Possível saída da Fosun e cenário de OPA agitam ações do BCP
A provável venda da Fosun da participação de 20% que tem no BCP poderá gerar picos de volatilidade das ações no presente, mas abre também a porta a uma eventual OPA com a chegada de um novo acionista.
O comportamento recente das ações do Banco Comercial Português (BCP) BCP 0,00% tem sido marcado por níveis de volatilidade acima da média dos últimos anos, como resultado das notícias recentes de que a Fosun estará a negociar a alienação de uma posição equivalente a 20% do capital do BCP, que detém desde há vários anos.
Só nas últimas cinco sessões, a volatilidade dos títulos do BCP foi consecutivamente superior à média diária dos últimos três anos, com a cotação intradiária dos títulos a oscilar, em média, 4,56% entre o preço mais elevado e o preço mais baixo.
É preciso recuar cerca de um ano, até meados de março de 2023, quando o mercado bancário europeu viveu um período de grande tensão com a queda do Credit Suisse — que posteriormente foi salvo e adquirido pelo seu rival UBS –, para encontrar um período tão longo seguido de sessões com as ações do BCP a negociarem com níveis de volatilidade acima da sua média histórica.
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Para os próximos dias, a perspetiva é que o sobe-e-desce da cotação do BCP não abrande e até possa aumentar, pelo menos até haver uma clarificação por parte da Fosun em relação ao que irá fazer com as ações que detém do banco liderado por Miguel Maya.
“Os investidores tendem a lidar mal com a incerteza e a venda da posição da Fosun teria o condão de eliminar uma incerteza existente”, refere Pedro Barata, gestor do GNB Portugal Ações, que no final de fevereiro tinha 9,45% da sua carteira alocado no BCP por via de uma posição de quase 3,2 milhões de euros, que a faz do BCP a segunda maior posição do fundo de ações nacionais mais rentável de 2023.
“Apesar de no curto prazo esta incerteza poder vir a criar um pico de volatilidade no preço da ação do BCP, tenderemos a ver esse cenário mais como uma oportunidade do que como uma ameaça”, refere o gestor, notando que “no longo prazo, esta eventual venda não irá impactar negativamente o negócio do banco.”
A mesma visão otimista para o título é partilhada por Carlos Pinto, gestor do fundo de ações nacionais Optimize Portugal Golden Opportunities. Apesar de à data não deter qualquer ação do BCP em carteira (vendeu os últimos títulos em janeiro e atualmente tem exposição ao banco unicamente através de algumas obrigações), o gestor destaca os bons resultados alcançados pelo banco em 2023 e o facto de o BCP operar com “margens muito interessantes” e com um preço contabilístico abaixo de 1, que levam Carlos Pinto “a considerar incluir o BCP como uma das posições do fundo” no futuro.
Recorde-se que a intenção da Fosun vender a sua posição no BCP não é de agora. Entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, a empresa de capitais chineses reduziu a sua posição no BCP de 29,95% para os atuais 20,04%, através da venda das ações em bolsa e de uma operação privada junto de institucionais.
“É normal haver uma pressão sobre o mercado”, refere Octávio Viana, presidente da ATM – Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais, destacando que isso será criado não apenas pela antecipação da venda dos 20% da Fosun como também por estratégias de vendas a descoberto (short selling) por parte de alguns investidores — maioritariamente de hedge funds — que procurem proteger as suas posições ou mesmo beneficiar com a queda dos títulos.
“Nos próximos dias deveremos observar vários comunicados ao mercado de tomadas de posições de short sobre as ações do BCP”, vaticina Octávio Viana.
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Expectativa de uma OPA no horizonte com a chegada de um novo acionista
A possibilidade de a Fosun desfazer-se das mais de 3 mil milhões de ações do BCP é um cenário cada vez provável de acontecer, segundo os especialistas contactos pelo ECO. “Há bastante tempo que se fala nessa possibilidade e admito que esse facto possa até ter limitado, no passado, uma maior valorização do título em bolsa”, salienta Pedro Barata.
A maior indefinição centra-se assim sobre o preço mas sobretudo sobre o processo de venda das ações que será realizado pela empresa chinesa. “A Fosun vai ter de encontrar alguém para colocar essas ações, seja de forma estratégica ou não”, refere Octávio Viana, destacando que “não me parece que seja viável à Fosun vender os 20% no mercado de uma forma acelerada porque o mercado, os algoritmos, iam perceber isso e empurrar o preço ainda mais para baixo.”
A solução poderá advir de uma operação híbrida em tudo semelhante à que foi realizada no final do ano passado, com a Fosun a vender parte dos títulos em bolsa e o remanescente numa colocação privada. “Os dois cenários estão em cima da mesa”, destaca Carlos Pinto, gestor do fundo de ações nacionais Optimize Portugal Golden Opportunities, que aponta para “uma probabilidade elevada de [o negócio] se concretizar”.
Se esse for o caminho, Carlos Pinto acredita que, “no curto prazo, pode haver o risco de overhang (queda do preço das ações pela venda de um grande bloco de títulos) e a médio prazo dará mais liquidez aos títulos.”
No entanto, não é de descurar a possibilidade de a Fosun acabar por negociar a totalidade da sua participação no BCP diretamente com um investidor, particularmente se esse novo acionista for um banco, que tomará essa decisão não como um investimento financeiro, mas por razões estratégicas. “Se entrar um banco a comprar 20% do BCP é para comprar o banco”, refere Octávio Viana.
Assim, dependendo do processo da operação de venda das ações da Fosun, o BCP estará a negociar ao longo dos próximos tempos sob duas forças:
- No curto prazo: as ações estarão pressionadas por uma onda vendedora, com muitos acionistas a mostrarem-se tentados a vender os títulos antes de a Fosun concretizar o venda da sua participação, com o intuito de realizarem um negócio mais rentável. As ações do BCP fecharam na quarta-feira a cair 1,05% para os 0,2909 euros, apenas 3% abaixo do preço médio de 0,3 euros que a Fosun vendeu, entre 13 de novembro de 2023 e 9 de janeiro deste ano, 652 milhões de ações do BCP (o equivalente a 9,9% do capital do banco).
- No médio e longo prazo: até à clarificação da Fosun sobre a posição que detém no BCP, as ações estarão a negociar com a expectativa de o banco poder ser alvo de uma operação pública de aquisição no futuro, caso o novo acionista, como adiantou a Reuters na segunda-feira citando duas fontes relacionadas com a operação, poder ser um banco.
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