Alantra põe à venda posição na fabricante de peças automóveis MD Group
Desinvestimento da 'private equity' espanhola surge numa altura em que empresa portuguesa se prepara para concorrer às componentes do novo elétrico da Volkswagen. EY está a assessorar a operação.
A empresa portuguesa MD Group, que desenvolve componentes para o setor automóvel, está à procura de novos investidores. A gestora de ativos Alantra contratou a consultora EY para vender a posição maioritária de 70% que detém no grupo industrial de Leiria há oito anos. O desinvestimento da sociedade de private equity surge numa altura em que se prepara para concorrer à venda de peças para o novo elétrico da Volkswagen.
O empresário Manuel Domingues, que fundou a empresa há 36 anos, detém a restante participação de 30%. Contactado pelo ECO, o fundador (e presidente do conselho de administração) e também o CEO, Bruno Machado, confirmaram a notícia avançada pelo jornal El Confidencial e adiantaram que o processo ainda está numa fase inicial, de abordagem ao mercado, e sem calendário definido.
A Alantra está à procura de comprador para os 70% que tem na empresa que faz peças para marcas como Porsche, Bugatti ou Ferrari. “Os fundos têm a suas próprias dinâmica e maturidade, que é fazer esta revitalização ao longo do tempo. A maturidade chegou a um ponto em que a Alantra vê com bons olhos a passagem de testemunho para investidores industriais ou outros. Acaba por ser um processo normal, tendo em consideração a dinâmica dos fundos de investimento, que, tipicamente, entram nas empresas para as desenvolver e melhorar durante os cinco, sete ou oito anos”, diz Bruno Machado, CEO da MD Group, ao ECO.
A Alantra considera que, desde 2017, tem levado a cabo uma estratégia de criação de valor centrada em: fortalecimento da equipa de gestão e dos sistemas de governo societário (corporate governance), expansão da capacidade de produção com um investimento superior a 20 milhões de euros para construir uma unidade de produção de moldes mais avançada, desenvolver divisão de injeção de plástico (que agora representa mais de metade do negócio) e expandir para o mercado norte-americano.
No ano passado, o grupo MD – com as duas empresas de moldes e plásticos – teve um volume de negócios acumulado de 55 milhões de euros, o que representa uma subida de 12% em relação aos 49 milhões de euros registados em 2023. A projeção para 2025 é faturar 71 milhões de euros – dos quais 25% vindos do México – e o plano a quatro anos prevê uma faturação de 93 milhões de euros e que um terço do negócio se mantenha nos moldes.
Achamos que é uma empresa interessante para um investidor de qualquer região do mundo, como Europa, Ásia ou Américas, porque temos operações em Portugal, no México e no China. É um negócio de nicho diferente no setor automóvel, que hoje passa por uma fase de alguma turbulência”, afirma Bruno Machado.
Na visão do CEO, a MD é “um ativo interessante” por estar focada na iluminação interior e exterior dos automóveis, uma indústria em crescimento. “Para ter uma ideia, entre 2024 e 2028 espera-se um crescimento anual de 2,5%. Portanto, crescimentos completamente distintos do setor automóvel normal”, refere o CEO.
MD vai concorrer às peças do novo elétrico da Volkswagen feito em Palmela
A Volkswagen é um dos maiores clientes da MD Group, que produz peças para o T-Roc e ganhou o projeto para começar a produção seguinte do novo T-Roc. Ao ECO, o CEO avança que vai concorrer para o novo veículo elétrico da marca que será feito na fábrica da Autoeuropa, em Palmela.
“Vamos concorrer para o novo carro que a Autoeuropa acabou de concretizar, o ID.1. Normalmente, fazendo painel de fornecedores estratégicos da Volkswagen para um determinado tipo de produto, somos convidados a orçamentar determinados produtos. Há uma série de outros concorrentes que vão a competir e depois ganha a melhor proposta integrada (engenharia, técnicas e competitiva)”, conta Bruno Machado.
A internacionalização do grupo MD iniciou-se em 2023 com a entrada no México, onde tem um parceiro que produz as componentes com a sua engenharia e tecnologia. A nova onda de internacionalização está a ser avaliada pela gestão, contudo mantém-se em compasso de espera pelos próximos acionistas e o amainar da guerra comercial.
“Este ano de 2025 é de estabilização das operações no México para assegurar que os projetos são rentáveis e sustentáveis no tempo”, diz Bruno Machado ao ECO, acrescentando que o modelo de expansão poderá ser também através de parceria. Como? Por via de um manufacturing partner que fabrica os moldes no país onde está com os processos utilizados em Leiria.
“O futuro, agora dependente desta operação, será alargar este tipo de negócio a outras geografias, o que poderá passar pela Ásia ou Europa. Vamos projetar o próximo ciclo de investimento noutras regiões, incluindo em Portugal, mas depende um pouco dos desenvolvimentos desta turbulência [geopolítica]”, acrescenta.
Questionado sobre o impacto das tarifas dos Estados Unidos (EUA) ao México nesta secção, o CEO garante que o Grupo MD tem um plano de resposta que inclui mitigação de risco para os clientes e mercados alternativos, apesar dos contratos que assinam protegerem a MD de situações deste género.
“O que verificamos é que a cada dia que passa há uma alteração à decisão inicial dos EUA. As últimas informações públicas que temos é que, provavelmente, os EUA vão manter o acordo de 2016 naquela região sobretudo para o setor automóvel. Preferimos esperar para ver com planos de ação concretos na retaguarda. Como as coisas estão, tudo indica que a solução, em princípio, não serão os 25%, mas uma solução híbrida ou mais ligeira”, afirma o CEO da MD Group, sublinhando a “serenidade” até à tomada de decisão oficial.
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