Microeletrónica de Ílhavo avança nos Estados Unidos sem medo de Trump

Com vendas de 34 milhões e 60 trabalhadores, a PICadvanced abre escritório na Florida para garantir tecnologia “crucial” nos semicondutores e antecipa-se ao protecionismo do novo presidente americano.

Ao começar a sentir na pele o impacto das crescentes tensões geopolíticas na limitação da livre circulação de mercadorias, com incidência na “crucial” área dos semicondutores, a portuguesa PICadvanced decidiu abrir um escritório nos Estados Unidos “para poder continuar a operar de forma livre e conseguir ter acesso a tecnologias de outra forma interditas”, além de aproveitar o crescimento do negócio na maior economia do mundo, avança António Teixeira, sócio e fundador, ao ECO.

Especializada em soluções optoeletrónicas para o mercado das telecomunicações, com tecnologias que prometem maior utilização da largura de banda e ser mais eficientes energeticamente, a empresa de Ílhavo começou por instalar-se em Fort Lauderdale, no sul da Florida. Entretanto, face aos “investimentos fortíssimos” a ser feitos na Florida Central, alargou a presença a essa zona para estar integrada no chamado “photonics corridor” e ter acesso a pessoas e recursos especializados na área da fotónica e dos semicondutores.

Não vejo impedimentos de maior na estratégia que seguimos. Sinto apenas que fomos oportunos, pois já estamos implantados nos EUA e as políticas protecionistas já podem ter muito menos impacto.

António Teixeira

Fundador e CSTO da PICadvanced

Após a eleição de Donald Trump, o empresário diz não temer os impactos da mudança política que se avizinha do outro lado do Atlântico, com o regresso do republicano à Casa Branca. Antes pelo contrário. “Trump tem uma política muito agressiva no sentido do desenvolvimento das empresas e, recentemente, adicionou ainda mais ênfase ao tech. Este é o nosso foco, logo, não vejo impedimentos de maior na estratégia que seguimos, sentindo apenas que fomos oportunos, pois já estamos implantados nos Estados Unidos e as políticas protecionistas já podem ter muito menos impacto”, alega.

Sem quantificar o investimento nesta estrutura — “foi o suficiente para um período de lançamento de dois a três anos que esperamos [que chegue] para que esta empresa se torne autónoma em áreas específicas do ramo da fotónica integrada” —, António Teixeira refere que terá cinco pessoas em três anos. Além de “estabelecer as bases para a expansão”, também serve de “veículo de comunicação e tradução cultural entre a equipa de Portugal e a nova emergente equipa dos EUA”. Com esta aposta pretende “encontrar novas oportunidades de negócio e [aproximar-se] dos atuais clientes”, como é a gigante das telecomunicações Verizon.

Foi há dez anos que este professor catedrático da Universidade de Aveiro se juntou aos então estudantes Ana Tavares (membro do conselho de administração) e Francisco Rodrigues (atual CEO) para fundar esta empresa. Em conjunto, os três ainda detêm mais de 60% do capital. A HFA – Henrique, Fernando & Alves, de Águeda, foi o primeiro sócio institucional e, em 2020, entraram a americana Verizon Ventures e o Banco de Fomento através do fundo 200M, criado pelo governo de António Costa para apoiar operações de investimento de capital e quase capital em PME, em regime de coinvestimento com os privados.

Instalada no PCI – Creative Science Park, em Ílhavo, e beneficiando do ecossistema da incubadora da academia aveirense (IEUA), a PICadvanced faturou cerca de 34 milhões de euros em 2023 (e diz estar a crescer 20% este ano) e exporta diretamente 60% do volume total dos produtos e serviços para a Europa e para os EUA. Emprega cerca de 60 trabalhadores, dos quais 45 exclusivamente ligados à investigação e desenvolvimento (I&D), que produzem soluções optoeletrónicas para redes óticas passivas, isto é, transceivers para a casa do cliente e para o operador. Os clientes são maioritariamente operadores de telecomunicações ou system vendors.

Em paralelo com a entrada nos EUA, onde abriu este ano o primeiro escritório fora de Portugal, e já de olho também no mercado asiático com o objetivo de se afirmar como uma marca global na área da fotónica e microeletrónica, a empresa faz parte dos projetos europeus Flexscale e Proteus, e está envolvida na Agenda de Microeletrónica, financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Num consórcio com 17 entidades e liderado pela Amkor Technology, este projeto de investimento vai dotar a empresa de novas máquinas que irão permitir o encapsulamento e montagem avançada de chips fotónicos numa linha de produção automática.

Com ligação próxima a várias universidades portuguesas, com destaque para Aveiro, Porto e Lisboa, a PICadvanced acolhe ainda vários estudantes de mestrado e doutoramento nas áreas de física, ótica, telecomunicações, eletrónica e informática. Neste momento e ainda ao nível do recrutamento, descreve António Teixeira, que antes de fundar esta empresa trabalhou na Altice Labs e em empresas como a Nokia Siemens Networks, está também “em forte crescimento” nas áreas do desenho de eletrónica, testes e programação de baixo e alto nível, incluindo inteligência artificial para automação e controlo dos processos internos.

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