Nova plataforma usa inteligência artificial para acelerar requalificação dos trabalhadores portugueses

Inteligência artificial apura fosso entre competências atuais dos candidatos e profissões a que aspiram no futuro, e sugere cursos mais adequados. Também ajuda a escolher melhores vagas de emprego.

Há uma nova plataforma em Portugal que usa inteligência artificial para, primeiro, indicar aos trabalhadores os cursos mais adequados às suas necessidades de requalificação e, depois, as vagas de emprego que melhor se encaixam nas suas novas competências, potenciando, assim, a empregabilidade dos portugueses. Chama-se New Career Network e foi criada no âmbito da iniciativa para a requalificação de talento promovida pela European Roundtable for Industry, organização que junta 60 das maiores empresas europeias, incluindo a portuguesa Sonae.

“Olhamos para a requalificação de forma abrangente. Na plataforma, temos cursos que se destinam a qualquer pessoa que queira requalificar-se“, começa por explicar ao ECO Marta Cunha, coordenadora da iniciativa no âmbito da qual foi agora criada a “New Career Network”.

Segundo explica a responsável, o objetivo é “ir ao encontro do percurso ideal de cada pessoa“, pelo que, antes de mais, o candidato tem de responder a um conjunto de perguntas ou disponibilizar o seu currículo, para que seja feita um diagnóstico das suas competências atuais.

Cumprido este passo, a fase seguinte é “definir a profissão futura que o candidato quer ter” e é, logo depois disso, que a inteligência artificial entra em palco, apurando, com base nos dados e expectativas disponibilizadas, o gap de competências e ajudando na escolha do curso mais adequados.

“A inteligência artificial dá sugestões ordenadas dos cursos que melhor ajudarão a resolver o gap de competências do candidato“, sublinha Marta Cunha.

Para já, estão disponíveis na plataforma cerca de 30 cursos de requalificação, em diferentes áreas, do digital à agricultura, passando pela indústria.

Há cursos em horário laboral e que, portanto, estão “mais talhados para quem esteja desempregado”, mas também há cursos em horário pós-laboral, que podem ser feitos também por quem tenha emprego.

“O público desempregado é naturalmente o que merece a nossa urgência. Mas todos nós vamos precisar de requalificação. O estigma de que a requalificação é só para alguma parte da população é algo que gostaríamos de desmistificar ao longo do tempo“, assinala a coordenadora.

De notar também que, nesta plataforma, há cursos gratuitos, como os da Escola 42 (que se focam mais em tecnologia, como explicou o fundador no podcast do ECO “Trinta e oito vírgula quatro”), mas também há cursos que “têm um determinado valor de mercado”, ou seja, são pagos.

Além disso, estão disponíveis também cursos que garantem uma bolsa ao formando. É o caso dos cursos do Pro_Mov, programa de requalificação também promovido European Roundtable for Industry, e que em Portugal tem como parceiro o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Aliás, Marta Cunha avança que, neste momento, estão a ser avaliados os demais cursos do IEFP (além dos que estão ligados ao Pro_Mov) para perceber se poderão ser adicionados à “New Career Network”.

Dos nossos estudos, a conclusão a que chegámos é que toda a gente sabe que a requalificação é muito importante, mas ainda não existe muita confiança nos sistemas de requalificação. O nosso objetivo é trazer confiança a todo o ecossistema.

Marta Cunha

Coordenadora da R4E

Ainda sobre os cursos que estão disponíveis, a responsável garante que houve uma curadoria séria – nomeadamente ao nível do potencial de empregabilidade e das horas de formação (o mínimo são 240 horas, mas a maioria ronda as 500 horas) – para trazer “maior confiança ao ecossistema“.

“Dos nossos estudos, a conclusão a que chegámos é que toda a gente sabe que a requalificação é muito importante, mas ainda não existe muita confiança nos sistemas de requalificação, porque existem muitos cursos e uns são melhores, enquanto outros são menos bons. O nosso objetivo é trazer confiança a todo o ecossistema de requalificação”, realça Marta Cunha.

IA também pode ajudar a encontrar o emprego certo

O receio inicial era o de que a inteligência artificial iria roubar empregos aos trabalhadores humanos. Mas, afinal, até pode servir o propósito inverso, isto é, pode ajudar os humanos a encontrar os empregos que melhor se adequam às suas competências e aspirações.

Em conversa com o ECO, Marta Cunha explica que é isso que esta tecnologia irá prestar a quem recorrer à plataforma “New Career Network”. “Quando o candidato acaba a requalificação, pode voltar à plataforma à procura de emprego. A inteligência artificial faz a ligação entre vagas de emprego e pessoas, através de um mapeamento das competências que as pessoas têm e que são precisas para cada oportunidade“, esclarece a responsável.

Portanto, o candidato, uma vez requalificado, consegue ver uma lista de oportunidades de emprego e o quão bem ou mal encaixam as suas competências em cada uma dessas vagas (a plataforma indica mesma a percentagem de adequação).

O mesmo acontece do lado das empresas: depois de publicitarem a vaga, têm acesso a uma lista de candidatos, cujo nível de competências vem já avaliado. “Facilita a análise dos currículos. Portanto, posso focar-me nas pessoas que têm maior coincidência de competências“, salienta a coordenadora.

A inteligência artificial faz a ligação entre vagas de emprego e pessoas, através de um mapeamento das competências que as pessoas têm e que são precisas para cada oportunidade.

Marta Cunha

Coordenadora da R4E

As empresas, ressalva, podem ter acesso a candidatos que estejam na plataforma, mas ainda não tenham feito qualquer curso, se assim quiserem. Mas o mais recomendado é terem em consideração aqueles que já cumpriram o seu percurso de requalificação, defende Marta Cunha. “O objetivo é apresentar às empresas pessoas que tenham passado pelo curso de requalificação“, afirma.

Neste momento, o número de vagas disponíveis na “New Career Network” é ainda residual (cerca de duas dezenas, de acordo com a responsável), uma vez que a plataforma foi lançada há menos de uma semana. Mas está a ser feito trabalho para haver “um ecossistema de empresas forte, que apresente um número muito elevado de vagas de emprego e que permita fazer esta ligação entre pessoal requalificadas e novas oportunidades“, assegura a mesma.

Além de empresas que publicitem diretamente as suas vagas, estão a ser estudadas parcerias com empresas de recrutamento. “Os primeiros contactos têm sido espetaculares, porque nos veem não como uma concorrente, mas uma plataforma que quer trabalhar em conjunto“, adianta Marta Cunha.

Para já, esta plataforma está disponível só em Portugal e em Espanha – uma vez que Paulo de Azevedo foi um dos grandes impulsionadores da iniciativa para a requalificação dos trabalhadores, no seio da European Roundtable for Industry, explica a já referida coordenadora –, mas o objetivo é, eventualmente, expandir para outros países europeus.

Por cá, foi o investimento realizado pela Sonae que permitiu a criação e desenvolvimento da plataforma, que na implementação em Espanha conta com a liderança da Fundación Telefónica, e a colaboração da SAP, da Iberdrola e da CEOE.

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