Maioria das empresas europeias ainda não pratica transparência salarial
Só 7% das organizações europeias têm estratégias implementadas que promovam a transparência salarial, número que fica bem abaixo do regime noutras regiões do planeta, como os Estados Unidos.
A maioria das empresas europeias ainda não tem implementadas estratégias que promovam a transparência salarial, mostra um novo relatório publicado esta quinta-feira pela Mercer. Ainda assim, o consultor especialista nesta matéria, João Pacheco, explica ao ECO que não há motivo para preocupação (pelo menos, para já), uma vez que os Estados-membros têm até ao final de 2026 para transpor para as leis nacionais a diretiva europeia que vem fixar regras para que os vencimentos sejam mais transparentes.
“Na Europa — excluindo o Reino Unido e a Irlanda –, apenas 7% das organizações já têm uma estratégia de transparência salarial implementada“, lê-se no “Pay transparency survey report 2024”, que tem por base as respostas de mais de mil empresas.
Confrontado com este número, o referido consultor da Mercer Portugal salienta que a diretiva europeia para a transparência salarial é recente, pelo que “é natural” que o número de empresas com políticas deste género seja reduzido. “Na verdade, é interessante que algumas organizações tenham já implementado estas estratégias“, argumenta o especialista.
João Pacheco sublinha ainda que, para muitas organizações, o que estará em falta, face ao que ficou previsto na diretiva, serão sobretudo políticas de comunicação destes dados salariais, sendo que, assinala o mesmo, “ainda não é absolutamente claro” o que constará nas leis nacionais.
Apesar de não ser motivo de preocupação, a fraca transparência salarial das empresas europeias contrasta com o que se regista noutras regiões do planeta, de acordo com o novo relatório da Mercer.
“A Europa está ainda atrás das outras regiões no que se refere à adoção de estratégias de transparência salarial, com os Estados Unidos da América a liderarem a jornada, com 19% das organizações a afirmarem já terem implementado um plano de ação”, é explicado. João Pacheco realça que vários estados federais desse país já têm regras que determinam mesmo a obrigatoriedade da transparência remuneratória.
A Europa está ainda atrás das outras regiões no que se refere à adoção de estratégias de transparência salarial, com os Estados Unidos da América a liderarem a jornada.
É de ressalvar que este novo relatório não traz dados especificamente sobre Portugal, mas o mencionado consultor salienta que o cenário registado por cá “deve estar muito alinhado” com o verificado no conjunto da Europa. “A nossa experiência é que já há empresas que estão a fazer caminho e a aplicar políticas” deste género, afirma o especialista.
Um estudo divulgado no final de junho também pela Mercer dava conta de que cerca de 40% das empresas portuguesas “não conhecem bem” as novas regras de transparência salarial, prevista na diretiva europeia. Na altura, João Pacheco disse ao ECO que tal significava que ainda havia “um caminho de consciencialização a fazer neste contexto, sobretudo por parte das entidades responsáveis pela transposição e implementação da diretiva no nosso país”.
“Há duas forças muito fortes” a puxar pela transparência salarial
Não é só a diretiva europeia que está a colocar na ordem do dia (e na agenda das empresas) a transparência salarial. As expectativas dos próprios trabalhadores estão a contribuir para isso, enfatiza a o consultor, que considera que existem “duas forças muito fortes” a puxar por ordenados mais transparentes.
Os dados recolhidos pela Mercer confirmam-no: quase sete em cada dez empregadores a nível mundial e quase seis em cada dez a nível europeu concordam que a transparência salarial é uma expectativa dos candidatos.
“Embora as organizações reconheçam as expectativas crescentes em torno da transparência salarial, existe ainda uma lacuna significativa na prontidão, com menos de um terço (32%) das empresas a afirmarem sentir-se preparadas para cumprir com os requisitos gerais de transparência“, frisa o novo relatório.
Na Europa, espera-se um aumento ainda mais significativo, com 43% das organizações a partilharem já bandas salariais para novas contratações e uma previsão de crescimento para 97% nos próximos dois anos.
Ainda assim, estima-se que a fatia de empresas que divulgam as bandas salariais para novas contratações subirá dos atuais 43% para 97% no prazo de dois anos, prazo que coincide com a transposição da diretiva europeia.
“A jornada rumo à transparência salarial é desafiante, mas também está repleta de oportunidades para aqueles que a abordarem de forma antecipada e eficaz. À medida que as empresas se esforçam para dar resposta à crescente demanda dos colaboradores por transparência têm a oportunidade única de transformar o que era visto como um esforço de conformidade numa vantagem competitiva”, sublinha João Pacheco.
Em Portugal, ainda não há sinal da transposição da referida diretiva, mas há vozes que defendem que o Governo deveria aproveitar a anunciada revisitação da lei do trabalho para o fazer.
Ao abrigo das regras da diretiva, as empresas que operam nos países da União Europeia vão passar a estar obrigadas a partilhar informações sobre os salários (interna e externamente) e a tomar medidas, se a disparidade remuneratória em função do género for superior a 5%. Além disso, está previsto que as vítimas de discriminação remuneratória passem a ter direito a indemnizações e que as empresas que fujam às regras paguem coimas.
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