassez de profissionais qualificados.
A completar o pódio estão os bens e serviços de consumo, com uma projeção para a criação líquida de emprego de 16%, “o que espelha uma subida de dois pontos percentuais face ao período entre janeiro e março do presente ano e uma estabilização comparativamente ao período homólogo do ano passado”. Rui Teixeira justifica esta evolução com a sazonalidade deste setor.
Em contraste, nos transportes e logística projeta-se que a criação de emprego seja de -7%. Isto em reação ao impacto do abrandamento nas trocas comerciais e nos indicadores de consumo, bem como das perturbações nas cadeias de abastecimento globais. No trimestre passado, este tinha sido um setor com uma forte criação líquida de emprego.
Por outro lado, há a notar que deverão ser os empregadores da região Sul do país a recrutar mais nos próximos três meses. E são as grandes empresas as que mais querem reforçar as equipas, assinala-se no estudo para o qual foram entrevistados, no total, 40.077 empregadores, nos tais 42 países e territórios.
Já de olho nos próximos três meses, o country manager do ManpowerGroup salienta que esse será um momento de “esperar para ver“. “Temos de ver como é que saímos deste momento político, como é que o Governo avança. Por outro lado, há todos os desafios internacionais, com a questão da Guerra na Ucrânia. Este segundo trimestre poderá ser decisivo“, remata Rui Teixeira.
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