Só árabes têm “capacidade financeira” para investir na antiga refinaria da Galp, diz Luís Filipe Menezes
Para além da reconversão dos terrenos da antiga refinaria da Galp em Leça da Palmeira, negócios nas áreas da saúde, do turismo e do imobiliário também estão na mira da comitiva saudita.
“Só alguém com a capacidade financeira dos empresários árabes é que poderá investir na antiga refinaria de Leça, caso contrário nunca mais na nossa vida aquilo se resolverá”, diz o presidente da Câmara do Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa em declarações ao ECO, a propósito do interesse dos empresários em investir nos terrenos da antiga refinaria da Galp, em Matosinhos. Esta oportunidade foi sugerida por Luís Filipe Menezes, tendo em conta a “localização e o terreno com uma amplitude extraordinária”.
O líder da Câmara do Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa explica ao ECO que a “solução para aquele espaço só poderá advir de alguém com uma capacidade financeira superlativa, devido aos custos de desmantelamento dos equipamentos aliados aos problemas ambientais que teriam que ser contornados e resolvidos — o que significa investimentos enormes”.
Solução para aquele espaço só poderá advir de alguém com uma capacidade financeira superlativa devido aos custos de desmantelamento dos equipamentos aliado aos problemas ambientais que teriam que ser contornados e resolvidos.
O presidente do Conselho Empresarial Luso-Saudita, Alwalid Al-Baltan, deixou a garantia que, atualmente, “há uma grande oportunidade para os investidores sauditas e portugueses trabalharem juntos e construírem algo importante, de forma a ajudar os dois países“, de acordo com a informação partilhada no site da autarquia portuense, depois de Rui Moreira ter recebido o grupo de missão empresarial da Arábia Saudita nos Paços do Concelho, esta terça-feira, 14 de janeiro.
“Grupos de países como Arábia Saudita, Emirados [Árabes Unidos] ou o Qatar têm capacidade financeira para isso, mas depois precisam de dialogar com as autoridades portuguesas”, diz Luís Filipe Menezes, referindo-se ao Governo e à Câmara Municipal de Matosinhos.
Em declarações ao JN, a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, assegurou que vê “com agrado” todos os potenciais investimentos que possam vir a realizar-se em Matosinhos, nomeadamente naquela parcela de terreno, que considera “estruturante”. A autarca ressalvou, porém, que “compete à Galp avaliar os investimentos” e “à Câmara garantir o cumprimento das regras”. Já em 2023, a autarca disse ao mesmo jornal que a “eventual venda da refinaria de Matosinhos “terá de ser responsabilidade da Galp”. Contactada pelo ECO, a Galp optou por não fazer comentários sobre o interesse dos árabes nos terrenos da antiga refinaria da petrolífera.
O ex-presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia explica que “esta primeira visita serviu para os empresários conhecerem a realidade económica e empresarial do país”. Em maio, uma comitiva saudita regressará a Portugal com uma delegação composta por três ou quatro ministros e cerca de 100 empresários da Arábia Saudita.
Para além da reconversão dos terrenos da antiga refinaria da Galp em Leça da Palmeira, negócios nas áreas da saúde, do turismo e do imobiliário também estão na mira da comitiva saudita. Menezes avança ainda ao ECO que sugeriu aos empresários investir em “parcerias com empresas industriais do mobiliário, têxtil, calçado e energias alternativas”.
O encerramento da refinaria da Galp em Leça da Palmeira, em Matosinhos, foi anunciado a 21 de dezembro de 2020, quando a empresa decidiu concentrar as suas atividades de refinação no complexo de Sines. A iniciativa ditou o despedimento coletivo de 114 trabalhadores, de acordo com a Galp. A demolição arrancou em 2023 com duração prevista de dois anos e meio, com o desmantelamento a decorrer de acordo com a calendarização prevista, assegura a empresa.
No entanto, o plano para o futuro dos terrenos da ex-refinaria da Galp está atrasado mais de um ano e meio. O chamado “Masterplan” deveria ter sido divulgado em junho de 2023, mas ainda não foi apresentado, com a Galp a afirmar ao ECO/Capital Verde em janeiro do ano passado que “os moldes finais deste Masterplan” seriam “divulgados em tempo oportuno”, sem adiantar nova data.
Questionada novamente, esta semana, sobre a fase em que se encontra o Masterplan, a Galp remeteu para as informações que exibe no seu site. Nele lê-se que, em agosto de 2024, foi concluída “com sucesso” a primeira fase do desmantelamento, que consistiu na demolição de 26 depósitos de crude, “dentro do calendário e orçamento definidos”. De acordo com o site, a Galp e a Câmara Municipal de Matosinhos estão a colaborar para definir as bases do projeto de reconversão da área da antiga refinaria, fundamentais para o desenho de um Masterplan. Apontam para já para a constituição de um hub tecnológico, que abarque um polo universitário, num parque tecnológico e em centros empresariais.
Em fevereiro de 2022, na sequência do fecho da refinaria, a Galp, a Câmara de Matosinhos e CCDR-N assinaram um acordo para assegurar o “enquadramento jurídico e económico” do projeto de reconversão dos 237 hectares pelos quais se estendem os terrenos da refinaria. Nessa altura, falava-se de um Innovation District, o qual incluía comércio e serviços, hotelaria, restauração, indústria 4.0, habitação e equipamentos culturais e de lazer. O mesmo acordo previa a cedência de parcelas de terreno no perímetro da refinaria para a construção de um polo universitário. A autarquia defendia que ali se instalasse o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), ligado à Universidade do Porto.
O encerramento da refinaria de Matosinhos fez correr muita tinta, com o ex-ministro do ambiente, João Pedro Matos Fernandes: a acusar a Galp de ter tido “coração de pedra” no encerramento da refinaria.
Um mês depois da acusação do governante, o então CEO da Galp, Andy Brown, acabou por admitir, à margem da Web Summit, que o encerramento da refinaria de Matosinhos “podia ter sido gerido de melhor forma” pela empresa. Afirmou que “foi uma decisão difícil”, em que se perderam muitos empregos, mas, simultaneamente, frisou que o fecho era “inevitável” porque aquela “já não era uma refinaria viável” economicamente.
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