Ministra da Saúde diz que foi “mal-interpretada” na declaração que fez sobre lideranças fracas
Ana Paula Martins diz que foi "mal-interpretada" e que as suas palavras não se referiam aos administradores hospitalares, mas a toda a cadeia de liderança.
A ministra da Saúde disse esta terça-feira que foi mal-interpretada na declaração que fez sobre lideranças fracas na saúde, que levou à demissão do conselho de administração do Hospital de Viseu, alegando “quebra de confiança política”.
Na quarta-feira, Ana Paula Martins disse na Comissão de Saúde que há lideranças fracas. “Nós precisamos de ter à frente dos hospitais e à frente dos serviços lideranças que sejam mobilizadoras, que atraiam jovens profissionais. Nós não tratamos bem as pessoas na administração pública”.
Questionada esta manhã sobre estas declarações, durante o evento CNN Portugal Summit, disse que foi “mal-interpretada” e que as suas palavras não se referiam aos administradores hospitalares, mas a toda a cadeia de liderança.
“Aquilo que eu disse, assumo, foi algo bastante direto. Eventualmente podia não ter dito, talvez, Mas aquilo que fiz e aquilo que disse foi exatamente no sentido oposto do que foi interpretado. Naturalmente, terei de ser suficientemente humilde para perceber que não foi assim interpretado, mas foi exatamente o objetivo de, enquanto responsável da saúde, dizer que temos mesmo de ter atenção a quem escolhemos para liderar as nossas equipas”, esclareceu.
Questionada sobre a demissão do conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) de Viseu Dão-Lafões na sequência das suas declarações, Ana Paula Martins disse desconhecer as razões desta decisão, afirmando ter sentido que foi “uma reação natural”.
“Eu penso que quando uma administração se demite nós temos que respeitar”, disse, apontando que o pode fazer porque sente que não têm condições ou porque sente que não quer trabalhar eventualmente neste contexto.
Na conferência, sob o tema “Inovação na Saúde. Qual o problema da Inteligência Artificial”, a ministra disse ainda que há “uma absoluta necessidade” de garantir aos gestores que têm um programa de desenvolvimento que lhes permita ir adquirindo ao longo da vida “formação e competências de gestão adequadas ao século XXI, porque as coisas mudaram muito”.
A ministra exemplificou que os hospitais são obrigados a ter programas de desenvolvimento para os gestores, nomeadamente de administração intermédia, para os diretores de recursos humanos, para os diretores financeiros, mas a maior parte das vezes não conseguem “ter cabimento orçamental para que estas pessoas possam fazer formação” nas universidades de gestão.
Programa orçamental da saúde para 2024 já foi ultrapassado em 110 milhões
O crescimento estimado do programa orçamental da saúde para o ano inteiro já foi ultrapassado, neste momento, em 110 milhões de euros, calculou a ministra da Saúde. Segundo Ana Paula Martins, a avaliação foi feita há três dias pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e indica que a tendência não é de equilíbrio, mas ressalvou que “é preciso amadurecer os dados” e perceber como é que estão a evoluir as Unidades Locais de Saúde (ULS).
“Nós sabemos que existem, pelos dados que temos neste momento e temos que trabalhar com os conselhos de administração, unidades locais de saúde que estão a conseguir ter resultados de acordo com o seu programa operacional (…) que estão muito em linha com aquilo que estava estimado e também sabemos que há outras que estão eventualmente com mais dificuldades, eventualmente, porque o modelo de financiamento pode ter de ser ajustado”, afirmou na CNN Summit, em Lisboa.
Questionada se o aumento a que se tem assistido ao longo dos últimos oito anos do orçamento do Serviço Nacional de Saúde se vai manter, a ministra disse que “o crescimento da saúde é uma inevitabilidade”.
Ana Paula Martins apontou que nos sistemas de saúde considerados desenvolvidos, as expectativas dos cidadãos são cada vez maiores, há cada vez mais a inovação “que traz custos significativos”, mas também “traz resultados significativos”. Realçou também a rubrica de recursos humanos que tem “um crescimento bastante acentuado”.
A ministra considerou ainda que “Portugal tem feito últimos anos uma opção política pela saúde”, dedicando-lhe “uma verba que não é irrelevante”. “O crescimento que temos visto na saúde e aquilo que os governos, sobretudo depois do período de ajustamento, têm dedicado à saúde (…) é superior ao crescimento do PIB [Produto Interno Bruto], agora isto tem um limite. Acho que todos temos essa consciência”, referiu. Sobre qual é esse limite, Ana Paula Martins disse que não sabe qual é, mas “é um limite do ponto de vista conceptual e teórico”.
(Notícia atualizada às 14h45 com mais declarações da ministra)
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