Administração e maior acionista da Accrol dizem “sim” à Navigator e abrem caminho ao sucesso da OPA
Administração da empresa britânica de papel higiénico, lenços e rolos de cozinha que foi criada em 1993 pela família Hussain apoia a Oferta da Navigator e vê no negócio uma oportunidade para crescer.
A Oferta Pública de Aquisição (OPA) da portuguesa Navigator sobre a britânica Accrol apenas foi lançada esta sexta-feira, mas já parte com um duplo avanço: o apoio da Administração e o compromisso de um voto favorável do maior acionista. Estas posições favoráveis à oferta de 149 milhões de euros sobre a totalidade do capital de uma das maiores fornecedoras de papel higiénico, lenços e papel de cozinha para o retalho no Reino Unido garantem à Navigator desde já que conseguirá ficar com posições representativas de 34% do capital.
Os analistas estão confiantes que o prémio oferecido na oferta seja suficiente para convencer os outros acionistas a venderem as suas ações na OPA.
A Navigator está a oferecer 38 pence de libra por cada ação da empresa britânica na operação anunciada esta sexta, dia 22 de março, e que avalia a Accrol em 127,5 milhões de libras (cerca de 148,9 milhões de euros ao câmbio atual). A contrapartida representa um prémio de 11,8% face aos 34 pence a que a ação negociava na véspera do anúncio, dia 21 de março.
Olhando para um período mais alargado, a diferença entre o preço oferecido pela papeleira portuguesa e o valor da cotação é superior. O valor da OPA representa um prémio de 28,7% face ao preço médio de negociação nos últimos seis meses e de 23,2% face à média de negociação nos últimos 12 meses.
As ações da Accrol reagiram positivamente ao anúncio da oferta, disparando 11,76% para se aproximarem da contrapartida oferecida na OPA durante a sessão, um sinal que a operação foi bem recebida pelos investidores. Na Euronext Lisbon, os títulos da Navigator avançaram 2,44% para 3,954 euros cada, numa sessão em que o índice PSI avançou 0,79%.
Um prémio de 10%, representando também o valor máximo da cotação da Accrol nos últimos 3 anos, parece ser suficientemente atrativo e capaz de convencer os acionistas da empresa britânica de tissue, fabricante de papel higiénico.
“Um prémio de 10%, representando também o valor máximo da cotação da Accrol nos últimos 3 anos, parece ser suficientemente atrativo e capaz de convencer os acionistas da empresa britânica de tissue, fabricante de papel higiénico”, refere Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa.
Pedro Barata, gestor de ações da GNB, reconhece que “havendo o apoio da administração e dos grandes acionistas, a probabilidade de sucesso é razoável”.
“O preço é atrativo e o negócio da Accrol tal como está é vulnerável à subida de preços da pasta. Parece-me até que seria interessante para os vendedores criarem uma posição na Navigator e manterem a exposição ao setor, numa empresa com perspetivas diferentes“, considera António Seladas, analista de ações da AS Independent Research, que avalia a Navigator com uma recomendação de comprar e um target de 4,1 euros.
“A Navigator considera que a oferta representa uma oportunidade atrativa para entrar no mercado britânico, através da aquisição de uma empresa líder no setor de transformação de papel Tissue, com vantagens competitivas, valores complementares e forte alinhamento com a Navigator”, adianta a empresa em comunicado, acrescentando que “vê a Accrol como uma oportunidade estratégica para a expansão sustentada do seu negócio de tissue no mercado da Europa Ocidental“.
De negócio de família até ao controlo de grandes fundos
Fundada em 1993 para família Hussain em Accrington, Lancashire, a companhia manteve-se nas mãos da família até 2014. Criada com o objetivo de se tornar um fabricante independente líder de papel higiénico no Reino Unido, a empresa alcançou vendas de um milhão de libras no primeiro ano de atividade.
Apenas três anos depois, a empresa mudou-se para Blackburn e para a localização atual em 2004, com uma fábrica e armazém de 65.000 metros quadrados construídos propositadamente e a instalação de novas linhas de produção de última geração. Nos anos seguintes, a empresa realizou investimentos de capital significativos que permitiram ao negócio alcançar um crescimento anual.
Em 2014, a família viria a permitir a entrada de fundos no capital da empresa, abrindo a porta à dispersão em bolsa que se materializou em 2016. De acordo com a estrutura acionista disponibilizada no site da empresa, relativa a 4 de março, o Lombard Odier Asset Management é atualmente o maior acionista, com 28,04% do capital, seguido pelo Premier Miton e pela Schroder Investment Management, com posições de 11,95% e 10,08%, respetivamente. Outros fundos de investimento controlam participações de 14,25%. Tudo somado, 64,98% das ações são detidas por gestoras de ativos, estando ainda outros 5,37% nas mãos de membros da administração da empresa.
Destes cerca de 65% do capital, a Navigator parte já em vantagem: O Lombard Odier AM assumiu um compromisso irrevogável de votar favoravelmente à operação no que diz respeito às 91.403.124 ações da Accrol, pelas quais responde. Também os diretores com participações no capital deram a sua garantia de venda à Navigator, envolvendo cerca de 5,4% do capital, segundo a informação divulgada pela Navigator.
Este apoio reflete a posição assumida pela administração da empresa. A oferta conta com a recomendação favorável dos diretores, um importante “trunfo” para o sucesso da OPA. “A Accrol passou por um período de transformação e crescimento significativos nos últimos quatro anos, investindo na automatização total das suas operações de conversão de tissue para aprimorar as capacidades de fabricação”, adiantou Gareth Jenkins, CEO da Accrol.
A união com o Grupo Navigator reúne uma oferta de produtos altamente complementar. Permitirá à Accrol beneficiar das capacidades, escala, rede e recursos do Navigator, com base no progresso estratégico que fizemos até à data.
O líder da empresa britânica defende que “a união com o Grupo Navigator reúne uma oferta de produtos altamente complementar. Permitirá à Accrol beneficiar das capacidades, escala, rede e recursos do Navigator, com base no progresso estratégico que fizemos até à data“.
A potencial aquisição da Accrol “marca um momento crucial para a Navigator, à medida que expandimos a nossa presença comercial no mercado de tissue do Reino Unido“, argumenta António Redondo, CEO da Navigator, em comunicado.
O CEO da papeleira portuguesa realça que a aquisição “está perfeitamente alinhada com a nossa estratégia de crescimento de longo prazo para o negócio de tissue e sublinha o nosso compromisso inabalável em impulsionar a inovação, o crescimento sustentável e a excelência operacional na Navigator”.
A potencial aquisição da Accrol “marca um momento crucial para a Navigator, à medida que expandimos a nossa presença comercial no mercado de tissue do Reino Unido.
“A Accrol traz uma franquia comercial excecional, incluindo uma base de clientes excecional, funcionários altamente qualificados e um sólido histórico de produção de produtos de papel tissue de qualidade. Estamos entusiasmados em integrar os ativos, as competências e a equipa talentosa da Accrol na nossa organização, com o objetivo de solidificar a nossa posição como um player de referência na indústria de tissue do Reino Unido e estabelecer nossa presença no mercado do Reino Unido no longo prazo”, adianta Redondo.
Aquisição vai acelerar negócio tissue
A Accrol opera atualmente cinco instalações industriais em Blackburn, Leyland, Leicester, Flint e Bridgwater e é líder no segmento de transformação de papel Tissue no Reino Unido, produzindo rolos de papel higiénico, rolos de cozinha e lenços faciais de marca própria para a maioria dos principais retalhistas no Reino Unido.
No último ano fiscal, com fecho a 30 de abril de 2023, o volume de negócios ascendeu a 242 milhões de libras, um aumento de 52% face ao ano fiscal de 2022, enquanto o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) atingiu 15,6 milhões de libras.
A Navigator prevê que a aquisição da Accrol reforçará a posição de mercado da empresa portuguesa no mercado do tissue na Europa Ocidental, “que a Navigator antecipa que resultaria num volume de negócios consolidado superior a 500 milhões de libras neste segmento, com o mercado do Reino Unido Reino Unido a contribuir com cerca de 50% deste valor”.
“Era do conhecimento geral que a Navigator pretendia fazer crescer o seu negócio de tissue e que o mesmo seria feito via aquisição. Só não se sabia qual seria o alvo. Agora já sabemos”, comenta Pedro Barata. Para o mesmo gestor, “em termos estratégicos faz sentido a compra e a Navigator tem as condições financeiras para o fazer”.
Esta é uma área de negócio onde a empresa já tinha sinalizado que queria crescer e sendo o negócio do tissue um negócio onde os custos de transporte têm bastante peso, é importante a empresa ter uma outra fábrica estrategicamente colocada que lhe permita servir outro mercado.
“Esta é uma área de negócio onde a empresa já tinha sinalizado que queria crescer e sendo o negócio do tissue um negócio onde os custos de transporte têm bastante peso, é importante a empresa ter uma outra fábrica estrategicamente colocada que lhe permita servir outro mercado. Acho que esta compra cumpre esse objetivo”, explica.
Já Paulo Rosa sublinha que a Accrol estava em recuperação nos últimos anos, “mas ainda cotada em bolsa aos preços de 2018, parecendo ser, nestas circunstâncias, um negócio interessante para a Navigator. A principal produtora de pasta de papel portuguesa poderá abrir as portas à Accrol ao comércio global e fornece-lhe toda a matéria-prima necessária ao seu crescimento”.
O consumo de tissue tem demostrado uma resiliência muito forte aos ciclos económicos e mantém uma tendência estrutural de crescimento positiva.
António Seladas diz que esta aquisição, a realizar-se é “sem dúvida uma oportunidade de crescimento no negocio de tissue onde a Navigator se iniciou há cerca de 9 anos. O consumo de tissue tem demostrado uma resiliência muito forte aos ciclos económicos e mantém uma tendência estrutural de crescimento positiva”, justifica
“O objetivo da Navigator é reforçar o seu papel no mercado europeu, por isso, a aquisição desta empresa britânica poderá dar ganhos diretos, já que o negócio da Accrol é a transformação e venda da matéria-prima produzida pela Navigator”, explicam os analistas da XTB Vítor Madeira e Henrique Tomé. “Caso a mesma seja bem-sucedida, poderá ter um impacto positivo para as contas da empresa”, rematam.
OPA condicionada a aceitação de 75%
Para ser bem-sucedida, a oferta terá que ter uma aceitação mínima de 75% do capital, segundo as condições impostas pela Navigator.
Nos próximos 28 dias, a Navigator deverá publicar um documento onde serão definidas as condições e os termos da implementação da Oferta. A expectativa é que a oferta se inicie no segundo trimestre de 2024.
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