Pilotos querem que SATA “chumbe” venda da Azores Airlines a empresa com “lacunas reputacionais”
Líder do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil defende que administração da SATA dê um parecer negativo à privatização da Azores Airlines, considerando que o único candidato não tem credibilidade.
O presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), Tiago Faria Lopes, espera que a administração da SATA dê um parecer negativo à privatização da Azores Airlines ao consórcio da Newtour/MS Aviation, considerando que tem “lacunas reputacionais”.
O relatório final do concurso público internacional para privatização de entre 51% e 85% do capital da Azores Airlines, detida pela SATA, manteve como único candidato viável a Newtour/MS Aviation, mas o presidente do júri, o economista Augusto Mateus, exprimiu reservas em relação à “força financeira” do consórcio para cumprir as exigências do caderno de encargos da venda.
A MS Aviation, com sede na Áustria, é detida desde maio de 2023 pela Bestfly, uma companhia angolana fundada e dirigida por Nuno Pereira e Alcinda Pereira, segundo a informação disponibilizada no site, e que tem operações também em Cabo Verde.
Segundo a imprensa angolana e de Cabo Verde, dos acionistas da Bestfly, fundada em novembro de 2009, faz parte Augusto Tomás, ex-ministro dos Transportes, exonerado pelo Presidente João Lourenço e condenado por corrupção em 2019, entretanto libertado.
Também em Cabo Verde, a Bestfly chegou a ver suspenso o certificado de navegabilidade aérea de uma das suas aeronaves pela autoridade de aviação civil. Esta terça-feira, a agência Lusa noticiou que a Bestfly anunciou o abandono das operações no país, culpando o “ambiente de negócios tóxico e punitivo”, criticando a forma como foi tratada pelas autoridades.
Questões que levam o presidente do SPAC, cuja direção caiu há duas semanas, a considerar que o consórcio apurado no concurso público tem “lacunas reputacionais”, apelando por isso a que “a administração da SATA dê um parecer negativo” à operação.
A decisão final sobre a venda caberá ao Governo Regional, mas a administração da SATA deverá enviar até ao final do mês a sua própria avaliação sobre o processo. Recorde-se que a CEO da companhia aérea, Teresa Gonçalves, apresentou a demissão na sequência da entrega do relatório do júri, alegando “motivos pessoais”. Deixa o lugar a 30 de abril, em conjunto com o administrador financeiro.
Tiago Faria Lopes salienta que “a Azores Airlines está para os Açores como a TAP está para o país”, apontando que “cerca de 80% a 90% dos passageiros da SATA [que assegura o serviço público do transporte entre ilhas] vêm da Azores Airlines”. “Vamos estragar uma empresa com grande peso económico e importância para o arquipélago”, diz.
O Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA) e o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) também já se pronunciaram contra a venda à Newtour/MS Aviation, exigindo o cancelamento do concurso para privatização. “O concurso tem de ser anulado e substituído por outro com condições mais exigentes”, diz também Tiago Faria Lopes.
A privatização da maioria do capital da Azores Airlines é uma das exigências do plano de reestruturação acordado com a Comissão Europeia em junho de 2022, no âmbito da ajuda estatal de 453,25 milhões de euros, e tem de ser completada até ao final de 2025.
“Se não aparecerem candidatos viáveis não se pode vender. É preciso pedir mais tempo a Bruxelas para demonstrar que a companhia pode ser rentável”, defende o presidente do SPAC.
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