Preço do cacau “amarga” negócio dos chocolateiros portugueses
Com o preço do cacau a disparar nos mercados internacionais, o preço dos chocolates vai encarecer, alertam os fabricantes de marcas como Imperial, Vieira de Castro, Arcádia e Chocolataria Equador.
O preço do cacau disparou 150% desde o início do ano e chegou ao 10.000 dólares por tonelada, sobretudo devido ao impacto climático. Os chocolateiros portugueses ouvidos pelo ECO estão “apreensivos” em relação ao aumento gritante da matéria-prima e não têm dúvidas de que o aumento do preço vai refletir-se na carteira dos consumidores.
É de São Tomé e Príncipe que vem a maior parte do cacau para a produção da Chocolataria Equador. Celestino Tedim Fonseca exemplifica: “Antes de setembro do ano passado comprava o cacau a 3,5 euros o quilo e neste momento estou a pagar mais de oito euros.” Perante o escalar dos preços, os produtores de chocolate começam gradualmente a repercutir a subida desta matéria-prima agrícola nos produtos, com o dono da Chocolataria Equador a admitir que depois da Páscoa vai ser “obrigado a ajustar os preços”.
Antes de setembro do ano passado comprava o cacau a 3,5 euros o quilo, neste momento estou a pagar mais de oito euros.
O fundador da Chocolataria Equador vai mais longe e antecipa que, “se os preços se mantiverem durante algum tempo, podem comprometer algumas empresas”. O empresário, que soma oito lojas Equador entre Portugal e Espanha, tem esperança de que “os preços do cacau estabilizem”, mas está consciente de que “ainda vai demorar algum tempo”.
Justifica que o aumento do preço deve-se “especialmente às alterações climáticas, que arrasaram com produções nos principais produtores de cacau”. Entre o voltar a plantar e esperar que o cacau cresça, Tedim Fonseca está convicto que a indústria vai deparar-se com “dois ou três anos complicados”.
A administradora da Vieira de Castro não tem dúvidas: “A escalada dos preços do cacau e o risco de disponibilidade são motivos de preocupação e irão afetar o mercado de consumo.” Ana Raquel Vieira de Castro, administradora da fabricante com mais de oito décadas de existência, realça que “hoje já vemos nos lineares produtos com chocolate de fabricantes e de retalhistas com subidas significativas”.
A escalada dos preços do cacau e o risco de disponibilidade são motivos de preocupação e irão afetar o mercado de consumo.
De acordo com Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, a escassez desta matéria-prima já se fazia sentir no ano passado, mas a redução na oferta, sobretudo a proveniente de África Ocidental, principal região produtora (que deverá registar o terceiro défice anual consecutivo), deverá ser ainda maior este ano, devido a colheitas inferiores ao esperado, consequência de crescentes problemas provocados pela “doença dos rebentos inchados”, pelas fortes chuvas e pelo calor seco que afetam as culturas, disse à Lusa.
Francisco Bastos, administrador da Arcádia, corrobora a ideia e realça que a impulsionar este aumento está, sobretudo, a escassez na oferta. “Quando a procura é superior à oferta o preço sobe, juntamente com a especulação dos mercados financeiros”, lamenta o administrador da Arcádia, que soma 44 lojas de norte a sul do país, emprega mais de 400 pessoas e fechou o ano passado com uma faturação de 17,8 milhões de euros.
A Imperial, dona das marcas Regina, Pantagruel e Pintarolas, que emprega 280 pessoas e soma uma faturação anual de 50 milhões de euros, tem estado atenta, acompanhando as variações do preço do cacau. A fabricante afirma que “tem feito um esforço para passar o mínimo possível dos aumentos nos custos de produção para os consumidores nacionais, garantindo sempre que a sustentabilidade do negócio é assegurada”. A fabricante de Vila do Conde, que foi vendida em 2021 pelo fundo Vallis ao grupo espanhol Chocolates Valor, nota ainda que este esforço tem como objetivo primordial “manter os produtos das marcas Imperial acessíveis ao consumidor português num momento tão delicado”.
À semelhança da Imperial, a Arcádia diz estar “atenta” e a “trabalhar arduamente para tentar mitigar esse fator o máximo”. No entanto, Francisco Bastos, administrador que pertence à quarta geração da Arcádia, antecipa que por “muito que se procurem alternativas haverá sempre uma pequena parte desse aumento que terá que ser refletida nos consumidores”.
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